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Um Amor Maior

Era uma vez um rapaz que se apaixonou por uma menina muito bonita: a rádio. Passa os dias na sua companhia e, tal como em todas as histórias que começam com “era uma vez”, é com ela que pretende viver feliz para sempre. Escolheu a Escola Superior de Comunicação Social (ESCS) para estudar Jornalismo mas, por agora, os seus dias são passados a Norte, na Academia RTP. Vem daí conhecer o Ruben Martins.

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Do poeta ao rapaz da rádio

Ruben nasceu em Vila Franca de Xira, a 28 de Dezembro de 1995, e cresceu em Sobral de Monte Agraço, a quarenta quilómetros de Lisboa. Desde cedo que gosta de se desafiar e de remar contra a maré. A grande memória que tem dos tempos de infância remonta ao 3.º ano, quando ganhou a alcunha pela qual, por vezes, ainda hoje é tratado: poeta. “A professora tinha-nos pedido um texto sobre o Outono e, enquanto os meus colegas escreveram textos em prosa, eu apostei na poesia e escrevi umas quadras”, recorda. Diz que as quadras não tinham qualidade mas, depois de ler o poema na aula, teve a reacção que lhe daria um novo nome: “um colega levantou-se, bateu palmas e disse ah, grande poeta”. E a alcunha dura até hoje.

A rádio, essa, acompanha-o desde sempre. Lembra-se das viagens no carro da mãe a ouvir o Café da Manhã da RFM, mas confessa que a paixão começou “graças a um programa de discos pedidos que havia da Rádio Oásis”, de Sobral de Monte Agraço. “Achei super engraçada a interactividade que se gerava ali; por breves segundos a rádio era nossa, escolhíamos o que queríamos ouvir, dedicávamos aquele momento a alguém e nunca sabíamos quem é que estava do outro lado a ouvir.”, conta. “É simplesmente mágico”, explica.

Foi então que percebeu que queria “dar motivos às pessoas para sorrir ao longo do dia” e, ao pensar no que o fazia feliz, chegou à rádio.

 

Um passo mais perto do sonho

Desde Novembro que, todas as semanas, apanha o comboio à segunda-feira de manhã, com destino a Gaia. As quase três horas que o separam do Norte são as mesmas que, há uns meses, o separavam da ESCS. A escolha da ESCS não teve um motivo certo mas Ruben garante que “foi a melhor escolha que podia ter feito”. Já o Jornalismo foi algo natural e que Ruben reconhece que se “estaria a enganar” a si próprio caso não tivesse seguido esta área.

Foi na ESCS, aliás, que começou a fazer rádio. Logo nos primeiros dias juntou-se à equipa da ESCS FM, onde foi um dos animadores do Lusco-Fusco, fez noticiários e especiais de informação além do programa Pormenor e de ter sido responsável pelo servidor.

Através da ESCS FM, foi contactado pela Rádio Oásis para fazer apontamentos dos jogos do Monte Agraço Futebol Clube. Entre Novembro de 2013 e Maio de 2014, todas as semanas acompanhou a equipa de futebol. “Quando, em Maio de 2014, a rádio fechou por falta de anunciantes fiquei a sentir falta daquelas tardes de domingo”, lamenta.

 

Há comboios que só passam uma vez

Em Agosto de 2011, Ruben estava com um grupo de jovens na Jornada Mundial da Juventude, em Madrid. Quando lá chegou, as expectativas eram baixas mas nesse dia viu, num anúncio publicitário, uma frase que o inspirou e que ainda hoje recorda: “há comboios que só passam uma vez”. Talvez por isso, aproveita cada oportunidade única que surge para definir o caminho que segue. Foi o que aconteceu com a Academia da RTP.

Quando soube que iam abrir candidaturas para a Academia 3.0, falou do assunto em casa. A mãe, lembra, “mostrou-se receptiva à ideia… até que lhe disse que a Academia decorria no Porto”. Ouviu um não. A mãe não o queria tão longe. Felizmente, convenceu a mãe da importância daquela oportunidade e candidatou-se. “Nunca pensei que me chamassem”, diz, “eram muitas candidaturas, muitos projectos”. Em cerca de 500, passavam 30. As expectativas em relação à entrada eram baixas e manteve a candidatura em segredo.

Quando deu por ele, estava a falar com Nuno Vaz, responsável na área dos conteúdos da RTP da época.

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Vida de Estrada

Quando se tratou de apresentar o projecto de candidatura à Academia, Ruben não esteve com meias medidas: estudou as grelhas de programação das rádios da RTP e percebeu que, como ouvinte, sentia falta de “um programa que saísse do estúdio e mostrasse a cultura, as gentes e as tradições das regiões do país”. Depois de se debater sobre o melhor formato, que tinha de ser interessante e não podia ser repetitivo, lembrou-se das estradas que ligam o país e da frase que define a Antena 1, “Liga Portugal”.

Vida de Estrada é o projecto que tem vindo a desenvolver. Centrado em reportagens de rádio, o objectivo é “perceber o que têm em comum as pessoas que moram e trabalham numa mesma estrada nacional”. Porquê estradas nacionais? Ruben esclarece: “não há sítios mais autênticos do que os caminhos que fazemos para conhecer o país real”.

 

Abre-se uma porta

“Nunca tinha vivido longe da minha mãe”, começa por nos dizer sobre a mudança de cidade que a Academia lhe proporcionou. Garante ter feito quarenta e nove novos amigos e diz que se apaixonou pelo Porto, além de dar “mais valor à viagem de regresso a casa”.

Na Academia “tudo é um desafio”. Um desafio que lhe permitiu desconstruir “todos os conceitos que tinha” e começou do zero. “Tinha de mostrar o que sabia fazer e saber pedir conselhos e ajuda quando precisasse, largar egos e ter uma equipa”, explica. O facto de ser o mais novo dos colegas não o assusta e reconhece que lhe permite crescer mais.

Ali, não há dias iguais. “Sei a que horas tenho de chegar, mas nunca sei a que horas vou sair”, diz. Todos os dias estabelece objectivos para o dia seguinte e só deixa a RTP quando termina tudo o que definiu. “Deram-nos 11 semanas para produzir um episódio dos nossos programas, os pilotos”, conta. Além disso, “tivemos diversas masterclasses e o melhor é poder partilhar experiências com pessoas que fazem o serviço público de media”, conclui.

Mas nem só de trabalho se faz a vida por lá. Às terças-feiras “jogamos à bola todos juntos” e há salas de convívio e mesas de snooker e ténis de mesa.

 

Acima de tudo, a rádio.

Trabalhar na rádio é aquilo que Ruben define como “o maior sonho” e, caso a hipótese de o fazer no futuro acontecesse no grupo RTP, “era perfeito”.

Quanto àquilo que gostava de fazer na rádio, não é esquisito: “seja como animador, jornalista ou técnico. Mesmo que fosse a dizer o trânsito”, Ruben garante que seria “o melhor emprego do mundo”.

Ruben ouve rádio tantas horas por dia quantas lhe são permitidas, “como ouvi este ano na edição especial da Antena Aberta dedicada ao Dia Mundial da Rádio, quando estiver para morrer, desliguem-me primeiro a máquina e só depois é que me desliguem o rádio”, afirma.

Para ele, a rádio é “a possibilidade de contar e ouvir histórias ao ouvido”. Mas não se fica por ali: “É magia, é companhia, é podcast, é no telemóvel e no PC, em directo ou em on-demand”. A rádio, confessa, “é um amor maior do que todos os outros”.

Consciente de que o trabalho é que traz sorte, Ruben reconhece que está a aprender e mantém-se humilde. Além de que garante que “tudo o que conseguir da vida será uma grande vitória para mim”. E, até agora, parece que está a vencer.

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