Capital

Uma cidade de escritores

O Romantismo no Chiado.

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Que Portugal é um país de poetas e escritores ninguém duvida! Mesmo no meio de Lisboa, no Chiado, encontra-se a “alma” de alguns dos maiores escritores portugueses. Mas tudo começa com o nome desta zona que é uma homenagem a um poeta do século XVI. António Ribeiro Chiado era um poeta jocoso e foi contemporâneo de Luís Vaz de Camões. Faleceu em Lisboa, em 1591.

O Chiado é um dos bairros mais emblemáticos e tradicionais da cidade de Lisboa. Localiza-se entre o Bairro Alto e a Baixa Pombalina. Em 1856, com a criação do grémio literário, um clube dos intelectuais da época, o Chiado tornou-se o centro do Romantismo Português. Camões, Pessoa ou Eça de Queiroz foram três dos inúmeros autores que escreveram sobre a Baixa-Chiado. Em frente ao largo de S. Carlos ainda podemos ver o edifício onde nasceu Fernando Pessoa. Esta zona da capital é aquela que conta com a maior concentração de igrejas por metro quadrado apenas sendo ultrapassada por Roma, que tem mais de trezentas.

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Fernando Pessoa, o poeta das múltiplas personalidades, é o primeiro que as pessoas vêem assim que saem do metro. A estátua de corpo inteiro do poeta encontra-se na esplanada do café “A Brasileira”, no Chiado. Aqui realizaram-se inúmeras tertúlias intelectuais, artísticas e literárias. O organizador de todas estas actividades foi Henrique Rosa (tio adoptivo de Fernando Pessoa, que viria a criar a revista “Orpheu”).Em 1925, a Brasileira passou a expor onze telas de sete pintores portugueses da nova geração, que então frequentavam o café: Eduardo Viana, Jorge Barradas (com dois quadros cada), Bernardo Marques, Stuart Carvalhais viram os seus quadros aqui expostos. Este café centenário é, depois do “Martinho da Arcada”, bastante associado ao autor de “Mensagem”. Se “quem vai a Roma tem que ir ver o papa”, quem vai ao Chiado tem que tirar uma foto com o simpático escritor. Inúmeros são os turistas que depois da tal foto aproveitam o bom tempo que se faz sentir na cidade de Lisboa e continuam na esplanada, mas a saborear algumas das melhores coisas que Portugal tem a nível gastronómico. Mas quem pensa que só encontramos aqui turistas está enganado. Os lisboetas, mesmo com a azáfama do dia-a-dia, gostam de se sentar, mesmo que seja no muro do metro, e conversar sob o olhar curioso da estátua do poeta. Mas quem quiser entrar no interior do café verá mobiliário antigo e luxuoso. Bem ao estilo dos cafés portugueses do início do século XX. Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, escreveu os seguintes versos sobre o chiado: O Chiado sabe-me a açorda.

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Corro ao fluir do Tejo lá em baixo.
Mas nem ali há universo.
E o tédio persiste como uma mão regando no escuro.

Subindo na direcção do Bairro Alto temos o largo Camões. Nesta zona temos várias lojas antigas que contrastam com os jovens que frequentam este local à noite ou os grupos de turistas que participam nas mais variadas visitas guiadas que podem ir das normais, com o guia, até às radicais, em bicicleta, onde o grupo desce pela rua do alecrim até ao cais do Sodré. Neste caminho passamos pelo quartel dos bombeiros. À entrada existe um jardim com uma estátua de Eça de Queiroz,o último dos escritores referidos. Nesta pequena travessa já ninguém pára para olhar. A imagem de Eça já lhes é familiar e a sua prosa sabem de cor nem que seja por causa das aulas de português no secundário. Eça de Queiroz é um dos maiores nomes do Romantismo, em língua portuguesa. O romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico surgido nas últimas décadas do século XVIII na Europa e que perdurou por grande parte do século XIX. Este surgiu na Europa numa época em que o ambiente intelectual era de grande rebeldia. Na política caíam sistemas de governo despóticos e surgia o liberalismo. Eça de Queiroz faz parte da terceira geração desta corrente em Portugal. Dois dos principais cenários de “Os Maias” são o Chiado e a ‘Casa Havaneza’.