Opinião

À venda num quiosque perto de si

Ir, pela manhã bem cedo, ao quiosque comprar o jornal como se de pão quente se tratasse. Ora aí está um hábito muito pouco comum nos dias de hoje. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, diz a sabedoria popular. Contudo, permitam-me reformular o provérbio: Mudam-se os tempos, mudam-se os hábitos.

O jornalismo atravessa uma crise que tem suscitado uma série de debates a fim de se encontrar uma solução milagrosa que já se percebeu que não existe. Qual troika, qual quê! Se se mudam os hábitos, como tudo nesta vida, a comunicação social tem que se adaptar aos novos comportamentos de consumo de informação da sociedade actual.

Uma pergunta: o que fazemos para estarmos informados? Basta termos uma ligação à Internet. À partida, é tão simples quanto isso. Seja no computador, seja no smartphone, basta estarmos ligados em rede para acedermos a toda e qualquer informação. Quem é que ainda se rege pelos horários dos telejornais (13h e 20h) para estar a par do que acontece no país e no mundo?

Voltando aos jornais. Regra geral, estes andam sempre com, pelo menos, um dia de atraso relativamente aos factos relatados. Os caracteres tipográficos cuidadosamente arrumados ao longo das colunas de cada uma das páginas contam histórias do passado. Utilizo a palavra “passado” propositadamente, dado que hoje vivemos no aqui e agora. O que aconteceu ontem já lá vai, é passado.

E o que leio hoje nas páginas do jornal já li ontem em vários websites, informativos ou não, poucos instantes após o facto ter ocorrido ou, em muitos casos, – cada vez mais – no preciso momento em que estão a acontecer, ou seja, em tempo real. Hoje em dia, temos acesso directo às fontes. Quantas notícias não são dadas em primeira mão em redes sociais como o Twitter?

O feed de notícias do Facebook ou os tweets de quem seguimos no Twitter, só para mencionar dois exemplos, são a nossa janela para o mundo. Basta um par de minutos para observarmos o que se está a partilhar e ficarmos a saber o que está a acontecer.

Mas há perigos. Sem o filtro dos jornalistas corremos o risco de tomar certos factos como garantidos. Portanto, apesar da crise do jornalismo, o jornalista ainda é capaz, e continuará a sê-lo, de dar o cunho de credibilidade à narração dos acontecimentos. Ainda assim, nos últimos tempos, temos presenciado cada vez mais situações de mau jornalismo. Mas essa discussão daria pano para mangas, como se costuma dizer.

Os gatekeepers acabam por ser todos aqueles que fazem parte da nossa rede de contactos. O que eles partilham acaba por definir aquilo que sabemos sobre o meio que nos rodeia. Aqui, uma vez mais, temos que ter o discernimento de filtrar a informação, no sentido de percebermos aquilo que é ou não relevante ou, até mesmo, o que é ou não verdadeiro.

Para terminar, deixo uma pergunta: O jornal ainda faz sentido? Claro que sim. Tal como qualquer outro meio, continuará a ter o seu devido lugar na vida de cada cidadão. Provavelmente, desempenhará outro papel que não aquele que desempenhou durante décadas. E já agora, continuará à venda no quiosque do bairro e logo pela manhã.

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