Capital

“Chapéus há muitos…” e para todos os gostos

Dos chapéus aos bonés e das luvas aos suspensórios. Se não quer ficar sem, a Chapelaria Azevedo Rua tem.

Situada no número 72 da Praça Dom Pedro IV em pleno Rossio, esta chapelaria já conta com cento e trinta anos de existência. Foi fundada em 1886 pelo Sr. Manuel de Aquino Azevedo Rua, tal como nos conta o seu trineto Pedro Fonseca, atual proprietário da loja. Manuel Azevedo Rua era um produtor de vinho do Porto que após uma má colheita decidiu abrir esta chapelaria, que marca as já várias gerações que por aqui passam.

“Porquê Lisboa?” ou “Porquê chapéus?” são as perguntas que poderá estar a fazer, mas a essas só o Sr. Azevedo Rua lhe poderia responder. No entanto, Pedro conta-nos que uma possível resposta a estas questões é o facto de naquela altura o chapéu ser parte fundamental da indumentária dos homens, sendo principalmente usado nas grandes cidades, uma vez que no campo se optava pelos bonés.

Se naquela época o chapéu para senhor era o mais procurado, atualmente a história é outra. A verdade é que a chapelaria Azevedo Rua se foi adaptando às exigências que o tempo foi impondo e, a partir do final dos anos 80 e início dos anos 90, aqui passou a vender-se, também, luvas, suspensórios e uma outra grande novidade: chapéus para senhora. “O que acontecia antigamente, por volta de 1900, era que os chapéus de senhora eram confecionados nas modistas”, conta-nos Pedro. Esta prática caiu em desuso e atualmente todas as mulheres poderão vir aqui encontrar aquele chapéu que tanto procuram.

Neste espaço, cada chapéu não é apenas mais um chapéu, mas uma autêntica obra de arte. Numa altura em que este tipo de comércio é incapaz de combater os baixos preços praticados nas grandes superfícies comerciais, a chapelaria Azevedo Rua distingue-se pela qualidade dos produtos que vende. Segundo Pedro, trabalham com as melhores marcas e com os melhores fornecedores, que vendem em Lisboa exclusivamente para esta loja, pelo que quem deseja adquirir um destes artigos terá obrigatoriamente de se deslocar até aqui.

Não só de clientes de uma faixa etária mais avançada, cujos pais e avós já aqui compravam, se enche a loja. Teresa, funcionária da chapelaria há oito anos, confidencia-nos que os jovens estão cada vez mais a aderir ao chapéu e ao boné, embora o turismo represente uma grande fatia da clientela, visto que a chapelaria se encontra nos roteiros turísticos da cidade.

Porém, apesar dos preços aqui praticados, justificados pela qualidade do produto, não só pessoas com poder de compra para tal ousam ou sonham ter um chapéu desta típica loja lisboeta. Teresa partilhou connosco uma história que a marcou bastante e da qual jamais se irá esquecer sobre um sem-abrigo que sonhava ter um chapéu. “Andou muito tempo a olhar para a montra a ver os chapéus, até que um dia resolveu entrar. Ele queria muito ter um chapéu, mas como não tinha dinheiro para o poder comprar veio saber se lhe podíamos guardar um, e todo o dinheirinho que lhe dessem ele vinha cá abater ao valor do chapéu”. O sonho concretizou-se, e ao final de três semanas o senhor já tinha conseguido todo o dinheiro para comprar o seu chapéu.

Esta é apenas uma entre muitas das histórias que estas paredes escondem. Contudo, muitas mais irão conhecer. Ao contrário da maioria das típicas lojas que têm vindo a fechar, devido a diversas razões, essa hipótese nunca aqui esteve em cima da mesa. “Nós temos uma situação financeira estável. Não temos empréstimos e o material que entra praticamente é logo pago”, afirma Pedro Fonseca.

Por isso, se ainda não conhece a Chapelaria Azevedo Rua, do que está à espera para a visitar? As opiniões podem ser diversas, mas uma coisa é certa: esta loja é mesmo de se lhe tirar o chapéu!