O murmúrio de uma pérola
Estava numa caixa coberta de pó, no sótão de casa. É um pequeno livro, de tamanho de bolso, com uma capa de plástico das antigas a protegê-lo. Falo-vos d’A Pérola, de John Ernest Steinbeck.
Steinbeck foi um escritor estadunidense que nasceu a 27 de fevereiro de 1902, na Califórnia. Iniciou a sua vida literária em 1929, com a obra “A taça de ouro”, e, desde aí, através de uma vida de deambulação e sujeito a trabalhos pesados, não largou mais a escrita.
“A Um Deus Desconhecido”, “As Vinhas da Ira”, “A Pérola”, “Ratos e Homens” e “Viagens com Charlie” foram as obras que o trouxeram para a ribalta. Com 17 das suas obras adaptadas ao cinema, Steinbeck foi galardoado com um prémio Pulitzer, em 1939, e foi ainda Prémio Nobel da Literatura, em 1962.
“A Pérola” é uma curta novela, caracterizada pelo autor como uma parábola, publicada em 1947, dois anos após o fim da 2ª Guerra Mundial.
A história enquadra-se num ambiente de injustiça social, de extremos e antagonismos entre pobres e ricos, num mundo onde predomina a avareza e onde dinheiro é poder e saúde.
“Na cidade, contam a história de uma grande pérola: como um dia foi encontrada,
como um dia desapareceu. (…) E tantas vezes essa história foi contada que se
enraizou na memória de todos. E, como acontece sempre com as histórias que o povo
guarda no coração, só há nela o bom e mau, preto e branco, generosidade e
malefício, sem tonalidades intermédias.”
A narrativa desenrola-se em redor de Kino, um índio mexicano pescador, Joana, a sua mulher, e Coyotito, o seu filho. Vivem numa pequena cabana junto à praia.
De um segundo para outro, o veneno de um escorpião apodera-se de Coyotito. O seu pai busca a cura na cidade, mas a sua condição inferior apenas lhe vale, por parte dos abastados habitantes da cidade, indiferença ou desrespeito.
Com águas perigosas, repletas de tesouros armadilhados, Kino faz-se ao mar em busca de uma pérola que salve o seu rebento. A música do bem paira no ar e Kino encontra a maior pérola alguma vez vista.
Porém, com o desenrolar da novela, a pérola revela-se um presente envenenado: surge a música do mal.
Sem surpresa, antes de Kino a encontrar, já toda a cidade sabia.
“Uma cidade é como um animal. Tem um sistema nervoso, uma cabeça, ombros, pés.
Ainda Kino não tinha regressado à cabana, já os nervos da cidade estremeciam com
a novidade. (…) Chegou aos ouvidos do padre, lembrando-se das obras de que a
igreja precisava. (…) Chegou aos ouvidos do médico, que se supôs em Paris, num
palácio faustoso (…)”.
Cobiçado e bastante invejado, Kino torna-se um inimigo, e a sua família, um alvo a abater. Ignorando a voz da razão, o desejo pelo poder começa a dominar a sua vida.
Sem lugar seguro para viver, Kino e a sua família fogem, mas ainda há algo que fica por fazer, e, para isso, terão de regressar ao ponto de partida.
Com a memória marcada pelos horrores da 2ª Guerra Mundial e com aptidão para denunciar o mal-estar da humanidade, John Steinbeck conquista-nos com esta obra, de leitura rápida, possuidora de uma escrita alegórica, que nos remete para outros significados para além do literal.
Se ficaste curioso, aqui fica uma versão online do Livro, em Português: https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxiZWVzZ25tZW1vcmlhc3xneDo0OTljMjBkNzdmMDY0YzAx