Moda e Lifestyle

One size does not fit all: o problema das roupas de tamanho único

A indústria da moda, entre outras indústrias, é uma das que mais difunde a ideia de um corpo padronizado e irrealista. Não só pela falta de diversidade das modelos em campanhas publicitárias como pelas próprias peças de roupa que, muitas vezes, não são feitas a pensar em pessoas que não vestem um 36 – quer sejam as pessoas que vestem um 32 ou as que vestem um 42.

O principal objetivo desta indústria é vender, e, para isso, é preciso criar um sentimento de desejo nos potenciais clientes. A verdade é que se nós nunca estivermos satisfeitos com o nosso corpo e com a forma como as peças de roupa nos assentam, é normal gastarmos mais dinheiro em roupa à procura da peça perfeita.

Também as redes sociais vieram acentuar este que já era um problema antigo. Agora, para além das campanhas publicitárias e dos desfiles de moda, também as redes sociais ajudam a propagar um padrão de beleza falso e irrealista. Faz-se uso da iluminação, ângulos, poses, maquilhagem e, principalmente, Photoshop para criar uma ilusão. Um ideal de corpo que não existe.

Para além de já termos preconceitos com o nosso corpo quando vamos comprar roupa, ainda nos deparamos com o facto de que existem determinadas peças de roupa que foram feitas a pensar apenas em quem tem um corpo que vá minimamente de acordo com o padrão. Apesar de a indústria se estar a tornar cada vez mais inclusiva, ainda há muito trabalho pela frente e um enorme percurso a ser feito, principalmente, no que diz respeito a acabar com a ideia de que nós temos de caber dentro da roupa, quando deve ser exatamente o oposto: a roupa ser feita para caber em nós.

Quando pensávamos que as pessoas se estavam a tornar mais conscientes em relação à existência deste padrão, e quando o movimento Body Positivity estava a ganhar mais importância, surgem as peças de roupa de tamanho único.

O problema recai exatamente sobre isto: todos os corpos são diferentes. Não há como definir um tamanho padrão e afirmar que vai servir a todos os corpos. Este ano a marca de roupa espanhola Stradivarius lançou o modelo de calças 0 size com a promessa de que iria servir a todas as mulheres e tornar este universo mais inclusivo. A própria marca define este lançamento como: “Sem rótulos. Sem tamanhos. Sem limites. O denim mais inclusivo. Um par de jeans para todos os tamanhos.”. Mas será que é este o caminho certo?

Por mais que marcas com campanhas como esta queiram realmente tornar o mercado mais inclusivo, o caminho certamente não passa por criar um “tamanho universal”. As calças podem, efetivamente, caber em todos os corpos, mas será que vão assentar de igual forma em alguém que vista um 32 e em alguém que vista um 42? A resposta é um tanto quanto óbvia.

Fonte: Instagram @mariacastellanos_ri

Inclusão não passa por definir um padrão e meter todas as pessoas dentro da mesma caixa. Tornar o mundo da moda mais inclusivo é criar opções de roupa para todos os corpos, compreender que vestimos tamanhos diferentes e que mesmo que duas pessoas vistam o mesmo tamanho, uma peça de roupa pode assentar de forma diferente. Se a indústria da moda quer realmente tornar-se mais inclusiva deve começar por compreender que somos todos diferentes e, por isso, temos necessidades diferentes quando vamos às compras.

O único padrão que deve existir é a preocupação para que uma pessoa que vista mais que um 42 ou menos que um 36 encontre peças de roupa que lhe fiquem bem, e não apenas peças de roupa que lhe sirvam.

Fonte da capa: Risk Culture Week

Artigo revisto por Adriana Vicente

AUTORIA

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A Rita tem 20 anos, está a tirar a licenciatura em Jornalismo e foi na Comunicação que encontrou a sua vocação. Tem sempre uma resposta na ponta da língua e, até hoje, a sua avó diz que ela devia era ser deputada!
O seu maior sonho é ser apresentadora de televisão mas, por enquanto, podem encontrá-la algures pela ESCS.