Em 2022, trabalho igual não significa mesmo salário
2157 não é um número insignificante. 2157 é o ano em que o problema da desigualdade salarial chegará, finalmente, ao fim, segundo o World Economic Forum, que publicou o relatório “Global Gender Gap Report 2021”, confirmando que somente daqui a 135 anos é que as mulheres poderão afirmar ganha o mesmo do que os homens.
A realidade é que, em pleno 2022, trabalho igual ainda não significa o mesmo salário entre géneros. As mulheres precisam de trabalhar mais 51 dias para igualar o salário do homem. Este ano, já que todos os anos a data difere, a 4 de novembro assinalou-se o Dia Europeu da Igualdade Salarial, e é a partir deste dia que as mulheres passam a “trabalhar de graça”.
Apesar de serem mais as mulheres a concluir uma formação universitária, continuam a registar taxas de empregabilidade mais baixas. As mulheres jovens têm menos probabilidade de serem contratadas, comparativamente aos homens jovens.
Somente 65% das mulheres entre os 25 e os 34 anos, com qualificações inferiores ao 12.º ano, estavam empregadas em 2020, em comparação com os 80% dos homens, em Portugal, com as mesmas habilitações. Esta diferença de género consegue ser, contudo, menor do que a média apurada nos países da OCDE.
As mulheres na União Europeia ganham, em média, quase 13% menos do que os homens, por hora. Há grandes diferenças entre os estados-membros. Contudo, nenhum conseguiu eliminar totalmente a disparidade salarial. Em 2020, a maior disparidade foi registada na Letónia (22,3%), enquanto o país com a menor desigualdade foi o Luxemburgo (0,7%). Portugal regista uma disparidade salarial de 11,4%, abaixo da média da UE.
Segundo o relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), em Portugal os rendimentos correspondem apenas a valores entre os 73% e os 78% dos salários masculinos.
Um fosso salarial mais estreito não significa necessariamente mais igualdade entre géneros. Normalmente, ocorre em países que ou têm uma taxa de empregabilidade de mulheres baixa ou países em que estas estão concentradas em setores cujos salários são mais baixos. Além disso, é mais elevada a percentagem de mulheres que efetua um regime de trabalho parcial – 30% das mulheres contra 8% dos homens. Do mesmo modo, muitas das escolhas profissionais são influenciadas pelas responsabilidades familiares: em 2018, um terço das mulheres empregadas na UE interrompeu a carreira para cuidar de crianças, em comparação a 1,3% dos homens.
Através da análise dos dados da remuneração por sexo e por sector de atividade obtidos pela Pordataem 2020, o sexo feminino continua em desvantagem em nove dos treze sectores económicos. Apenas nos setores da indústria extrativa, da construção, dos transportes/armazenagem e administração pública e da defesa e segurança social é que as mulheres se encontram acima da média e, simultaneamente, com uma remuneração superior quando comparada com a do sexo masculino. Todavia, esta superioridade não significa mais igualdade uma vez que todos os fatores anteriormente ditos influenciam os salários.
“É pelo mérito que a mulher se deve afirmar, mas para isso precisa de ter as mesmas oportunidades.”
Ana Rita Cavaco para o jornal Sol
No entanto, não podemos considerar este problema como algo momentâneo, uma vez que um salário mais baixo afeta obrigatoriamente o próprio futuro: as mulheres trabalham mais e ganham menos; recebem salários mais baixos, o que resulta em pensões ainda mais baixas, comprometendo a capacidade de se sustentar e ter um nível decente de qualidade de vida. Este fosso salarial faz com que as mulheres estejam sujeitas a um risco mais elevado de pobreza na terceira idade.
Portugal, ao longos dos últimos anos, tem trabalhado no desenvolvimento de políticas públicas de combate às desigualdades entre mulheres e homens, destacando-se a Lei n.º 60/2018, que cria mecanismos de efetivação do princípio do salário igual para trabalho igual ou de igual valor e da proibição da discriminação salarial em razão do sexo, ou o projeto “Equality Platform and Standard”, que elabora uma norma portuguesa relativa a um Sistema de Gestão de Igualdade Salarial, com base na norma islandesa ÍST 85:2012 – “Equal wage management system – Requirements and guidance.”
Estas desigualdades não acontecem só com as mulheres. Acontecem também com alguns homens. Contudo, ao compararmos toda a informação disponível sobre este tema, percebemos sem sombra de dúvidas que é mais recorrente acontecer com a população ativa feminina. Além disso, é importante referir que a população não-binária também sofre com esta questão, mas ainda não é contabilizada em estudos. Deste modo, é preciso consciencializar aquelas pessoas que não veem este assunto como um problema que necessita de ser urgentemente solucionado.
Fonte da capa: Getty Images
Artigo revisto por Andreia Batista
AUTORIA
A Mariana, estudante de jornalismo, nunca pensou que a sua vida iria tomar este rumo. Mas, recentemente, descobriu a sua paixão pela escrita e pela comunicação. Aventurou-se na escs magazine para sair da sua zona de conforto e atingir todos os seus objetivos. Curiosa e observadora acredita que este é o lugar certo para ela!