Opinião

Hey, para quê a pressa?

Quando foi a última vez que paraste, largaste tudo por um bocadinho que fosse, e te apercebeste do exato momento presente? Já reparaste na forma como o ar te está a entrar pelo nariz? Na forma como o teu peito se ergue a cada inspiração, e como se relaxa a cada expiração? A sensação da tua roupa e a forma como ela se adapta ao teu corpo, como é? Talvez a textura te faça confusão, ou talvez até seja bastante confortável e te faça sentir como se estivesses num abraço aconchegante. Qual é a cor mais chamativa do espaço onde estás agora? Gostas dela, ou faz-te doer os olhos? E os sons à tua volta? Talvez sejam incomodativos, ou podem até ser agradáveis, ou causar-te indiferença.

É possível que estas simples perguntas te tenham feito sentir o presente. Espero que sim, já que ele é o único que há e é nele onde a vida acontece. Nunca experienciamos, e nunca vamos experienciar, nem o passado, nem o futuro. No fundo, sempre foi assim: apenas existimos no agora, mas na maioria do tempo escolhemos ignorá-lo.

Com a cabeça a mil, por vezes sentimo-nos assustados ao ver o tempo a correr sem ter a consideração ou simpatia de esperar por nós. Com tantos objetivos, sonhos para concretizar e tarefas para riscar nas nossas listas de afazeres diários, parece que as 24 horas do dia não são suficientes. Mas temos de ter calma: viver a vida à pressa é algo perigoso de se fazer e não vale a pena já que esta tem de ser apreciada em todos os momentos (incluindo os difíceis).

Infelizmente, tu vais morrer um dia, tal como eu ou qualquer outra pessoa. É um facto no qual odiamos pensar. Afinal, o que poderia ser mais assustador do que saber que temos um tempo limitado para viver a melhor vida que nos é possível e experienciar tudo o que um mundo tão vasto como o nosso tem a oferecer?

Este facto traz-nos uma pressão que nos induz uma angústia tremenda, uma ansiedade e pressa de viver que se tornou automática e é a norma da sociedade. Queremos ter tudo feito para ontem: temos pressa de trabalhar, porque trabalhar dá dinheiro. Ter dinheiro permite-nos ter uma vida mais fácil. Uma vida fácil é uma vida mais feliz. Temos pressa de construir relacionamentos, porque também eles nos deixam mais felizes. Afinal, tudo gira à volta da pressa de ser feliz. Isto, no entanto, é altamente contraditório, pois a pressa é inimiga da perfeição. Se estivermos constantemente à pressa e construirmos as nossas vidas baseadas nisso, não vamos alcançar nem metade do potencial que nos seria possível: não apreciaremos os pedacinhos de felicidade que nos são proporcionados em coisas tão mínimas que levamos como garantidas, como comer a nossa comida favorita calmamente, saboreando-a ao máximo,sentir o quentinho do sol na nossa pele, o cheiro da chuva nos dias de inverno ou da relva cortada na primavera enquanto caminhamos para a escola ou trabalho. Às vezes, para pouparmos uns míseros cinco minutos, deixamos de ser gratos pelas pessoas que temos nas nossas vidas e pelo que elas nos ensinaram, e também de apreciar as lutas do dia-a-dia e como elas nos ajudam para que nos tornemos nas melhores versões de nós próprios.

Não existe nada mais assustador do que chegar aos nossos últimos suspiros e sentir apenas arrependimento ao recordarmos as nossas memórias como se elas estivessem enevoadas de tão rápido que as vivemos. Por isso, o melhor que podemos fazer é ter calma, estar no presente e pensar no futuro de forma moderada; planear uma boa vida, mas cumprindo o real propósito dela: vivê-la.

Concluindo, viver à pressa não vale a pena, e desejar que o tempo se despache não o afeta. As horas vão ter sempre 60 minutos, os dias vão ter sempre 24 horas, os meses até 31 dias e os anos 12 meses. Lembra-te de que nada adianta querer que as segundas-feiras passem depressa para que os fins-de-semana cheguem de uma vez, pois o tempo irá demorar o tempo que tiver que ser. Por isso, aproveita e demora tu também o tempo de que precisares.

Fonte da capa: ekklesiatc

Artigo revisto por Daniela Leonardo

AUTORIA

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Curiosamente, quando era mais nova a Sara detestava escrever. Fazia-o por demanda da professora, e não por vontade própria. Até que um dia apercebeu-se de que com a escrita vem um grande poder: Podia criar todo um universo da maneira que quisesse, onde qualquer coisa poderia existir ou acontecer, por mais maluca ou utópica que fosse a ideia. Desde que teve esta epifania, desenvolveu gosto pela escrita e começou, pela primeira vez na vida, a escrever porque queria e não por obrigação. É atualmente estudante de Audiovisual e Multimédia na Escola Superior de Comunicação Social e entrou na ESCS Magazine com o intuito de desenvolver as suas habilidades, expandir o seu autoconhecimento e conhecer as mentes brilhantes de pessoas que partilham os mesmos interesses.