O nosso universo: da partícula elementar à formação de um buraco negro
A literacia científica desempenha um papel importante tanto na sociedade como na vida pessoal. A ciência está presente nas tarefas e nos objetos mais simples, como olhar para um relógio, seja de punho, de bolso, de parede, ou simplesmente o telemóvel. É necessário saber as horas para acordar, ir trabalhar ou apanhar um transporte, mas e se alguém dissesse que o tempo é relativo?
Stephen Hawking (1942 – 2018) defendia a relatividade, presente na localização exata de um corpo, no seu tipo de movimento e no momento exato em que um acontecimento acontece. Embora não tenha sido o primeiro a refletir sobre o tema e a estudá-lo, na edição atualizada de 2021 do livro Breve história do tempo, o cientista explica algumas questões físicas como esta, dando como um dos seus exemplos o movimento “vertical” de uma bola dentro de um comboio: se um passageiro que esteja dentro de um comboio em andamento atirar uma bola para cima, vê um movimento vertical; no entanto, uma pessoa que esteja fora do comboio não tem a mesma percepção, uma vez que a bola também segue uma trajetória horizontal. O autor refere este acontecimento como um exemplo de relatividade, o que não se traduz apenas desta forma.
O tempo é outra grande prova, variando de acordo com a posição de um corpo no universo, entre outras variáveis. Quanto mais se sente a força da gravidade, mais devagar passa o tempo, ou seja, à medida que o corpo se aproxima de um buraco negro, que tem uma grande força de gravidade, mais lenta se torna a perceção do tempo.
O livro começa com o capítulo A nossa representação do universo, que introduz o leitor à posição do planeta Terra no sistema solar e a algumas teorias sobre a mesma, desde as teorias de Aristóteles, no ano 340 a. C., ao modelo aceite atualmente. Como não poderia faltar, existem também reflexões sobre a origem do universo, incluindo a teoria do Big Bang, e o que lhe poderá ter antecedido. O cientista não nega nem afirma a existência de um possível Deus, demonstrando que acreditar na ciência não implica abdicar de crenças:
“Pode imaginar-se que Deus criou o universo em qualquer momento passado. Por outro lado, se o universo está em expansão, pode haver razões de natureza física para um começo. Poderia continuar a imaginar-se que Deus criou o universo no instante do Big Bang, ou mesmo depois, de tal modo que o Big Bang parecesse ter ocorrido, mas não teria qualquer significado supor que tinha sido criado antes do big bang. Um universo em expansão não exclui um criador, mas impõe limitações ao momento do desempenho da criação!“
Stephen Hawking, em Breve história do tempo [Edição atualizada] (Editora Gradiva, 2021, p.19)
Este capítulo acaba por ser uma introdução a vários outros temas falados ao longo da obra, entre eles o destino do universo, as partículas elementares, buracos negros e viagens no tempo.
Stephen Hawking permite aos leitores perceber um pouco do nosso universo independentemente do grau e área de formação científica dos mesmos. Trata-se de um livro de uma área especializada, requerendo mais atenção e estudo em relação a obras de ficção ou autobiografias, e, quanto mais conhecimento da área o leitor tiver, mais fácil a leitura se torna, sendo necessário entender primeiro algumas bases, como a constituição de átomos ou as leis de Newton. No entanto, o autor recorre a breves explicações de alguns termos, a exemplos do dia a dia e a esquemas, ao longo dos doze capítulos, referindo também fases ou acontecimentos da sua vida que se relacionam com os mesmos.
O livro inclui também um glossário que explica termos e princípios importantes de uma forma simples, como o princípio da incerteza, que refere a impossibilidade de saber simultaneamente a posição e velocidade de uma partícula. As definições são curtas e recorrem a linguagem científica de maior compreensão. Também estão presentes em várias páginas notas de rodapé para contextualização. A obra ainda possui uma pequena introdução a outros três grandes nomes da física, incontornáveis no que diz respeito aos temas referidos: Galileu Galilei, Isaac Newton e Albert Einstein.
Breve história do tempo é um livro indicado tanto para quem tem gosto pela física como para os leitores que não tenham muito conhecimento da área mas pretendam diversificar as suas leituras.
Fonte da capa: Unsplash
Artigo revisto por Beatriz Morgado
