Cinema e Televisão

SUPER-HERÓIS: Uma fuga da realidade ou uma fuga para a realidade que vemos no ecrã?

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Recentemente, Hollywood tem dado grande destaque aos super-heróis, produzindo um variado número de filmes, bem como de séries sobre estas icónicas figuras.

No entanto, terão estas produções alguma relação com a actualidade mundial? Os ataques em Gaza, as acusações dos EUA à Rússia por participar directamente nos combates no Leste da Ucrânia ou a crise financeira e social estão directamente ligadas com o grande número de produções recentes de Super-Heróis em Hollywood.

Vejamos: a situação do mundo quando os primeiros Super-Heróis apareceram, ainda em livros de Banda-Desenhada, não era muito diferente da actual. Durante o período da Grande Depressão Americana, onde o poder de compra caíra, o desemprego aumentara e milhares de bancos e fábricas faliam, havia autores que, perante este clima, inspiravam-se com grande fé na justiça social, influenciando assim os seus trabalhos. Jerry Siegel e Joe Shuster, ambos filhos de imigrantes judeus, foram os pais de um dos mais reconhecidos Super-Heróis: o Super-Homem.

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A primeira versão de Super-Homem foi criada em 1933, na qual este era um vilão que utilizava os seus super-poderes para fazer o mal. Contudo, não teve grande êxito comercial. Mais tarde, os autores repensaram a narrativa de forma a transformarem a personagem num herói e, a partir desta renovação, enviaram as suas ideias para várias editoras. No entanto, todas foram recusadas pelas mais conceituadas editoras de comics. Só passado uma década é que “Superman” passou a ser produzido massivamente.

Em 1937, o número de publicações de livros de banda-desenhada cresceu, existindo mais de 20 títulos diferentes. Enquanto a América renascia sob a gestão da New Deal do presidente Roosevelt, que veio a criar várias barragens, estradas, nacionalizou o serviço de correios e restabeleceu a economia do país, crescia um clima de instabilidade na Europa e na Ásia. Os japoneses lutavam e ganhavam frente à China, enquanto Hitler planeava tomar controlo da Europa.

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Batman foi criado em 1939, por Bob Kane e Bill Finger e é considerado como um dos super-heróis mais humanos e carismáticos de sempre. Curiosamente, é um dos raros super-heróis que não possui qualquer super-poder. Batman foi criado com influências de Zorro, pois um dos seus criadores era fã do mascarado. Tal como Bruce Wayne, Zorro tinha uma vida dupla: de dia era um aristocrata oriundo de uma das famílias mais ricas do México; à noite convertia-se num vigilante escondido pela sua máscara. Também ele saía de uma gruta existente debaixo da sua casa montado num cavalo e assim surgiram as ideias da Batcave e do Batmobile. Outra das influências foi um livro de Leonardo Da Vinci onde este escrevera “o teu pássaro terá como modelo um morcego”, surgindo assim a ligação entre o mamífero voador e Batman num livro escrito há mais de 500 anos.

Batman é considerado como o lado negro, oposto à luz de Super-Homem, o yin sombrio e o yang luminoso do Homem de Aço. Na verdade, a concepção de Batman surgiu como reacção ao êxito de Super-Homem.

Entre 1931 e 1939, os autoritarismos totalitários consolidaram-se na Europa e na Ásia. Entretanto, na América, os autores de banda desenhada estavam preocupados com os jovens leitores americanos; deviam estar cientes dos perigos do nazismo e fascismo. Em 1940, a 2ª Guerra Mundial estava no auge. Um ano depois do ataque a Pearl Harbor por parte dos japoneses, em 1941, os EUA a viram-se obrigados a repensar a sua neutralidade. Este era o clima vivido no mundo real, pois nas páginas da banda desenhada, a América acabara de entrar na guerra através do Capitão América.

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O Capitão América foi criado por Joe Simon e Jack Kirby, sendo concebido no auge de um fervor patriótico e sendo a personificação pura do sonho americano a combater o inimigo nazi. Este super-herói foi criado em função de um tempo que necessitava de figuras nobres e que reavivasse o patriotismo do povo americano. As cores da bandeira americana no seu uniforme reflectem esse patriotismo, enquanto que a cota de malha e o escudo o transformavam num cruzado moderno.

Sendo uma evidente materialização do sonho americano, numa época de grande agitação, o sucesso do Capitão América foi grandioso, não só pelo carisma da personagem mas também pela escolha dos vilões, como Hitler. Contudo, com o final da guerra, a popularidade do super-herói decresce até ser cancelado.

A supremacia dos EUA no mundo capitalista, nos anos que se seguiram à 2ª Guerra Mundial, também se evidenciou no campo cultural e é no início da década de 60 que os livros de banda desenhada e, consequentemente, os super-heróis voltariam a ser tendência. A era Marvel arrancou em 1961 com “The Fantastic Four” e mais tarde com “The Incredible Hulk”. Contudo, o autor Stan Lee procurava criar uma personagem totalmente diferente das que já haviam sido criadas. Seria um super-herói adolescente, um rapaz vulgar, com problemas reais e a origem dos seus super-poderes seria as aranhas. E assim surgia o Homem-Aranha.

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Grandes poderes acarretam grandes responsabilidades” é o lema deste super-herói, criado por Stan Lee e Steve Ditko em 1962. As histórias do Homem-Aranha ofereciam aos leitores um herói com quem se podiam identificar, já que ele era alguém que, apesar dos seus incríveis poderes, tinha os mesmos problemas do que eles. Mais de 50 anos depois da criação, o Homem-Aranha continua a ser o mais popular super-herói da Marvel. Essa popularidade foi reforçada com a trilogia de filmes de Sam Raimi, a partir de 2002, com Tobbey Maguire a interpretar Homem-Aranha e, mais recentemente, “The Amazing Spider-Man” 1 e 2, de Marc Webb, com Andrew Garfiel como protagonista.

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Entretanto, na década de 60, o sector audiovisual ganhava enormes progressos técnicos, impulsionados por preocupações capitalistas, mas também pela busca incessante de novas formas de ocupação dos tempos livres de uma sociedade com um elevado poder de compra. Estes progressos técnicos conferiram aos estúdios de Hollywood a hegemonia sobre a produção cinematográfica mundial e a consequente afirmação dos padrões culturais norte-americanos.

No entanto, vivia-se em plena Guerra Fria, onde a corrida pelo desenvolvimento tecnológico e científico ao serviço do sector militar e a corrida ao domínio do espaço extraterrestre continuava a dominar as preocupações dos governos americanos e soviético, estando as relações internacionais condicionadas pelo terror nuclear.

Durante este período um dos mais marcantes super-heróis de sempre estreia-se no grande ecrã: “Super-Homem”, lançado em 1978, alcança, desde logo, um sucesso estrondoso e aclamadas críticas, abrindo portas a duas sequelas.

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Numa cena do filme “Kill Bill Vol. 2”, Quentin Tarantino desenvolve uma teoria interessante sobre aquilo que torna o Super-Homem único e diferente de todos os restantes super-heróis. Essa teoria consiste na questão do alter-ego ou a identidade secreta como sendo uma parte importante da mitologia dos super-heróis, tornando a personagem do Super-Homem mais fascinante. Ao contrário de Batman ou do Homem-Aranha que, quando acordam são, respectivamente, Bruce Wayne e Peter Parker e, só depois de vestirem o fato, se transformam em Batman e Homem-Aranha, o Super-Homem é diferente e único, pois ele não se transforma em Super-Homem.

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Desta forma, percebemos que os grandes super-heróis foram criados quer na forma original, em banda desenhada, quer em adaptações ao grande ecrã, em momentos cruciais de conflitos e dificuldades ao longo do século XX. Agora os estúdios de Hollywood e as cadeias de televisão americanas vêem na actualidade mundial uma procura constante por formas de entretenimento por parte dos espectadores que ofereçam soluções para os problemas vividos no quotidiano, recorrendo assim aos universos fantásticos dos super-heróis que resolvem crimes, conflitos e problemas idênticos àqueles que vivemos no dia-a-dia, existindo assim uma transferência da realidade actual para a narrativa fantástica destes heróis.

O espectador gosta de acreditar que há uma entidade, picada por uma aranha ou extraterrestre, com super-poderes, capaz de manter a paz mundial e impor a justiça social de forma equitativa e igualitária.

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No que diz respeito às séries televisivas, as cadeias de televisão norte-americanas apostam fortemente em novas narrativas de super-heróis nesta temporada. No entanto, casos de sucesso como “Arrow” ou “Agents of SHIELD” são renovadas, permanecendo assim no pequeno ecrã

Flash
A série vai retratar a vida de Barry Allen, ou simplesmente Barry, um jovem farmacêutico-bioquímico bastante respeitado e com uma enorme habilidade para desvendar crimes inexplicáveis e misteriosos, que vai ser convidado pela polícia norte-americana para trabalhar como médico legista. (Trailer)

Gotham
Gotham” irá trazer uma perspectiva única à história de Batman, explorando as origens dos vilões e vigilantes. A série promete dar-nos a perceber como é que estas pessoas se transformam nestas personagens lendárias ao mesmo tempo que percebemos o porquê. (Trailer)

Agent Carter
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Agent Carter” será um spinoff de “Capitão América”. A série vai passar-se em 1946 e centra-se na história de Peggy Carter. A série mostra Peggy a tentar equilibrar o seu trabalho administrativo com missões secretas ao mesmo tempo que enfrenta o desafio de ser uma mulher solteira após perder Steve Rogers, o Capitão América.

No grande ecrã, vimos recentemente “X-Men: Days of a Future Past”, “Amazing Spider-Man 2”, “Captain America Winter Soldier”, etc. Contudo, a aposta continua forte no que diz respeito aos super-heróis no cinema.

Batman vs. Superman: Dawn of Justice
Apesar de ainda não estarem revelados muitos detalhes sobre esta longa-metragem que envolve dois dos mais icónicos super-heróis de sempre, já foram reveladas as primeiras imagens:

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Estão confirmados no elenco Ben Affleck como Batman, Henry Cavill, que volta na pele de Super-Homem, Gal Gadot como Mulher-Maravilha, Amy Adams, Laurence Fishburne e Diane Lane (que regressam do primeiro filme). Jesse Eisenberg (“A Rede Social”) será o arqui-inimigo de Super-Homem, Lex Luthor e Alfred, o fiel mordomo de Bruce Wayne, será interpretado por Jeremy Irons (“Comboio Nocturno para Lisboa”).

Avengers: Age of Ultron
No caso de “Avengers: Age of Ultron” também ainda não há muitas informações, apenas se sabe que o elenco do primeiro filme se irá manter e que serão ainda acrescentados Elizabeth Olsen e Aaron Taylor-Johnson, como Scarlet Witch e Quicksilver, respectivamente.

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