Desporto

Guia do Basquetebol Nacional: NBA vs Europa e Liga Portuguesa de Basquetebol

Falar de basquetebol é, para muitas pessoas, falar de NBA. Como se esta, a modalidade mais bonita de todas, fosse circunscrita geograficamente aos Estados Unidos. Existirá basquetebol “a sério” na Europa? E em Portugal? Há mais do que os rapazes das escolinhas a bater umas bolas depois das aulas ou do que os craques com jerseys do LeBron James a fazer uns lançamentos sábado à tarde no street court lá do bairro? Uma Liga a sério, com espetáculo, bons atletas e competição; com jogadores que já passaram pela NBA, com equipas que nos fazem sair do sofá num fim-de-semana para ir apoiar para a bancada de um pavilhão?

Historicamente, o basquetebol é indissociável dos Estados Unidos da América. Foi lá que foi criado, em 1891, por James Nasmit e é lá que, ainda hoje, mais dinheiro e massas movimenta, mais destaque tem na comunicação social e mais atletas existem. No entanto, o basquetebol na Europa é também de grande nível.

Embora a modalidade seja a mesma, há diferenças entre as regras que vigoram na NBA e as que regem as partidas do basquetebol europeu. A título de exemplo, na NBA uma partida tem 48 minutos de tempo útil, enquanto que nas competições da FIBA cada partida dura 40 minutos. Na NBA, um atleta pode fazer 6 faltas até ser excluído; já na Europa, pode fazer 5. Há também muitas diferenças no que toca ao estilo de jogo, tanto coletivo como individual.

O jogo praticado nos Estados-Unidos tem uma base muito mais física e individual, sendo visto quase como um “espetáculo”. E é, efetivamente, espetacular, quer seja em relação aos afundanços, aos estrondosos desarmes de lançamentos ou até às capacidades atléticas inigualáveis dos praticantes. Fisicamente, um atleta norte-americano é, em regra geral, superior a um atleta europeu.

No entanto, olhando para as grandes ligas europeias (como a Euroleague, a Liga ACB, a Liga VTB, entre outras) distingue-se claramente a vertente tática do jogo. As jogadas são muito mais trabalhadas e complexas, exigindo-se e privilegiando-se o QI ao invés da capacidade atlética. As defesas não são “permeáveis”, de forma a permitir mais um highlight ou um posterize por parte do oponente, nem se cingem os 24 segundos a um pick and rol ou à preparação de uma isolation. Há mais cérebro do que músculo em campo. Os postes têm uma formação muito mais focada a nível de trabalho de pés, visão de jogo e lançamento à tabela de curta e média distância do que os “monstros” do outro lado do atlântico. Os grandes bases europeus são extremamente inteligentes e fazem magia com a bola, veja-se o exemplo de Milos Teodosic e os seus passes formidáveis.

Aconselho a visualização dos jogos da Euroleague, a “Liga dos Campeões” do basquetebol europeu: autênticos manuais de tática e de coletivismo.

Fonte: Euroleague. Olympic Sports Center Athens

E é, desta forma, que chegamos ao basquetebol em Portugal, um desporto que no nosso país tem vindo a perder importância e o número de praticantes. Chegou a ser o segundo maior desporto (atrás do inevitável futebol), mas acabou por ser ultrapassado pelo andebol e pelo voleibol. Contudo, nos últimos anos a aposta no basquetebol nacional tem sido feita em crescendo e a corrente época de 2018/19 não será exceção. O passo mais importante para a “reconquista” do território perdido foi o anúncio do retorno das transmissões televisivas à televisão pública, mais propriamente à RTP2, somando assim às que já se faziam no Porto Canal e na BenficaTV. É de ressalvar o esforço que a Federação Portuguesa de Basquetebol tem efetuado para transmitir também outras partidas na FPB TV (canal online).

E, então, qual é a principal liga de basquetebol em Portugal e quem por lá anda? O escalão máximo é a Liga Portuguesa de Basquetebol, onde habitam os crónicos candidatos ao título SL Benfica e FC Porto e a equipa campeã em título, UD Oliveirense. Esta fez uma época soberba e surpreendente em 2017/18, arrecadando assim este título histórico.

Fonte: Terra Nova. Oliveirense campeã 2017/18

A formação de Oliveira de Azeméis mostrou durante toda a última temporada ser uma efetiva candidata a vencer a Liga Portuguesa de Basquetebol. Conseguiu um equilíbrio entre um cinco inicial forte, num nível similar ao dos dois “grandes”, e um banco bem composto, com uma rotação que lhes permitiu imprimir uma agressividade defensiva constante. Muito bem comandada por Norberto Alves, um dos melhores treinadores portugueses. A equipa conseguiu contar com um grupo composto por norte-americanos de inegável qualidade (à cabeça, Travante Williams e James Elissor) e por alguns dos melhores jogadores portugueses (dos quais se destacam o base José Barbosa e o extremo-poste Arnett Hallman, que se transferiu para o SL Benfica). Estes complementaram-se da melhor forma. Para o lugar de Hallman, entrou Marko Loncovic. Para o lugar do poste Quintroll Thomas, que deixou a equipa, entrou o belga Thomas De Thaey, de 2,03m, um jogador muito completo – com bom lançamento exterior, forte fisicamente, muito aguerrido e que promete ser uma das referências da Oliveirense para a defesa do título. Mantendo o seu núcleo duro, esta equipa coloca-se como um dos candidatos à conquista do campeonato em 2018/19. Já venceu a Supertaça, frente ao Illiabum, num jogo que foi um hino ao basquetebol nacional.

Do lado do FC Porto, olhando para o cinco inicial da época passada, saíram Will Hanley e o inconstante Marcus Gilbert e entraram Boris Barac e Toni Prostran, base croata especialista nas assistências e com grande visão de jogo. Mantiveram-se Sasa Borovnjak, poste sérvio muito ágil e forte tecnicamente debaixo do cesto, e o extremo norte-americano Will Sheehey, contratado na última temporada após ter vencido a NBA D-League (liga de desenvolvimento de jogadores, uma espécie de “Liga das Equipas B da NBA”), ao serviço dos Raptors 905 (equipa afiliada aos Toronto Raptors). Com um jumpshot incrível este é, a meu ver, o melhor jogador da formação do Porto – quando está saudável, no entanto, tem sido fustigado por lesões.

Analisando agora a equipa do SL Benfica, há dois destaques: Arturo Álvarez e Micah Downs. O primeiro é o novo treinador da equipa encarnada, substituto de José Ricardo. O segundo é aquele que para mim será o melhor jogador da Liga Portuguesa de Basquetebol nesta época, um extremo fantástico, atlético, match-winner, norte-americano mas já com muita rodagem europeia e que, com a dose de irreverência e loucura que caracterizam os grandes génios, fará certamente levantar muitos pavilhões por este país fora.

Fonte: Record. Micah Downs, ao serviço do SL Benfica

Contrataram também, entre outros jogadores, Alex Suárez (extremo-poste espanhol e que se tem perfilado como um bom jogador nas primeiras jornadas da Liga), o base Quentin Snider (que, vindo diretamente do college, parece ainda não se ter habituado ao basquetebol profissional), o poste espanhol Xavi Rey (que se encontra lesionado mas que, em forma, traz muito boas referências) e o base português Miguel Maria (quanto a mim, um importante reforço para a posição 1 após a magnífica época que fez no Vitória SC).

A histórica Ovarense e o Vitória SC colocam-se neste início de época como as equipas capazes de causar mais dificuldades aos três grandes candidatos, seguidos pelo SC Lusitânia, Illiabum, Esgueira e CAB Madeira. Completam o lote de participantes o Terceira Basket, o Galitos e o Imortal.

Numa fase ainda muito precoce da competição (encontra-se na Terceira jornada), é difícil fazer grandes apreciações relativamente às reais valias destas equipas, já que a maior parte dos jogadores contratados são desconhecidos para a maioria dos adeptos e alguns dos norte-americanos vindos diretamente dos colleges requerem algum tempo de adaptação.

Seguiremos aqui, na ESCS Magazine, o decorrer da Liga Portuguesa de Basquetebol. Saia de casa no fim-de-semana, desloque-se para o pavilhão mais perto de si e apoie a sua equipa local. Divirta-se, apaixone-se por esta modalidade e contribua para a sua evolução!

 

 

Artigo corrigido por Sara Tomé