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Plástico, tão prático e assassino

De muitas maneiras, o plástico pode ser visto como o material perfeito: é forte e rígido o suficiente para substituir ossos e construir foguetões ou fino e flexível para criar sacos de compras que não pesam quase nada, mas que conseguem carregar vários quilos. Ao contrário de outros materiais, o plástico não ganha ferrugem ou apodrece. O plástico pode durar séculos, mesmo quando só precisamos que ele dure uns segundos. O mundo vive em plástico e isto acontece por ele ser barato, duradouro e, ao mesmo tempo, descartável. Mas como Sófocles uma vez disse, “Nada imenso entra na vida dos mortais sem uma maldição”. 

A verdade é que o ser humano come, bebe, respira plástico, e desvaloriza este problema tão presente e tão fácil de passar despercebido. Quando descartamos algo, não queremos ter responsabilidade sobre o que lhe acontece uma vez que está fora das nossas mãos, mas quando deitamos lixo para o chão, o mais certo é que vá parar aos rios, mares e oceanos. O grande problema com o plástico é que, uma vez inserido no meio ambiente, ele não desaparece, mas sim permanece nos nossos ecossistemas, e por vezes nem temos noção do tempo que certos produtos demoram a decompor (nunca desaparecendo totalmente do ambiente). 

Fonte: WWF

Uma beata demora dez anos para se decompor e, por minuto, sete mil beatas são atiradas para o chão só em Portugal. Para comparação, uma garrafa de litro e meio consegue levar mais ou menos 740 beatas, isto equivale a seis segundos, ou seja, isto significa que a cada seis segundos estamos a despejar uma garrafa de litro e meio cheia de beatas para o ambiente. Um saco de plástico demora 20 anos e tem a particularidade de facilmente se partir em bocados cada vez mais pequenos, o que causa impactos devastadores para a vida marinha. Um copo de café takeaway demora 30 anos, e a maioria não é reciclável por ter uma membrana de plástico que os envolve e que os torna impossíveis de reciclar. Uma simples pastilha demora 200 anos, um copo de plástico 450 anos e com o passar do tempo liberta químicos tóxicos para o ambiente, e uma garrafa de água demora tambem 450 anos, sendo que 75% das garrafas de água existentes não são recicláveis e acabam nas lixeiras ou a poluir os nossos oceanos.

Estes números são assustadores e a dimensão do problema aumenta quando nos apercebemos de onde é que o plástico vai parar e as consequências que estas nossas ações despreocupadas acarretam. A vida marinha sofre em grandes dimensões com este problema. Há quem defenda, aliás, que foi com um animal marinho que o ser humano começou a abrir os olhos e a despertar para o problema do plástico.

Em 2017, na Noruega, uma baleia de seis metros começou a rondar junto à cidade de Bergen. Depois de tentativas falhadas de a mandar de volta para o oceano, foi abatida e posteriormente examinada e descobriu-se que o seu estômago continha 30 sacos de plástico que entupiram o seu sistema digestivo. O país acabou por expor este problema exibindo todo o plástico que se encontrava dentro da baleia no Museu de História Natural.

Fonte: reuters

Mas este problema não fica por aqui: vários gigantes do mar à volta do mundo já deram à costa para mais tarde se descobrir que a causa das suas mortes foi o plástico presente nos seus organismos. No mar mediterrâneo, na Sardenha, uma baleia grávida deu à costa e descobriu-se que ela continha 22 kg de plástico no estômago. Nas Filipinas, outro gigante dos mares foi encontrado morto com 40 kg de plástico no seu interior e, nas praias de França, descobriu-se uma baleia que continha 800 kg deste produto tóxico no seu organismo. Também em Portugal, no Alentejo, uma baleia deu à costa, morta. Contudo, foi enterrada sem lhe ser feita uma necropsia e, por isso, nunca se terá a certeza das causas da sua morte, mas com tantos exemplares à volta do mundo, não é difícil criar uma teoria. Estima-se que 56% de todas as espécies de baleias e golfinhos do mundo já consumiram plástico.

Como se isto não fosse suficiente, os gigantes dos mares não são os únicos afetados de entre os seres vivos que habitam o meio aquático. As focas, animais de águas geladas, também são afetadas pelo homem. Em maio de 2018, uma foca bebé foi encontrada morta na ilha de Skye. Esta cria, que teria entre oito meses a um ano, tinha um quadrado de plástico no seu estômago que bloqueou a parte que o ligava ao intestino. Também as tartarugas marinhas são gravemente afetadas. Além de morrerem por ingerirem plástico, quando não morrem, o plástico pode criar sacos de ar nos seus estômagos, tornando difícil a tarefa de mergulhar. Na Flórida, uma tartaruga bebé deu morta à costa por conter 104 bocados de microplástico no seu estômago.

Fonte: CNN

Mas não são apenas os animais marinhos que são afetados por esta pandemia. Poderíamos pensar que por andarem nos céus, as aves escapariam a este problema, mas esta ideia não podia estar mais longe da verdade. As aves marinhas são os animais mais afetados pelo plástico nos oceanos.

Uma das espécies de aves mais afetadas é o Albatroz. Esta espécie tem a particularidade de caçar nas superfícies da água, e ao fazê-lo, traz os plásticos que lá se encontram no bico. Estima-se que um milhão de aves marinhas morrem anualmente devido ao plástico. Contudo, este número torna-se ainda mais alarmante quando nos apercebemos do quão rápido foi o crescimento deste problema. Em apenas 20 anos, o número de aves marinhas encontradas com plástico nos seus estômagos subiu de 5% para 80%.

Fonte: theuniplanet

Mas, o que é que leva os animais a comerem plástico?

Nós, humanos, conseguimos distinguir os nossos alimentos de plástico, conseguimos usar facilmente talheres descartáveis ou uma palhinha sem as ingerir, contudo os animais não conseguem fazer esta distinção, salvo raríssimas exceções. Para os animais, o plástico parece e cheira a comida e, para juntar a isto, flutua. Estes três fatores são a combinação perfeita para tornar impossível a sua distinção com o alimento verdadeiro.

Esta coexistência com o plástico será fatal para muitas espécies. O que lhes aparenta ser alimento, é uma bomba relógio para a sua sobrevivência e, morrendo os progenitores, morrem as crias e as espécies ficam ameaçadas. Se não mudarmos nada na nossa maneira de viver, é certo que irão existir trágicas mudanças no nosso planeta.

Artigo redigido por Beatriz Morgado

Artigo revisto por Pedro Filipe Silva

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