Jogos Olímpicos: um pesadelo para a sustentabilidade?
Os Jogos Olímpicos cresceram década após década e são o evento desportivo mais antigo de que há memória. Tiveram início em 776 a.C., na Grécia Antiga. São capazes de reunir delegações de mais de 200 países numa única cidade. Em comparação, nem a Organização das Nações Unidas consegue juntar tantas nações. Desde 1894, os Jogos Olímpicos foram interrompidos apenas durante os períodos das duas guerras mundiais. De resto, foram sempre realizados de quatro em quatro anos.
Sustentabilidade: uma preocupação acrescida
Os jogos de Sochi 2014 e Rio 2016 foram as duas edições com maior impacto ambiental e social da história recente do evento. Estima-se que os jogos de 2016 tenham emitido 4,5 milhões de toneladas de CO2 e os de 2014, apesar de uma menor emissão de carbono, foram os que mais desgaste ambiental causaram.
Os Jogos de Londres, em 2012, foram anunciados, na altura, como os mais ambientalmente corretos da história. Utilizaram inovações tecnológicas verdes e tomaram importantes medidas. No entanto, apesar dos esforços, cometeram alguns erros, como o facto de as medalhas serem altamente poluentes e haver patrocinadores com práticas pouco ou nada sustentáveis. Estes jogos acabaram por gerar 3,3 milhões de toneladas de CO2.
“Quente. Frio. Seu.”
(lema dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi.)
As organizações que lutam pela preservação do meio ambiente concluíram que os desgastes causados pelas obras realizadas podem ter sido irreversíveis. Foram violadas leis nacionais de proteção da natureza para que fosse possível construir em locais como o Parque Nacional de Sochi, uma área com 2000 quilómetros quadrados que abrigava quase 700 espécies de fauna e flora local.
Entre os efeitos destrutivos estão a construção de hotéis ao longo do Mar Negro, de pistas ao longo de quilómetros do parque e a falta de cuidado no lançamento das águas residuais.
“Be better, together – For the planet and the people”.
A frase acima foi o lema dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Considerada a edição mais sustentável, diminuiu o mínimo registado de emissões para as 2,73 milhões de toneladas de CO2.
Para o conseguir, adotou diversas medidas tais como a implementação de transportes elétricos, estrados (das camas) feitos de cartão, tocha olímpica feita de alumínio reciclado, pódios construídos com plástico reciclado (400.000 garrafas de plástico recicladas), medalhas feitas com material reciclado (78 toneladas de material eletrónico e mais de 6 milhões de telemóveis doados pela população japonesa), eletricidade quase totalmente gerada por fontes renováveis e o reaproveitamento de arenas (dos 43 espaços utilizados, 25 já existiam).
A organização dos jogos seguintes, em Pequim, mostrou-se muito preocupada em manter a sustentabilidade atingida dois anos antes, e esteve à altura das expectativas. Uma das medidas implementadas foi dar uso aos equipamentos existentes já utilizados aquando dos Jogos Olímpicos de Verão de 2008, na mesma cidade. Dessa forma, a organização dos Jogos de 2022 aproveitou 11 das 13 infraestruturas utilizadas no evento.
“Jogos para todos”
Paris 2024 será a próxima edição dos Jogos Olímpicos e a organização está comprometida a acelerar a ação climática a nível local. Para orientar todas as partes interessadas na redução das emissões de CO2, vão ser usadas ferramentas como o “Climate Coach”, uma aplicação para ajudar os funcionários a reduzir o consumo de carbono pessoal e profissional ou a “calculadora da pegada de carbono”, que será criada até 2022, e vai ser personalizada para eventos desportivos, tornando-se assim disponível para a indústria. Além disso, 95% dos locais são existentes ou temporários. (marcos da arquitetura francesa vão ser transformados temporariamente em arenas desportivas) e vai-se apostar na mobilidade por transportes públicos. Por fim, as construções permanentes têm um plano a longo prazo. Por exemplo, o Centro Aquático será uma área com três piscinas de que população terá a oportunidade de desfrutar aquando do fim do evento.
“Através da sua nova estratégia de ação climática, Paris 2024 envia um forte sinal ao mundo sobre a importância de uma ação climática ambiciosa e inclusiva. (…) Devemos, podemos e seremos bem-sucedidos na luta contra a mudança climática.“
Niclas Svenningsen, Gerente de Mudança Climática da ONU.
Se os próximos Jogos Olímpicos vão ser os mais sustentáveis de sempre como prometem? Ainda vamos ver. O que podemos saber hoje é o que é que cada um de nós faz para ser sustentável a nível individual. Mede a tua pegada de carbono nesta calculadora e vê quão sustentável és e o que podes fazer para melhorar. https://calculator.moss.earth/
Artigo redigido por Catarina Malhado e Leonor Lopez
Artigo revisto por Maria Beatriz Batalha