“Nas danças de salão, tem de haver um equilíbrio entre talento e trabalho”
É aluna do primeiro ano de Relações Públicas e Comunicação Empresarial na Escola Superior de Comunicação Social, mas também compete há dois anos nas danças de salão. Apesar da dificuldade em conciliar a faculdade e a dança, Carolina Martins admite que ambos são o seu plano A, ainda que tenha dado uma maior prioridade à dança até agora.
ESCS MAGAZINE (EM): O que se sente quando se é campeã regional de latinas e vice-campeã a standard?
Carolina Martins (CM): No meu caso, foi muito complicado no início porque apenas danço há dois anos e, no caso de campeão regional, estava a competir contra dois pares da minha escola, o que não é fácil porque são meus amigos e estão a disputar um título contra mim. Em relação a standard, eu obtive 170 pontos, o que é muito pouco visto que uma posição são cerca de 370 pontos e só comecei a competir a standard em março, portanto ser vice-campeã surpreendeu-me. A latinas foi excelente, uma vitória incrível. Primeiro porque eu gosto muito mais de dançar latinas. Foi incrível também porque o par que ficou atrás de mim tinha mais de mil pontos que eu, mas a final valia dois mil e como eu ganhei a final e ganhei os últimos dois campeonatos, ganhei o regional. Quando eu soube que tinha ganho, não queria acreditar, comecei a chorar, fiquei sem palavras.
EM: Como surgiu o gosto pela dança?
CM: Sempre gostei de dançar, desde miúda dava uns passinhos. Já tinha feito Hip Hop, mas nada de especial. Tudo aconteceu quando, há dois anos, o meu namorado sugeriu experimentarmos dançar. Fomos experimentar e apaixonei-me.
EM: Porquê danças de salão?
CM: Danças de salão porque não é muito comum. Ouvimos falar de Hip Hop, funk, dança contemporânea e nunca de dança de salão. Esta dança não é algo que costumamos ver e quando vemos achamos que é incrível. A dança de salão tem uma história: por exemplo, nas latinas é composta por cinco danças, das quais o samba representa o conhecimento, a interceção de “olá, tudo bem”, o cha cha cha representa já aquela brincadeira “queremos apaixonar-nos mas ainda somos amigos”, o rumba é claramente uma dança apaixonada, uma dança de namorados, o paso double representa uma discussão, uma separação e no jive já está tudo bem.
EM: Dentro de todas essas danças de salão, qual é a tua preferida?
CM: Depende do dia. Quando estou mais triste, mais cansada, gosto muito mais de dançar rumba. E rumba tem um problema, que acaba por ser um benefício, que é o facto de ser a dança mais lenta, logo a mais técnica. No entanto, a dança mais divertida é jive. Em relação a standard, adoro dançar tango e slow fox, que são completamente diferentes, visto que o primeiro é uma dança mais bruta e o segundo é uma dança calma.
EM: Quantas vezes por semana treinas?
CM: São muitos treinos. Não é fácil. Eu costumo dizer que para sermos bons temos de trabalhar muito. E é verdade. Faço nove horas de treinos semanais, distribuídas pelos dois tipos de dança (standard e latinas). Além disso, faço estágios que, por vezes, são bastante distantes. O último que fiz foi em Famalicão, em setembro, e exigiu muitos custos.
EM: Por que níveis se passa até chegar ao nível em que estás?
CM: Na dança, estamos distribuídos por escalões de idade e dentro destes escalões estamos divididos por escalões de dança – iniciados, intermédios, open ou profissionais. Neste momento, estou em intermédios, que é o segundo nível de adultos.
EM: Quais as qualidades essenciais para se ser um bom dançarino?
CM: Para mim, é preciso gostar-se do que se faz. Não gosto de ver pares nem de me sentir a dançar porque sou obrigada. Já me apeteceu em certos dias não competir e é visível para mim e para quem vê que não era propriamente aquilo que me apetecia estar a fazer. Depois acho que é preciso ter-se algum talento. Acho que todos podem dançar, desde que sejam trabalhadores, empenhados e queiram mesmo singrar. Nas danças de salão, tem de haver um equilíbrio entre talento e trabalho.
EM: Durante a dança, esqueces tudo o que está à tua volta ou a cabeça não para?
CM: A minha está ao rubro. O meu par está zen, não pensa em nada. Já eu não consigo porque tenho um problema que é querer ser a melhor e querer ganhar e isso nem sempre é bom. Para ganhar, não posso estar zen, tenho de ter um trabalho definido e tenho de saber aquilo que vou fazer.
EM: O que é para ti o mais difícil na dança?
CM: No fundo, é fingir porque podes não estar bem mas tens de mostrar que estás. As pessoas têm de olhar para mim e pensar que aquilo é fácil, que estou bem preparada e que adoro dançar. Fingir em pista às vezes não é fácil. A dança é uma representação. Por vezes estás a contar uma história que nem sempre é a tua ou que não se encaixa na tua.
EM: Já houve alguma ocasião em que te apeteceu desistir?
CM: Sim, várias. Primeiro, é um desporto caro. Para além dos custos exigidos em cada competição, existem os gastos extra. Temos de ter no mínimo dois pares de sapatos, cerca de 120 euros cada, mais os vestidos, sendo que um vestido de qualidade custa entre 300 e 400 euros. Quando é um campeonato longe, temos custos com a estadia, comida, combustível. Não existe qualquer apoio e, em Portugal, é difícil existirem patrocínios. A própria Federação Portuguesa não apoia assim tanto. Em segundo lugar, apetece-me desistir quando entro na faculdade e não me é reconhecido pela universidade o estatuto de estudante-atleta, o que é ridículo. Se tenho treinos até as 23h ou mais e entro às oito horas, é impossível estar ciente e pronta, porque estive no dia anterior três horas a treinar para representar o meu clube e o meu país. Em terceiro lugar, o facto de a competição não ser justa. Muitas vezes treinamos horas a fio e há pares que se calhar não treinam nem investem tanto e ficam à nossa frente. Ou muitas vezes sabermos que um par é avaliado consoante a sua escola, os seus treinadores. Porque os treinadores, se tiverem um curso de júris podem avaliar a prova, o que é injusto. Essa jogada feita por treinadores dá vontade de desistir. Mas a dança é aquilo que eu gosto realmente de fazer e é apenas isso que não me faz desistir.
EM: Ir para a faculdade foi o plano B à dança?
CM: Sempre quis ir para a faculdade e era o plano A até começar a dançar. Mas se deixar de dançar, vou continuar na faculdade. Eu quero ter uma licenciatura porque por muito bem que eu dance é quase impossível viver-se da dança. Acabam por ser os dois um plano A.
EM: Quais são os teus planos futuros?
CM: Em relação à dança, obviamente que o meu objetivo é continuar a dançar, chegar a open e conseguir bater recordes nacionais, que todos os dias são superados. Para tal, é precisa uma certa gestão de tempo, disponibilidade monetária e capacidade psicológica. Acredito que consigo chegar lá, mas para isso tenho de abdicar de muitas coisas.
Corrigido por Andreia Jesus
Foi um prazer enorme dar esta entrevista! Obrigada pelo convite!
Nós é que agradecemos Carolina!