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O ano em que a vontade popular moveu o mundo

Desde há muito tempo que não se via um ano onde as pessoas comuns conseguiram mudar tanto o mundo. É sem dúvida a maior das provas de que juntos somos mais fortes. Referendos, eleições históricas que vão marcar os próximos anos, manifestações, migrações em busca de uma vida melhor, e no final uma certeza: o mundo está diferente daquilo que víamos em Setembro do ano passado.

O mundo moveu-se em torno da Escócia, da Catalunha e de toda a Espanha no geral, de Baltimore, Paris, Itália, Síria, Grécia e da Irlanda. Todos estes locais foram verdadeiros centros de decisão e de mudança este ano. Por Portugal, vivemos o primeiro ano fora do plano de assistência financeira da Troika e atravessámos um ano em clima de pré-campanha. Apesar de ter sido um ano intenso no nosso país, vou focar a minha revista do ano “lá fora”.

Comecemos pela Escócia e pela Catalunha. A Escócia disse “não”, com 55% dos votos a rejeitarem a separação do Reino Unido. Um referendo histórico promovido pelo governo do último. No final, apesar de teoricamente ficar tudo na mesma, a Escócia garantiu novas regalias e Alex Salmond, primeiro-ministro escocês e defensor do “sim”, foi um vencedor apesar da derrota no referendo. Vitória confirmada nos resultados do Partido Nacional Escocês nas Eleições Gerais de 2015 no Reino Unido, o partido mais votado da Escócia e que acabou por ficar com quase todos os acentos da região no parlamento nacional. Na Catalunha o referendo não foi vinculativo mas o resultado foi expressivo. Para os Catalães, a Catalunha deve ser um estado independente.

No mundo da política, uma referência à situação na Espanha e na Grécia. Os movimentos alternativos cresceram e ganharam terreno face aos partidos “tradicionais”. A extrema-esquerda ganha na Grécia, com o Syriza a prometer o fim da austeridade e, em Espanha, Podemos e Ciudadanos ameaçam quebrar com o bipartidarismo espanhol, que se divide entre os socialistas do PSOE e os populares do PP.
Nos Estados Unidos chegaram de Baltimor imagens que parecem ter sido tiradas de um qualquer arquivo. O ódio racial voltou a ser assunto do dia num país multi-cultural, marcando anos e anos de escravidão e mais recentemente por fluxos migratórios bastante elevados, que buscam o chamado “Sonho Americano”. Os vídeos das brutais actuações policiais abriram noticiários um pouco por todo o mundo, causando uma ferida no seio da América.

Itália também está no centro do mundo: a cidade de Milão recebe este ano a EXPO, mas não é só isso que é noticia. Todos os dias, centenas de refugiados atravessam o Mar Mediterrânio em barcos de borracha apinhados. Procuram uma vida melhor e fogem da guerra e da fome. Atravessamos uma verdadeira crise humanitária, ainda sem resolução à vista.

Fomos Charlie, contra aqueles que queriam calar a liberdade. Saímos à rua. Unimo-nos por aqueles que, através da força de uma caneta, movem o mundo. Na Irlanda refrendou-se o casamento homossexual e, com uma elevada participação popular, o “sim” ganhou. Um grande passo na quebra do preconceito num país de tradição católica e mais uma mensagem que transmite a vontade de renovação de que a igreja necessita.

Imune a tudo isto continua uma rádio onde a Troika não é notícia, onde não há dias de chuva ou de vento. Como disse André Príncipe em entrevista ao Público sobre a sua mais recente exposição de fotografia denominada Antena 2: “A Antena 2 pareceu-me uma espécie de último reduto. Era inabalável, continua a passar as mesmas coisas, músicas de há 300 anos. Pareceu-me que personificava a última trincheira de uma luta. E pensei que também me queria alistar. E há também a experiência de ter ouvido esta rádio no país todo. Não é uma coisa lisboeta. Está no ar, invisível, partículas de Antena 2 por todo lado, está entre as coisas.”

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