Artes Visuais e Performativas

Tempestades em palco

Pelo Teatro Camões já passou de tudo, e eu já lá vi muita coisa: bailados, peças de teatro, conferências e os afins típicos de um conceituado espaço como este.

Desta vez, vi Tempestades. Tempestades em palco que arrasaram a vista daqueles  que assistiam. Movimentos claramente tempestivos, inundados de cor e som, grunhidos e gritos de quem, para além do corpo, dava voz às tempestades que emergem no ser humano e foram replicadas por Rui Lopes Graça e Pedro Carneiro, coreógrafos da Companhia Nacional de Bailado, que têm como tema de trabalho o movimento alemão Sturm und Drang  (Tempestade e Ímpeto), nascido nas décadas de 60 e 70 do séc. XVIII. Esta corrente combateu a racionalidade do Iluminismo e a rigidez do Neoclassicismo francês, emancipando assim a explosão da irracionalidade das emoções selvagens, comuns a todos nós.1

A grande particularidade desta peça é a de ser possível contemplar em palco, para além dos bailarinos, os músicos (da Orquestra da Câmara Portuguesa) que com eles interagiam, em movimentos lentos e concentrados de quem não podia deixar de ilustrar com música as frases tempestivas de quem dançava.

 

Através das 4 emoções básicas, o medo, a alegria, a tristeza e a raiva, intensamente demonstradas em palco, o coreógrafo Rui Lopes Graça dá conta da sua verdadeira intenção: “por vezes, tempestuosamente, seduz-nos quebrar o cárcere da razão para não nos deixarmos morrer, ainda que o coração continue a bater”.2

Algumas das sinfonias de Haydn (banda sonora do bailado) foram compostas por um idêntico estado de alma selvagem. Quase sempre em tom menor e com súbitas mudanças de ritmo e dinâmicas, este é o verdadeiro fio condutor de uma viagem que os coreógrafos Rui Lopes Graça e Pedro Carneiro iniciam neste mês de Outubro, através das emoções que o movimento pode sentir.

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