Opinião

Conversas de xelindró

Na passada sexta-feira, dia 2 de fevereiro, um homem tentou agredir o antigo médico da seleção de ginástica dos Estados Unidos e antigo osteopata da Universidade de Michigan State, Larry Nassar, que foi condenado a 175 anos de prisão por abusos sexuais a, pelo menos, 250 raparigas, incluindo algumas atletas olímpicas, como, por exemplo, Simone Biles, considerada aos 20 anos como uma das melhores ginastas de sempre. O agressor e, diga-se de passagem, bom samaritano é Randall Margraves, pai de três filhas. Todas foram vítimas do médico. Durante uma audiência, Margraves pediu à juíza, aparentemente em tom de brincadeira, para lhe dar cinco minutos com Nassar como parte da sentença. Quando viu o seu pedido rejeitado, pediu apenas um minuto. Foi rejeitado outra vez. De certa maneira, Margraves sabia que, obviamente, a juiza não o ia deixar. Era apenas uma diversão. “Então, vou ter de fazê-lo”, intercalou com a sua respiração, antes de investir contra o médico, sentado e merecidamente perturbado. Foi imediatamente imobilizado por vários seguranças. Já calmo e presente perante a juíza, pediu desculpa e foi perdoado, num momento de bom senso por parte da magistrada.

Como ela foi capaz de fazer, este tipo de comportamento é compreensível. Um pedófilo à solta é perturbador, especialmente para um pai cujas filhas foram abusadas. No entanto, Nassar já não vai estar à solta. Acabou. O próprio sabe disso. Nunca mais vai ver a luz do dia. A justiça foi feita, apesar de ter chegado tarde demais. Da mesma maneira, há que ser inteligente: para quê arriscar uma pena de prisão por um momento de impulsividade (especialmente quando se trata de um pedófilo)? Mas há sempre aquele desejo de retribuição, e aquele sentimento de que um julgamento em tribunal não é suficiente, especialmente vindo de um homem comum, nomeadamente um homem de família, como Randall Margraves. Há um impulso animalesco de querer retribuir toda a humilhação e sofrimento que alguém causa à nossa pessoa ou a alguém de quem gostamos. Mesmo que haja quem mereça, não vale a pena. No entanto, há sempre a pena de morte. Há quem diga que é desumano. Desumano é aquilo que muitos fazem, e que não pagam devidamente por isso. Quem fosse demente o suficiente para fazer mal a alguém só porque sim (por prazer) devia ser exterminado, especialmente serial killers e pedófilos. Poupa-se dinheiro com as prisões e temos menos escória a ocupar espaço e oxigénio. Mas para haver pena de morte há que haver um sistema judicial quase irrepreensível e à prova de erro, uma cultura de acompanhamento psicológico constante, e recuperação de prisioneiros, para que possam voltar à vida normal quando cumprirem a pena. No entanto, quando se trata de pessoas com distúrbios consideráveis, essa tarefa é quase impossível, e também não é do interesse de toda a gente acompanhar doentes mentais e criminosos violentos.

Algo que facilitaria a tarefa seria o reconhecimento por parte de pedófilos e semelhantes de que têm um problema, e que, fruto disso, podem prejudicar a vida de outras pessoas. No entanto, isso é bastante improvável de acontecer, e até que haja provas irrefutáveis desse distúrbio, ou seja, até que algo de muito mau aconteça, é um pouco imprudente tomar qualquer ação. Quando começam a ser acompanhados, há que perceber se é mesmo possível recuperá-los ou não. Se não for possível, ou prendam-nos para sempre ou executem-nos, dependendo do nível de demência e de remorso (se é baixo ou alto), e tendo em conta a falsidade. Castrem os pedófilos, cortem as mãos aos serial killers, façam aquilo que quiserem. Mais vale prevenir do que remediar. Uma vida já arruinada não pode arruinar muitas ainda a florescer. Com um sistema judicial funcional, não haverá necessidade de justiceiros arruinarem as suas vidas só porque x maluco não foi para a jaula. Se é ético ou moral não sei. Para mim, é justo.