Editorias, Opinião

Acto aleatório de bondade

A primeira vez que entrei num café lisboeta sozinha foi desapontante. Ao agradecer ao empregado recebi um olhar muito estranho, como se eu tivesse dito algum palavrão ao empregado, como se não fosse normal ouvir um “obrigada”.

Depois, fui-me habituando e, mesmo sem resposta, continuei a dizer os meus “bom dia”, “por favor” e “obrigada”. Afinal, quem fica mal visto é quem não o diz. Já passaram uns anos e continuo a achar que Lisboa — e outros locais — precisavam de mais simpatia por parte dos seus habitantes.

Entrar num autocarro e dizer “bom dia” ao condutor pode parecer algo descabido porque não conhecemos o senhor de lado algum, mas, quando alguém entra num espaço onde nós estamos e não nos dirige a palavra, nós ficamos ressentidos. Por isso, por que não cumprimentar o condutor do autocarro?

Se calhar isto continua a soar descabido mas nós não sabemos o que se passa na vida das outras pessoas e, por vezes, um sorriso e um “bom dia” podem ser o melhor momento do dia de alguém. Há umas semanas, estava eu à espera do comboio num horário tardio, quando chegou uma mulher de quarenta e tal anos. Vinha cheia de sacos, parecia cansada e eu dei-lhe espaço para se sentar no banco onde eu estava. Sorri-lhe e ela sorriu e agradeceu.

Pode não ter sido, mas se aquele tiver sido o momento mais simpático do dia daquela senhora então eu contribuí para isso. Acho que nos falta mais isso: olhar mais para os outros. Não somos melhores pessoas só por dizermos “bom dia”, mas podemos melhorar o dia de alguém. E se o podemos fazer, por que não havemos de o fazer?

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