Cinema e Televisão

“Birdman”, um ensaio sobre as celebridades e os seus seguidores

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“Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” revela-se uma comédia dramática que segue Riggan Thomson (Michael Keaton), um actor famoso por ter interpretado um icónico super-herói no seu auge profissional, que agora reúne todos os esforços para edificar uma peça de teatro na tentativa de recuperar a fama e a glória que outrora teve. Nos dias antecedentes à estreia desta peça, protagonizada por Riggan, um dos protagonistas sofre um acidente e é rapidamente substituído pelo irreverente Mike Shiner (Edward Norton) que vai destabilizar os preparativos para a estreia da peça.

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Com esta síntese, “Birdman” pode cair no erro de se tornar uma narrativa simples, sem conseguir cativar o público, mas esta fita de Alejandro González Iñárritu é muito mais do que isso. Com uma realização moderna e sofisticada, Iñárritu consegue transformar os corredores do St. James Theater num autêntico labirinto, compondo a luta de Riggan contra o seu ego na tentativa de recuperar a sua carreira e fama.

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No entanto, esta narrativa dramática é pontuada por um argumento com uma forte componente cómica que envolve toda a estrutura dramática. Apesar de nos primeiros dez minutos do filme sentirmos um argumento completamente random, rapidamente percebemos que tudo faz sentido e que estamos perante um storytelling brilhante capaz de envolver o público entre o cómico e o drama.

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Quanto aos actores, Michael Keaton desenvolve aquele que talvez seja o seu melhor papel da última década, conseguindo possuir a ansiedade de ser adorado e respeitado como artista que domina a sua personagem oferecendo ao público uma interpretação humana e profunda. Edward Norton não lhe fica atrás, ao refrescar a sua presença no grande ecrã com uma interpretação autêntica e genuína de um actor egocêntrico que consegue roubar as atenções para si. Já Emma Stone, que interpreta a filha e assistente pessoal de Riggan, entrega honestidade e sinceridade à sua personagem, conseguindo estar ao nível dos seus protagonistas, principalmente com Keaton, onde ambos conseguem criar uma relação tensa mas ao mesmo tempo característica de pai e filha. Também Naomi Watts, que interpreta uma das actrizes da peça, não deixa de se destacar neste elenco rico em grandes nomes de Hollywood.

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Não deixa de ser curioso o facto de grande parte do elenco já ter representado em produções de super-heróis, começando pelo próprio Michael Keaton, que interpretou Batman em “Batman”, de 1989, e “Batman Regressa”, de 1992. Também Edward Norton interpretou o gigante verde em “Incrível Hulk”, de 2008, e Emma Stone deu vida ao par romântico do Homem-Aranha no recente “O Fantástico Homem-Aranha”, de 2012.

“Birdman” é, assim, um filme moderno que se opõe à catalogação de um género, configurando em si uma ligação entre a comédia e o drama e mesmo uma sequência de acção numa energia e emoção elegantes. Mas “Birdman” consegue, ainda mais, ser uma crítica, uma espécie de ensaio sobre a actualidade da arte, do entretenimento, da figura do actor e da figura de celebridade, mas, acima de tudo, dos seguidores destes.

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