Um Lugar Silencioso – Quem diria que o silêncio poderia ser tão assustador?
O mundo foi dominado por criaturas cegas que ameaçam a continuação da espécie humana. À primeira vista, poderíamos questionar-nos acerca da ameaça que estas representam. A sua extraordinária audição permite-lhes ouvir à distância tudo o que seja mais alto do que um sussurro. O pior é mesmo o facto de, ao mínimo descuido, estas se moverem a uma velocidade que quase parece a da luz e despedaçarem num segundo o emissor do ruído.
Um Lugar Silencioso acompanha o autêntico jogo de hide and seek da família Abbott. Estes têm uma clara vantagem em relação a todos os outros humanos, e talvez por isso tenham sobrevivido até este momento. A criança mais velha, Regan (Millicent Simmonds), é surda. Devido a isto, a família consegue comunicar através de linguagem gestual.
As criaturas foram bastante trabalhadas em termos de design. No entanto, pouco as vemos. No início, apenas são mostradas algumas fotos alusivas a estas. Com o desenrolar do filme, começamos a poder vê-las em raros momentos. E apenas no final conseguimos vislumbrar verdadeiramente as assustadoras criaturas.
Isto aumenta todo o mistério que circunda o filme que, infelizmente, não nos explica de onde estas vêm. Um Lugar Silencioso marca o seu início no 89º dia de ocupação destas criaturas. Apesar deste mistério resultar, faz com que nos interroguemos durante todo o filme acerca da origem destes seres e da história dos mesmos. Se mesmo assim conseguirem abstrair-se desta lacuna, este é um filme de nos deixar “com os nervos em franja”.
Os efeitos sonoros manifestam-se na quantidade perfeita. E desengane-se quem acha que são precisas grandes produções sonoras para que um filme de terror resulte. Afinal, Um Lugar Silencioso consegue prender-nos mesmo sendo um filme mudo durante cerca de dois terços do seu tempo. E é isto que o torna tão especial e diferente.
O quase constante silêncio cria o ambiente perfeito para que se gere uma tensão crescente ao longo de todo o filme. Cada respirar ou sussurro transporta-nos para a cena. O mínimo ruído faz com que cada centímetro da nossa pele se arrepie. Tudo isto provoca verdadeiro medo em quem está fora da cena.
Para além disto, o thriller consegue proporcionar-nos os sempre tão desejados jumpscares, mas com uma boa reviravolta – consegue não esquecer a narrativa. Oferece o melhor dos dois mundos: um enredo bom e coerente aliado a momentos de suspense e terror.
John Krasinski traz-nos desta forma um terror que, apesar de não ser perfeito, consegue ser um dos melhores dos últimos tempos. Uma lufada de ar fresco no meio de tantos sustos fáceis e previsíveis. Este interpreta o pai da família ao lado de Emily Blunt, a sua mulher em ambas as realidades.
A química entre os dois é inegável. A sua atuação é um perfeito espetáculo de emoções dramáticas, que é consolidado pela excelente escolha de atores juvenis. Apesar da tenra idade, todos demonstram uma enorme e prazerosa aptidão para a representação.
O final fica em aberto. Não responde a diversas perguntas. Deixa-nos satisfeitos, mas ao mesmo tempo à espera de algo mais.