Declara-se culpado ou inocente?
Investigar um crime é, de facto, uma tarefa que não é para todos. Assassinatos, assaltos, desaparecimentos… existem atualmente inúmeros crimes sem solução, mesmo com os avanços tecnológicos. Tentemos então imaginar um universo paralelo onde, mesmo sem metade da tecnologia, os crimes têm sempre solução, uma vez que provavelmente seria uma expectativa demasiado elevada um mundo sem crime. Um universo em que os verdadeiros criminosos são descobertos através de indícios tão simples como uma marca na pele. Infelizmente, só é algo possível nos livros, nas séries ou nos filmes de ficção.
Para os amantes de policiais, o nome Agatha Christie é incontornável, seja na literatura, no cinema ou na televisão. A autora é conhecida por obras como Um crime no Expresso do Oriente, tendo este sido adaptado ao cinema em 2017. Além disso, muitas histórias que têm como personagem principal o detetive Poirot também ganharam vida nos ecrãs na série com o mesmo nome.
Poirot, uma mente brilhante
Nos livros de Agatha Christie é possível conhecer personagens como a Miss Marple e o famoso Hercule Poirot. O detetive pode ser caracterizado pelo seu grande sentido de humor e pelo modo único como resolve os casos. A chave está no detalhe das perguntas que devem ser feitas.
Poirot consegue decifrar um enigma sem sair do mesmo local, apenas analisando os dados durante algum tempo. Surge-nos a imagem da personagem, com o olhar fixo num ponto, em silêncio para que se consiga concentrar na construção do seu próprio pensamento. Como o próprio diria, basta pôr o cérebro a trabalhar, mas, ironicamente, as suas conclusões podem ser muito diferentes das do leitor ao longo das obras. Além da sua perspicácia, destaca-se também o seu autodomínio. A personagem desempenha o seu papel de detetive sem deixar transparecer as suas suspeitas até ao momento certo, levando o lema “nem tudo o que parece é” ao limite.
Quem foi o culpado?
Em obras como Morte no Nilo ou As aparências iludem, a autora joga claramente com as personagens de modo a que quem lê se precipite nas acusações. Quando todas as provas parecem apontar para alguém (ou até excluem alguém), são apresentados novos factos que contradizem o raciocínio. Basta uma declaração que testemunhe um ruído diferente para mudar tudo. Quando o leitor pensa que conhece as personagens, descobre que alguém não contou tudo o que sabia…
A escritora tem a capacidade de captar a atenção de forma estratégica, fazendo o leitor duvidar de todos. No entanto, não precisa de recorrer a detalhes muito explícitos dos crimes como descrições pormenorizadas do estado das vítimas de assassinato ou algo do género, o que torna as obras mais acessíveis a faixas etárias mais jovens e a pessoas mais sensíveis.
A leitura das obras torna-se viciante, na constante procura de respostas. Capítulo a capítulo, cada leitor pode construir uma teoria diferente. A investigação torna-se um ótimo tema de debate entre os fãs.
Mistérios para todos os gostos
Existe uma panóplia de livros que se foca numa única história (ou em enredos com personagens que se cruzam), constituindo investigações mais aprofundadas por parte do protagonista. Por outro lado, para os amantes de narrativas curtas com desfecho acelerado, é possível conhecer o detetive através da obra As Investigações de Poirot. Cada capítulo corresponde a uma investigação diferente. Entre roubos, raptos e mortes, acompanhamos Poirot e o seu companheiro, o capitão Hastings, em diferentes cenários, desde o desaparecimento de jóias ao do primeiro-ministro britânico. Trata-se de uma leitura diferente relativamente aos outros títulos referidos, mas ideal para quem não gosta de tanto suspense.
As investigações acabam por envolver menos personagens, mas o leitor continua a poder criar as suas teorias relativamente à investigação, tornando a obra numa opção que poderá suscitar interesse por parte dos mais novos.
As histórias de Hercule Poirot foram escritas para aqueles que gostam de pensar fora da caixa. Nada é óbvio e, quando aparenta ser, é preciso voltar a pensar nas personagens e nos factos. Não chega ter indícios, testemunhas ou um álibi. É preciso estar atento à linguagem não verbal, à roupa, aos gestos, às marcas… além das próprias intenções do criminoso. Não basta sequer afirmar a existência de provas. Há factos que são verdades apenas até alguém ter a coragem de duvidar.
Afinal, o que poderá realmente motivar um crime?
Fonte da capa: Unsplash
Artigo revisto por Beatriz Neves
Adoro ler um bom livro sobre invistigação criminosa, e este artigo despertou-me o interesse pelas obras da autora Agatha Christie.