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LEFFEST: “Cães”, de Bogdan Mirica

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Depois de se iniciar no cinema em 2011 com “Bora Bora”, o realizador romeno Bogdan Mirica traz ao Lisbon & Estorial Film Festival a sua primeira longa-metragem, “Cães”, que conquistou o prémio Un Certain Regard no Festival de Cinema de Cannes.

O filme, influenciado pela infância do realizador numa zona rural na Roménia, retrata a história de Roman, um homem de meia-idade que herda do seu avô algumas terras numa das áreas fronteiriças perto do rio Danúbio. Com a herança material, Roman herda também alguns dos problemas que assolam a zona, no que diz respeito às atividades do seu avô e daqueles que trabalhavam para ele.

“Se até as pessoas mordem, acha que os cães não o fazem?” – a pergunta é feita a Roman por outra personagem, um dos antigos trabalhadores de seu avô e, ainda que no início do filme a pergunta nos pareça estranha, facilmente obtemos a justificação quando somos enquadrados com as situações que Roman enfrenta.

Não podemos considerar o argumento desta longa-metragem como sendo complexo, mas “Cães” funciona exatamente porque conjuga entre si as simplicidades de cada característica que o compõe. Os primeiros dez minutos são uma experiência meramente visual e auditiva onde toda a fotografia parece ter sido pensada minuciosamente – os planos centrados (que são uma constante) e os sons da natureza como fundo, introduzem a atmosfera em que o filme se baseia.

Não sabemos como é que se diz “Este País Não É Para Velhos” em romeno, mas a influência da obra dos irmãos Cohen no filme de estreia de Bogdan Mirica é inegável – a começar pelo humor subtil, que é suficiente para soltar pequenos risos na sala de cinema, passando pelo ar caricato de algumas personagens e acabando nos planos prolongados de paisagens. Já na última meia-hora, podemos assumir que Mirica é fã de Quentin Tarantino – o fator surpresa aliado à forte representação gráfica de violência revela isso mesmo.

Os atores podem não ter participado em nenhum blockbuster, mas facilmente ficam na memória pela sua representação forte e crua, num filme onde o tema é a moral e os valores humanos.

“Cães” é por isso uma obra que merece destaque na competição do Lisbon & Estoril Film Festival, quer seja pela sua exímia composição técnica ou apenas pela experiência que proporciona – são cada vez mais raros os filmes que constroem uma narrativa envolvente que termine com o inesperado e é precisamente isso que esta longa-metragem consegue concretizar em pleno.