Cinema e Televisão, Editorias

LEFFEST – La fille inconnue

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Os irmãos belgas Dardenne, Jean-Pierre e Luc, voltam a produzir uma obra cinematográfica, desta vez a intitulada La Fille Inconnue. Lançada a 5 de novembro de 2016 na Bélgica, teve a sua exibição no cinema português através do Lisbon & Estoril Film Festival ‘16, no dia 9 de novembro (Cinema Medeia Monumental, no Saldanha) e no dia 11 de novembro (Casino Estoril).

Fazendo jus ao título do filme, o drama desenrola-se a partir do aparecimento do corpo sem vida de uma «rapariga desconhecida» junto ao rio Mosa. Do lado oposto ao local do crime encontra-se o consultório de uma jovem médica, Jenny Davin, interpretada notavelmente pela atriz Adèle Haenel, na qual a ação se centra.

Após uma breve apresentação da vida da protagonista, Davin encontra-se no seu consultório com Julien, um interno que falha em ajudá-la a socorrer uma criança aquando uma crise convulsiva, quando subitamente o som da campainha se faz soar fora de horas.

Esta hesitação é alvo de reprimenda: Jenny adverte-o para não se subjugar às suas emoções de modo a evitar situações semelhantes. Neste contexto, e por forma a ensinar uma lição a Julien, a Dr. Davin não permite ao seu aprendiz abrir a porta uma vez que já passava do horário de fecho.

Quando, no dia seguinte, um polícia bate à porta do seu consultório e lhe mostra uma fotografia da vítima, é Jenny que se sente vacilante, dominada pelo sentimento de culpa. Começa então por cooperar com as entidades policiais para tentar descobrir qual é a identidade desta rapariga a quem recusou auxílio, prosseguindo mais tarde com as suas próprias investigações.

Assolada pela incógnita, Davin demarca o tom obsessivo da sua procura por informações. É nesta busca que o filme nos dá a conhecer uma realidade repleta de questões relacionadas com a imigração, com a prostituição, com o conflito moral, entre outras. A normalidade presente na abordagem destes assuntos e no decorrer dos eventos do dia a dia provoca uma sensação de pertença no(a)  observador(a) ávido(a) e sedento(a) de conforto e de respostas. Este apelo à espiritualidade e à sensibilidade da plateia não é em vão, e o espetador não o ignora.

Porém, é um filme que, inicialmente, pode deixar o público com mixed feelings: apesar de ser bem-sucedido em captar a atenção do público, o longo buildup que é construído em torno da ação parece não ter um “ponto culminante”, o que pode prejudicar o seu desenlace ao ficar um pouco aquém.

Por outro lado, através de uma perspetiva já distanciada pelo tempo, ao ponderar novamente acerca do filme, é possível analisar o desfecho de forma contrária. O que era considerado um ponto negativo pode ser visto como uma bela forma de terminar uma obra: o jeito abrupto com que a vida continua, pois tem de continuar, choca mas também consola.