E o cinema alternativo?
Todos nós vemos filmes. E apesar do limitado investimento do Estado na cultura, e em particular na sétima arte, as poucas produções de origem nacional têm sido, no geral, muito bem aceites pelo público. E, depois do aparecimento dos downloads piratas e dos sites de streaming de filmes, a verdade é que somos um público fortemente consumista no que toca a entretenimento e isso leva a salas de cinema bem compostas, na semana de estreia de qualquer blockbuster.
Porém, num país muito marcado pela produção de novelas, que espaço resta para o cinema? E o cinema alternativo? Neste artigo procurarei fazer uma breve análise à situação atual das curtas-metragens no nosso país.
Para começar acho que devo dar uma pequena definição de “curta-metragem”, para os mais desentendidos. De forma simples, uma curta-metragem (também designada simplesmente “curta”) é o que o próprio nome indica, ou seja, um filme de curta duração. E, embora não haja nenhum consenso universal quanto ao tempo limite máximo de uma curta-metragem, este é compreendido entre os trinta e os quarenta minutos, sendo que a partir daí passa a ser considerado uma “longa-metragem”.
Ora, eu até podia trazer a perspetiva mais negativa e dizer que a situação atual é péssima, mas não o vou fazer. Especialmente porque não concordo. Quando se fala em curtas, temos de abordar duas vertentes diferentes: a produção e a projeção.
Em Portugal, não nos podemos queixar da quantidade e da variedade de curtas que produzimos e que recebemos de outros países. Há curtas para todos os gostos e idades, sendo o género de principal enfoque a animação, talvez por ser mais simples de elaborar. E a realização de curtas é uma prática que começa a ganhar alguma popularidade entre os jovens, sendo que alguns deles acabaram por arrecadar alguns prémios internacionais, como é o caso de Leonor Teles, que venceu um Urso de Ouro em Berlim, no ano passado, tornando-se na realizadora mais jovem de sempre a vencer o prémio. E existem alguns fatores que talvez possam explicar esse dado, como a própria curta duração dos filmes, ou seja, todo o seu processo de produção é mais rápido e simples, e ainda o reduzido investimento que pode ser feito, se formos comparar com os featured films.
No entanto, o maior problema deste nicho do cinema reside na sua projeção. Em Portugal, praticamente ninguém assiste a curtas-metragens. E nem vou ser hipócrita. Também eu assisto a muito poucas curtas. Não me orgulho, mas é verdade. E, quanto mais se sobe na faixa etária da população, menos são as pessoas que veem ou conhecem sequer o género. É um género demasiado desconhecido para a larga maioria das pessoas. E é de difícil acesso. Mesmo que sejas uma pessoa que conhece o género e até aprecia, tens algumas dificuldades em conseguir acompanhar, porque nem sabes muito bem onde e como o podes fazer. É raro vermos uma curta a ser transmitida num dos canais generalistas. E, quando são, acontecem fora do horário nobre e em canais secundários, como por exemplo a RTP2. E até nos cinemas raramente se vê uma curta ou uma compilação de curtas metragens para transmitir. E a razão para isto acontecer é muito simples: não é rentável. Pagar 6€ para ir a um cinema assistir a uma curta não é o mesmo do que ir assistir a um featured film. Ninguém pagaria essa quantia para assistir a um filme de cinco minutos. E baixar os preços, mais uma vez, tiraria toda a rendibilidade. E, portanto, como este género não consegue chegar ao grande ecrã para captar verdadeiramente a atenção do espectador, cada vez mais está a ganhar um teor competitivo. Quem realiza um curta já nem o faz pensando no desejo de que ela seja emitida numa sala de cinema, mas sim considerando já os possíveis concursos nos quais poderá concorrer, com o intuito de ganhar algum reconhecimento e até financiamento para outro projeto.
Em suma, ninguém se pode queixar da quantidade e da qualidade no que toca a curtas no nosso país, mas ainda não se conseguiu arranjar uma montra apropriada para as exibir e agarrar a atenção do público generalista consumista. E, até lá, são esses festivais de prémios e essas competições que apresentam a maior oportunidade ao nosso dispor para ficarmos a conhecer um pouco melhor este tipo de filme.
Quero acabar o artigo com uma espécie de campanha publicitária: deparei-me com algo que acho ser extremamente útil para os mais interessados. Chama-se “Film in” e é um serviço de streaming de filmes online. O seu funcionamento é muito semelhante ao do Netflix, ou seja, fazemos uma subscrição mensal e passamos a ter acesso a todo o seu conteúdo on demand. A diferença do “Film In” é o seu conteúdo – o catálogo, ainda não tão desenvolvido como o do Netflix, foca-se no cinema independente e de língua estrangeira, deixando espaço também para a categoria das curtas-metragens. Uma plataforma com estas características, disponível para qualquer utilizador, parece-me a montra perfeita para começar a exibir curtas de todos os géneros e alcançar mais adesão por parte do público.
AUTORIA
Num universo tão vasto como o nosso, quantas são as pessoas que são açorianas (micaelenses), ouvem música todos os dias, não falham um jogo do Sporting, leem livros e veem wrestling? Algumas, reconheço. Mas a pessoa que está a redigir este pequeno texto introdutório chama-se André Medina, tem 20 anos e, há dois anos, embarcou na maior aventura da sua vida.
Sair de casa nunca é fácil, e fazê-lo quando não se sabe cozinhar nem dobrar roupa é ainda mais complicado. Mas, muitas saladas de atum, pizzas do Pingo Doce e noodles depois, aqui estou eu: vivo e no último ano do curso de Jornalismo.
E, em jeito de recompensa por ter sobrevivido a estes duros anos, tive o privilégio de poder ser o primeiro editor da secção de Deporto na MAGAZINE. Eu, uma pessoa que ainda não sabe dobrar uma t-shirt como deve ser.
De qualquer forma, espero poder retribuir a confiança depositada em mim e quero que todos se sintam bem-vindos a esta escola e a este magnífico projeto, que é a nossa querida ESCS MAGAZINE.