Literatura

Livros Censurados em Portugal

A Censura não é algo do Estado Novo e tão-pouco deixou de existir depois do Estado Novo… pelo menos no que a determinadas entidades diz respeito. Já Camões teve de submeter Os Lusíadas ao Santo Ofício, da Inquisição, em 1572. O expoente dos livros censurados aconteceu no Estado Novo em que tudo o que era livro que poderia, de alguma forma, ir contra as ideias do Estado era proibido mas não se ficou por aí. A Opus Dei — instituição da Igreja Católica — tem uma lista de 33 573 livros proibidos, divididos em vários níveis de gravidade, nos quais se encontram 79 livros no nível considerado “mais grave”. A ESCS MAGAZINE foi descobrir que livros eram proibidos pela Censura do Estado Novo e que livros tanto incomodam a Opus Dei.                   

Numa época em que a liberdade de expressão é algo recorrente parece impossível que exista algo que seja proibido mas, na verdade, sempre existiram temas-tabu na sociedade: fosse por regimes políticos, religião ou em termos de sexualidade, vários autores viram os seus trabalhos rejeitados, adulterados ou mesmo proibidos. As listas eram extensas e alguns autores ficavam de tal forma marcados que acabavam por tentar publicar usando pseudónimos.

 

A Censura do Estado Novo

O regime de Salazar e, posteriormente, de Marcello Caetano era conhecido pelo Lápis Azul. Tudo aquilo que era publicado em jornais, revistas, livros e mesmo filmes, novelas, música ou programas de rádio passava pela Censura, que tratava de aprovar ou não o conteúdo. Além da aprovação, a Censura corrigia aquilo que achava errado, riscava o que não podia ser dito e controlava ao máximo aquilo que vinha a público.

Uma pesquisa desenvolvida pelo investigador José Brandão conseguiu contabilizar 900 livros proibidos, de 1933 a 1974. A grande maioria dos livros proibidos tinha uma grande carga filosófico-política, estando Karl Marx, Jean Paul Sartre, Mário Soares, Lenine, Martin Luther King e Francisco Sá Carneiro entre os autores cujas obras acabaram proibidas pelo regime. Além destes, os livros de Mao Tsé-Tung estavam também proibidos, assim como algumas obras de Nietzsche. Entre os autores portugueses com mais obras proibidas encontram-se José Vilhena, autor de Branca de Neve e os 700 anões e de O Beijo, Urbano Tavares Rodrigues, que escreveu Esta Estranha Lisboa e Imitação da Felicidade, e também o cantor e compositor José Afonso, que viu várias das suas músicas mas também livros seus serem proibidos.

Da lista da Censura faziam parte também outros títulos, como Bichos, de Miguel Torga; Capitães da Areia, de Jorge Amado; História Universal da Infâmia, de Jorge Luís Borges; e Portugal sem Salazar, do professor Mário Mesquita.

Livros censurados

40 anos depois e ainda há livros proibidos

O fim do Estado Novo acabou por, de certa forma, salvar os livros que tinham sido proibidos ao longo dos quarenta anos de regime. Hoje, mais de quarenta anos depois, o Estado não tem uma lista de obras censuradas mas não é isso que impede a existência de uma lista. A Opus Dei, uma organização da Igreja Católica, tem no Índex (do latim Index Librorum Prohibitorum, ou seja, Índice dos Livros Proibidos) a sua lista de livros proibidos.

Fomos ver os 79 livros proibidos que fazem parte dos dois níveis mais graves e encontrámos vários autores com várias das suas obras censuradas. O Prémio Nobel da Literatura, José Saramago, tem doze títulos nesta lista de livros proibidos, estando Caim, Evangelho Segundo Jesus Cristo, Manual de Pintura e Caligrafia e Memorial do Convento no nível considerado mais grave. A Viagem do Elefante, O Ano da Morte de Ricardo Reis e Ensaio Sobre A Cegueira são outros dos doze livros de Saramago proibidos.

Também A Relíquia, O Crime do Padre Amaro e O Primo Basílio, de Eça de Queirós, fazem parte dos livros considerados mais graves pela Opus Dei. Os Maias e Uma Campanha Alegre fazem também parte da lista. Lídia Jorge (com A Costa dos Murmúrios e O Dia dos Prodígios), José Cardoso Pires, Virgílio Ferreira (e o clássico A Aparição), António Lobo Antunes, Fernando Pessoa, Camilo Castelo Branco são outros dos nomes mais conhecidos da lista.

 

A lista da Opus Dei é actualizada sempre que necessário, com novos títulos. Pode parecer descabido, principalmente tendo em conta que ainda no início deste ano ouvimos várias vozes defender a liberdade de expressão, mas quando nos deparamos com mais de 33 mil livros proibidos por uma associação católica percebemos que a liberdade de expressão não inclui, nestes casos, aquilo que não agrada à Igreja Católica.

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