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Que jornalismo é este?

Ao contrário de alguns dos meus colegas, eu não quis ser jornalista desde pequena. Em todo o meu percurso escolar, sempre tive maior inclinação para as letras, para a história, para a sociologia, mas o jornalismo não foi uma escolha imediata.

Estou no final do 2.º ano do curso de Jornalismo e ainda não sou jornalista. Quero ser. Descobri que gosto de contar as histórias daqueles que não têm normalmente capacidade de se fazer ouvir. Descobri que perco o sono em noite de eleições, sejam nacionais ou não. Descobri que me perco a ler grandes reportagens da mesma forma que me perco a ler um bom livro. Por isso, acredito que o meu futuro passa por ser jornalista.

“O jornalismo já viu melhores dias”, é o que oiço desde que entrei neste curso. As grandes histórias perderam lugar para o infotainment e os mais novos têm que trabalhar o dobro para alcançar um lugar em qualquer órgão de comunicação social. Como nunca quis ser jornalista, nunca prestei demasiada atenção ao jornalismo. Lia notícias e via telejornais, como qualquer outra pessoa. No primeiro ano do curso de Jornalismo, surgiram as primeiras contradições.

A nós, estudantes de jornalismo, ensinam-nos que temos de ser eticamente corretos, que temos de ser objetivos e factuais, que a informação não tem partido ou clube. E depois lemos as notícias publicadas e os factos são mascarados e a ética parece um conceito demasiado abstrato. A informação é produzida sob uma “política de cliques”, os títulos são enganosos e em alguns casos faz-se aquilo a que costumo chamar de “jornalismo do vale-tudo”. Não foi isto que aprendi.

Eu quero ser jornalista, mas o estado do jornalismo desilude-me. O que aprendi no meu curso não é aplicado na imprensa atual. E ninguém aceita críticas. Um dos melhores professores que já tive nestes dois anos de licenciatura disse-nos na primeira aula de rádio que o nosso colega do lado era o nosso melhor amigo, porque são os nossos colegas que podem ler o que escrevemos e fazer críticas e sugestões que podem enaltecer os nossos textos. Se podemos crescer com a ajuda dos outros, por que é que no jornalismo a crítica é vista como um ato de guerra?

Há muito bom jornalismo feito em Portugal e fora dele. Gosto de ser otimista e pensar que a maioria dos jornalistas não vai pelo caminho mais fácil e mantém-se fiel aos princípios da profissão. Mas há alguns que não o fazem. E são esses que, muitas vezes, estão na linha da frente. O jornalismo tem má reputação, basta abrir qualquer caixa de comentários na notícia de um jornal. E isso entristece-me. E revolta-me, porque sei que não tem de ser assim.

Acredito que a minha geração tem a formação necessária para mudar o jornalismo que se faz hoje em dia. Mas será que há lugar para nós?