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BLA. E fez-se luz.

Quantas lâmpadas tem a Escola Superior de Comunicação Social (ESCS)? A resposta – ou uma tentativa de – está no final. Independentemente do número, desde o passado dia 25 de fevereiro, uma nova lâmpada foi acesa. Porquê? Porque o André quis comer pizza.

O mundo gira em torno da comida. É ela que ilumina os estômagos e lhes dá a energia necessária para produzir ideias. Foi um alimento que espoletou a teoria da gravidade de Newton e talvez não tenha sido por acaso. Hoje, num mundo onde a fast-food prevalece, as maçãs dão lugar à massa fofa e tiras de bacon e pepperoni ligadas por fios quentes de queijo mozarela.

André Albuquerque, que está no último ano da licenciatura em Publicidade e Marketing, teve a ideia de criar uma júnior empresa no dia em que a Alemanha marcou sete golos ao Brasil, a 8 de julho de 2014. Era a festa de aniversário de uma amiga de infância e estavam a comer pizza. A relação entre as ideias e os alimentos é tal que, em pouco tempo, André e Carolina estavam na direção da ESCS com duas folhas A4 e um objetivo: criar uma agência de comunicação para os alunos.

Ele acabou como presidente da agência de comunicação da ESCS. Ela, como vice-presidente e «os pés na terra» de André. Sentiam a falta de um núcleo que refletisse os cursos de Publicidade e Marketing (PM) e Relações Públicas e Comunicação Empresarial (RPCE) e por isso puseram mãos à obra.

O projeto não acabou imediatamente bem. «Foi um desafio que demorou algum tempo a construir, mas que tem alguma maturidade já neste momento, embora ainda esteja no início», explica André Sendin, o vice-presidente da ESCS, que, porém, se disponibiliza para dar apoio à ideia: «é um incentivo grande vê-los viver estes momentos e tentar ajudar e tentar que construam [o projeto] de forma organizada e sedimentada».

A vontade de construir uma empresa foi também alimentada por contributos para lá da comida. Depois de falar com colegas de outras faculdades que participavam em projetos extracurriculares com a Jade – «não, não tem nada a ver com fotocópias», esclarece o presidente da agência escsiana –, André decidiu que queria pôr de pé uma coisa semelhante na ESCS. Júnior empresas são associações sem fins lucrativos sediadas em polos universitários e que têm como objetivo a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos nas aulas. A Jade, que não faz fotocópias, é a organização responsável pela gestão destas empresas.

Assim, nasceu a Bright Lisbon Agency, ou BLA, «a primeira júnior empresa especializada em comunicação no país», apresentada numa sessão que contou com alunos de várias faculdades e muitos escsianos ansiosos por descobrir como se muda uma lâmpada. Com uma direção descontraída a apresentar cada um dos departamentos da empresa – comercial, design e imagem, estratégico e recursos humanos –, o estilo da Bright anunciou-se logo desde o início.

Como acender uma lâmpada?
A preparação do evento começou semanas antes com um burburinho crescente nas redes sociais. Um evento e uma página prometiam ensinar os alunos da ESCS a mudar lâmpadas, bastando para isso aparecerem no auditório Vítor Macieira às 17:30 de uma quinta-feira.

Assim fizeram dezenas de alunos. Um quarto de hora depois da hora marcada, as portas do auditório eram finalmente abertas para os curiosos que queriam desvendar os mistérios das reparações de sistemas de iluminação – e, com sorte, comer umas pizzas.

Contudo, dentro do auditório, as luzes estavam todas apagadas. Todas exceto as de alguns candeeiros espalhados pelo palco. Totalizavam cerca de trinta lâmpadas, de todas as eficiências, formatos, potências e temperaturas de cor. No meio do labirinto de pontos de luz, sofás azuis compunham o cenário retro-iluminado pelo logótipo da BLA a ser projetado na parede.

Tornar as vidas dos estudantes em algo diferente é a proposta das Júnior Empresas. Davis Gouveia, ex-vice-presidente da Jade Portugal, a organização que gere todas as júnior empresas do país, deu mesmo uma lista de sete razões «para fazeres algo antes de estares preparado», porque é essa a ideia por trás de montar empresas nas faculdades: aprender experimentando. Davis foi um dos dois convidados pela BLA para a apresentação da empresa. Tiago Paula foi outro dos convidados. O presidente do ISCTE Junior Consulting aproveitou a oportunidade para explicar o conceito de júnior empresa e qual o apoio que deu ao André para construir a sua.

Os curiosos não eram apenas da ESCS. Joana Sobral, estudante de Gestão de Recursos Humanos no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP-UL), por exemplo, veio com os colegas até Benfica porque estão igualmente «a criar uma júnior [empresa]» no ISCSP e procuram no auditório Vítor Macieira «um primeiro contacto» com esse mundo.

Jorge Veríssimo foi o último a intervir na apresentação. O presidente da ESCS dizia estar «em desvantagem face à concorrência», já que não trazia nenhuma apresentação pomposa como os convidados que o antecederam. Mas também não importava, porque aquilo que vale realmente é o apoio que a escola dá aos seus alunos, apesar das dificuldades burocráticas de gerir um estabelecimento público. «Vestimos duas camisolas», diz Veríssimo, «por um lado é o espírito aventureiro de estar sempre disponíveis. Por outro, somos responsáveis por uma instituição pública que se rege por leis, decretos, despachos… que inibem projetos desta natureza».

Apesar disso, a escola apostou na ideia que não é completamente nova. «[A] escola, há nove anos, teve um projeto chamado ESCS4Market», explica o presidente da ESCS. Tratava-se de «uma cooperativa que tinha docentes e alunos», funcionando num formato semelhante ao da BLA, que tem um quadro consultivo que reúne 15 professores da escola.

A ESCS4Market, acrescenta Jorge Veríssimo em entrevista à Magazine, «foi um projeto em que muitas pessoas (…) acabaram por ter a sua primeira experiência de trabalho». Apesar de ter terminado, foi algo «muito enriquecedor» para a escola, fazendo por isso, diz o presidente, falta um projeto como a BLA.

Contudo, a nova empresa não serve apenas para pôr os alunos a trabalhar. «Se este projeto tiver sucesso e se conseguir implementar no mercado é a marca ESCS que está por trás. É também uma forma de divulgar a marca ESCS», reconhece o presidente da escola, que diz ter confiança nos alunos para tratarem bem do nome da ESCS.

Mais uma barraquinha no Arraial?
Mas será a Bright apenas mais um núcleo ou é algo mais? Para André Sendin, vice-presidente da ESCS, a BLA é «um pouco diferente dos outros núcleos». Enquanto projetos como a Magazine, o E2, a ESCS FM ou o nAV, por exemplo, são «claramente atividades extracurriculares», Sendin vê na Bright «um passo um bocadinho diferente». «Os núcleos ainda são académicos na sua essência, a Bright já é um compromisso entre as duas coisas (…). É a academia a abrir a porta ao profissional».

Jorge Veríssimo não aprofunda tanto e, para ele, «todos os projetos que envolvam os alunos e que lhes permitam desenvolver soft skills e outro tipo de competências para [a direção] têm o mesmo valor», variando apenas o tipo de apoio que é dado, já que uns precisam necessariamente de mais apoios e outros de menos. Mas, sem dúvida, para a direção da ESCS, «cada um à sua maneira, são projetos importantes para a integração dos estudantes e para o seu próprio desenvolvimento e afirmação pessoal», conclui o presidente, no foyer do piso -1, onde a pizza – que mais poderia ser? – oferecida pela nova agência de comunicação da escola gerava, quem sabe, novas ideias ou, pelo menos, mãos gordurosas.

Quantas lâmpadas tem a ESCS?
Com os acessórios de luminária a ocupar o papel de destaque nesta empresa, achámos necessário descobrir quantas lâmpadas tem a escola. Para isso, fomos perguntar a várias pessoas.

Jorge Veríssimo, presidente da ESCS: «Achas que eu sei quantas lâmpadas tem a ESCS? Umas centenas. Umas centenas largas! Não faço ideia, como é óbvio!». André Sendin, vice-presidente da ESCS: «Não sei responder. Tem milhares de lâmpadas! Não sei sequer se alguém alguma vez contou isso».

José Diogo Nunes, finalista de AM: «Não faço a mínima ideia, mas sei que não usamos metade delas. Porque acho que há uns anos a escola teve de cortar metade da energia que consumia e o que a direção decidiu foi apagar metade das luzes, portanto, metade das lâmpadas estão apagadas. E se tu reparares bem… Metade das lâmpadas estão apagadas».

Bright Lisbon Agency, agência de comunicação da ESCS: «26 lâmpadas».

Para não deixar nenhuma pergunta sem resposta, fomos olhar para o teto e tentar descobrir quantas lâmpadas tem a ESCS. Uma estimativa levou-nos a perto de 1208 lâmpadas (esta estimativa exclui os espaços de acesso restrito, áreas exteriores e zonas técnicas. Os cálculos foram feitos contando o número de lâmpadas numa sala aleatória, que multiplicámos pelo número de salas nos pisos 1 e 2, tendo esses valores sido aplicados à totalidade dos pisos do edifício. Contabilizámos ainda o número de lâmpadas numa casa de banho aleatória e num elevador – tendo os valores sido multiplicados pelo número de ocorrências destes espaços. Adicionámos ainda o número de lâmpadas do refeitório e dos corredores subterrâneos, tendo sido extrapolados os valores aproximados das áreas por metro quadrado para outras zonas do edifício, como a biblioteca ou os gabinetes dos professores. O número final não é absoluto, sendo meramente indicativo).

De facto, metade dessas lâmpadas está apagada. Porém, independentemente do número real de lâmpadas acesas e apagadas, desde o dia 25, há pelo menos mais uma a brilhar: a Bright Lisbon Agency.