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Entrevista: O Novo Mundo dos Youthless

Depois de um EP e pelo menos dois singles lançados, Alex Klimovitsky e Sebastiano Ferranti lançam-se agora no mundo dos registos de longa duração com This Glorious No Age. Editado no passado dia 7 de Março, este é um álbum que, para além de contar com a colaboração de vários artistas portugueses e o produtor Chris Common, nos traz um lado mais elaborado e consistente dos Youthless.

Já com dois singles lançados, o disco é apresentado ao vivo já amanhã, dia 11 de Março, no Musicbox (Lisboa). A ESCS MAGAZINE fez questão de conversar com eles para te deixar a par deste novo trabalho.

O que é que vos trouxe a Portugal?
Alex Klimovitsky: Eu viajei de país em país com a minha mãe. Nasci em Nova Iorque, mas depois aos onze anos fui para Espanha e entretanto vim para Portugal. A minha mãe voltou para Nova Iorque, mas eu já tinha começado uma vida aqui e já tinha começado a tocar com o Sebastiano [Ferranti]. Adorei Portugal, então fiquei. Ainda voltei para Nova Iorque e estudei nos Estados Unidos, mas sempre mantive um pé aqui.
Sebastiano Ferranti: Os meus pais vieram nos anos 70 para cá. Eu nasci cá, em Portugal, mas cresci num ambiente de ingleses, então não tinha muito a influência de portugueses. Andei em escolas internacionais e, eventualmente, fui viver para Inglaterra alguns anos, mas voltei depois dos estudos.

Como é que começou este projecto?
SB: Começou como uma brincadeira, em 2009.
AK: Eu queria aprender a tocar bateria e o Sebastiano queria experimentar tocar baixo de uma maneira diferente, então começou a usar vários amplificadores e efeitos.
SB: Tentei tocar Black Sabath, mas não resultou. (risos)
AK: Sim, ao princípio era mesmo brincadeira. Eu queria mesmo aprender a tocar bateria, ele vai buscar um som com o baixo maior e brutal e tocámos só covers dos Black Sabath. Tocamos duas músicas de Black Sabath e logo no primeiro ensaio criámos quatro temas originais. Então a partir daí as músicas continuaram a surgir e pensámos: “Ok, isto é divertido, vamos continuar”.

Vocês acabaram de lançar o vosso álbum de estreia, This Glorious No Age. Como construíram a temática para este novo trabalho?
AK: Ás vezes trazemos coisas feitas em casa, mas, normalmente, todas as nossas músicas surgem de improvisos que fazemos. O Sebastiano tenta encontrar um som de baixo divertido e eu sigo na bateria e com a voz. Então, este álbum surgiu de um jam de 40 minutos, que fizemos e de onde saiu meio álbum. Depois vem a parte conceptual: comecei a construir esta história da viagem de um mundo antigo para um mundo novo. Andava a ler muito Marshall McLuhan na altura e estava muito interessado nesta ideia de ver o que está a acontecer globalmente, policamente, economicamente, ecologicamente…

É fácil construir um álbum que una o pessoal e o universal?
AK:
Eu acho que funciona super bem. No primeiro EP, a história era muito pessoal; era uma história que eu queria contar e o Sebastiano foi muito gentil em ajudar-me com isso. Ele deu-me os materiais para que eu falasse da minha relação com o meu pai e essa era a parte subjetiva. Encontrámos uma maneira objetiva de falar disso, depois, através de uma história inventada baseada nos primeiros quatro poemas da Odisseia. Agora foi ao contrário: começámos de uma estrutura objetiva, nesta viagem de um mundo pré-elétrico, mecânico, físico, para um mundo abstrato, efémero e digital, e depois por coincidências da vida surgiu o subjetivo. Eu tive uma lesão, o Sebastiano teve uma filha, eu voltei para os Estados Unidos durante algum tempo… O que estava a acontecer connosco encaixava super bem nesta estrutura de deixar um mundo antigo e partir para um rumo incerto.

Este é um álbum que conta com várias colaborações. Para além de trabalharem um com ou outro, como foi incluir outros artistas neste álbum?
SB: Foi bom, foi entre amigos que já conheciamos e que convidámos para vir participar e encher o som com teclados, percussões e vozes.
AK: São artistas de quem já somos fãs e adoramos o trabalho deles. Foi uma grande riqueza e acho que acrescentou muito.

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Vocês dividem o vosso trabalho entre Portugal e Inglaterra. É fácil dividir as atenções entre dois países?
SB:
Sim, para nós é fácil. É mais entre eles… (risos) Entre as editoras. É uma questão de timings, que às vezes não batem certo, mas há truques para contorná-los.
AK: E, obviamente, há muita coisa que, não vivendo num país, não podemos fazer. Se vivêssemos em Inglaterra, as coisas seriam mais casuais. A mesma coisa com Portugal. Como eu ainda passo metade do ano em Nova Iorque, acho que foi por isso que o álbum demorou tanto tempo. Para além da lesão nas costas, eu estava sempre nos Estados Unidos e o Sebastiano estava cá. Então o tempo que trabalhávamos juntos, às vezes, era muito pouco.

Acham que o futuro dos Youthless continua a passar por Portugal?
AK:
Portugal é sempre uma casa, de certa forma. Para o Sebastiano acho que é muito mais, claro, porque ele mora cá e tem família cá. Eu tenho bichos estranhos em mim, que me fazem correr de um sítio para o outro. É complicado, porque a minha vida está muito partida. Muito da minha vida ainda está lá [nos Estados Unidos], então para mim é mais complicado, mas estou a tentar resolver isso.

Ainda que o futuro seja incerto, This Glorious No Age, ambicioso no seu conceito, abre caminho para uma nova era dos Youthless. Estreiam-se agora no formato LP, mas ninguém diria que é a primeira vez que o fazem. Dezassete faixas depois, resta-nos pensar: de que mais serão eles capazes?

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