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Cátia Matos: A Experiência de uma Ex-ESCSiana na LuxWOMAN

Cátia Matos e Liliana Marques têm em comum muito mais que o simples facto de terem passado pela Escola Superior de Comunicação Social. São jovens, apaixonadas por moda e beleza, interessam-se pelas áreas da comunicação e estão atualmente a trabalhar em duas das revistas femininas mais conhecidas em Portugal, a LuxWOMAN e a Vogue. Aceitaram dar esta entrevista à ESCS MAGAZINE para revelarem o outro lado deste campo específico do jornalismo e da comunicação, para desmistificarem tabus e revelarem alguns segredos, e, acima de tudo, para mostrarem como esta é uma área interessante, não apenas para mulheres, mas para quem quer que se interesse pelas mais variadas áreas culturais.

Esta é a entrevista a Cátia Matos, da LuxWOMAN.

2 - Cátia

Como é que resumes a tua experiência no curso que tiraste na ESCS, e os ensinamentos e bases que aproveitaste de lá para o que fazes atualmente?
Na ESCS dão-nos a teoria, mas é cá fora, no mercado de trabalho, que se aprende o que fazer. O curso tem uma componente prática mas que passa somente por aprender a funcionar com um determinado programa ou equipamento. Isso não chega, é preciso que alguém nos diga como é que as coisas funcionam realmente. Lembro-me de, no meu primeiro dia de trabalho, ter ficado espantada com a quantidade de e-mails que recebi no endereço de e-mail da redação. E-mails sobre tudo e mais alguma coisa, quase todos press releases das agências de comunicação. Nem eu sabia o que era um press release! Na ESCS não falam sobre a proximidade entre as agências e os meios de comunicação. Acho que esta é uma informação que devia chegar aos alunos de jornalismo. E como esta há outras a passarem despercebidas. O curso é uma base, uma semente. O essencial está lá, mas a aprendizagem não termina ali. Sou da opinião que as pessoas devem mesmo tentar trabalhar e ganhar alguma experiência na área para a qual se formaram, antes de avançarem para pós-graduações e mestrados. Há muitos ensinamentos que não aparecem nos manuais.

A LuxWOMAN é o teu primeiro posto de trabalho no jornalismo. Como é que foi o processo de entrares para lá?
Foi muito engraçado, na verdade. Soube da oportunidade através de uma colega que estava nesse momento a trabalhar na revista. Aconteceu tudo muito rápido, entre receber uma chamada telefónica e ir à entrevista. Fui com uma amiga minha e colega de turma, numa altura em que estávamos as duas completamente ocupadas com os trabalhos da faculdade. Na revista, estavam à procura de assistentes de moda e beleza, e tanto eu como ela ficámos com o lugar. Ela fez os primeiros três meses, e eu os seguintes.

4 - Cátia

Quando entraste para a revista, que trabalhos e tarefas começaram por te dar, e como é que foram evoluindo ao longo do tempo?
Logo na entrevista indicaram-me as tarefas que iria desempenhar, soube logo para o que ia. Na moda, apoiava a editora nas sessões fotográficas, ficando encarregada de marcar as entregas das roupas que iriam ser usadas nas produções, e posteriormente as devoluções das mesmas. O trabalho de produção começava no dia anterior: tinha de me certificar de que as roupas estavam em condições para serem fotografadas e, no dia da produção, tinha de transportar as roupas para os locais das sessões fotográficas, que nem sempre aconteciam em estúdio, vestir as manequins, tomar nota de todas as peças utilizadas, ajeitar uma ou outra peça de roupa que estivesse fora do lugar, etc. Cheguei também a fazer compras em showrooms (é onde vamos buscar as peças das produções, desde as roupas aos acessórios). Na beleza, o trabalho passava por apoiar a editora na legenda dos produtos. Estava sempre em contacto com as agências de comunicação, a quem pedia os preços, as imagens ou informações adicionais acerca de uma peça ou produto. O trabalho que fazia não era trabalho jornalístico. Felizmente, tiveram em conta a minha formação e deram-me a oportunidade de escrever alguns artigos para o site e para a revista. Mas isso foi possível porque eu também me cheguei à frente e propus várias ideias para artigos. Quando voltei à LuxWOMAN, alguns meses depois, integrei a equipa da redação. Comecei por escrever para a revista (e ainda escrevo), mas a minha função principal neste momento é escrever para o online.

Como é o típico dia numa redação de uma revista feminina, especificamente a LuxWOMAN?
O dia de trabalho passa a correr! Entro na redação antes das 10h e são raras as vezes que saio antes das 18h30. Há sempre qualquer coisa a mais para fazer, uma notícia para dar, um acontecimento de última hora… e o online não para! Ainda estou a aprender a gerir e a tirar o melhor proveito das horas laborais. Reservo as manhãs para escrever notícias e preparar artigos mais longos, e à tarde respondo aos e-mails e, se conseguir, preparo já alguns conteúdos para o dia seguinte. Há dias mais agitados, em que tenho apresentações de novos produtos e marcas ou uma entrevista marcada ou um almoço de trabalho num restaurante recém-inaugurado, e aí tenho de “ativar o turbo” e estar em várias ondas ao mesmo tempo. Também é frequente recebermos na redação ações promocionais. Por exemplo, se abre agora uma nova florista em Lisboa e a marca decide ir distribuir flores por algumas redações!

Diz-se que os jornalistas dos jornais diários, das rádios e das estações televisivas não têm horários muito estáveis nem muito fáceis. Isso também se aplica às revistas, em especial as femininas, ou o ritmo de trabalho no dia a dia é mais brando?
Não se trata de ser uma revista feminina, trata-se de ser uma revista mensal. O ritmo de trabalho é completamente diferente do de um jornal diário e até de uma revista semanal. Trabalhamos os temas com quase dois meses de antecedência. Em outubro, por exemplo, já estamos a pensar na edição de Natal. Não há aquela pressão diária da hora de fecho do jornal nem a pressão dos diretos, mas ainda há pressão, porque as revistas mensais também têm fechos e prazos para cumprir. O ritmo de trabalho também depende das alturas do ano. Setembro é geralmente um mês muito preenchido.

Qual foi a experiência mais interessante por que passaste, até agora, na LuxWOMAN?
Lembro-me muitas vezes da minha primeira viagem de trabalho, ao Porto, para cobrir a primeira edição da Comic Con em Portugal e entrevistar os atores da série Da Vinci’s Demons. Estava nervosíssima, primeiro porque não conhecia os outros jornalistas e depois porque não sabia como era estar fora da redação, em trabalho. A verdade é que a viagem acabou por correr super bem. Também não me esqueço de quando vi o meu primeiro artigo ser publicado na revista. Fiquei radiante, emocionada e muito grata por ter tido a oportunidade de escrever um artigo para uma publicação nacional!

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Como é que encaras o facto de muitas pessoas julgarem que as revistas femininas não são realmente jornalismo, uma vez que não tratam de temas “sérios”?
É um erro comum as pessoas associarem as revistas femininas somente a moda e beleza. As revistas femininas são um todo e incluem também artigos sobre saúde, sociedade, comportamento, etc. Os novos tratamentos no campo da infertilidade, os crimes de violência no feminino, o empreendedorismo social de mulheres para mulheres, a desigualdade salarial entre os homens e as mulheres, não são todos temas sérios? Na moda, fala-se sobre a produção maciça de roupa, a chamada fast-fashion, que tem um impacto brutal no meio ambiente. Não é um tema sério? As revistas femininas não falam só de sapatos e batons!

Qual é, para ti, a melhor vantagem das revistas femininas, e a melhor parte de trabalhar numa delas?
A melhor vantagem é sermos as vozes das mulheres. Ainda que haja uns quantos homens no seio das revistas femininas, este segmento é quase todo feito por mulheres. Essa é a melhor parte: somos mulheres que escrevem para mulheres sobre temas que interessam e importam às mulheres.

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