LEFFEST: Retrospetiva de José Vieira – Alma portuguesa ou francesa?
A ESCS Magazine continua presente no Lisbon & Sintra Film Festival.
No passado dia 22 de novembro, o destaque do festival vai para a exibição de “Chama-me pelo teu nome”, do realizador Luca Guadagnino. O filme encontra-se em competição e possui no elenco Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg, Amira Casar e Esther Garrel.
A ESCS MAGAZINE não teve oportunidade de assistir à exibição do filme de Luca Guadagnino, mas esteve presente noutro dos eventos do dia: a exibição de documentários alusivos à emigração portuguesa nos anos 60, realizados por José Vieira, no âmbito das retrospetivas ao trabalho do realizador.
Os documentários exibidos foram “Os Emigrantes” e “O País aonde nunca se regressa”.
Quer um, quer outro abordam a questão do retorno dos emigrantes e da incerteza quanto à identificação nacional que estes possuem, explorando o ponto de vista dos que voltaram a Portugal e daqueles que se mantiveram fora do país. Embora o 2.º documentário apresente uma visão mais particular do realizador, que, partindo da sua história (emigrou para França com os pais em pequeno, mas não voltou enquanto o seu pai o fizera), tenta cobrir o espetro daqueles que voltaram, mas não se sentem em casa e dos que se sentem divididos entre voltar ou continuar emigrado.
José Vieira consegue com mestria elaborar um documentário interessante, pertinente e que desvenda o lado menos explorado de uma questão que intensamente impactou a sociedade portuguesa.
Além disso, através de uma abordagem cuidada do tema, não apressando o desenrolar da narrativa, os filmes transportam-nos para a vida das pessoas enquanto nos permitem desfrutar das viagens apresentadas pelo realizador, imergindo-nos nelas.
Os ritmos dos documentários podem não agradar a todos face à calma com que os temas são explorados. No entanto, quanto a isto, “Os Emigrantes” possui uma maior rapidez apesar de ter uma duração maior do que “O País aonde nunca se regressa”.
Após a exibição dos documentários abriu-se espaço para uma conversa entre os espetadores e o realizador.
Aqui falou-se na destruição familiar que a emigração traz, apesar do seu grande retorno financeiro, e de como a emigração serviu como um meio de emancipação para as mulheres, que não a tinham em Portugal.
José Vieira justificou o porquê de não abordar outros pontos de vista ou falar na massa emigratória dos últimos anos, respondendo que foi a emigração nos anos 60 que lhe era mais afeta e que existiam outros realizadores competentes que poderiam abordar esse tema.