Cinema e Televisão

The Killer: David Fincher entra em ação

The Killer é a nova aposta da Netflix e traz de volta a dupla David Fincher (realizador) e Andrew Kevin Walker (guionista), responsáveis por um dos filmes de caça ao assassino mais icónicos de sempre – Seven.

Desta vez, Fincher retrata um episódio na carreira de um assassino e as consequências que isso lhe traz, levam-no a uma viagem pelo mundo à procura de vingança. 

Contudo, The Killer não nos apresenta o tipo de hitman a que estamos habituados em filmes de ação, a personagem de Michael Fassbender distingue-se por uma distintiva falta de personalidade, pouco típica neste tipo de personagem (como por exemplo, o famoso 007 ou John Wick). O guião do filme optou por uma caracterização pouco profunda, apresentando a sua personagem principal sempre em roupas pouco estilizadas, habitação decorada de forma impessoal e pouca transparência de gostos, como por exemplo nos veículos utilizados por este ao longo do filme.

Notoriamente, os únicos traços marcantes que a audiência consegue reconhecer no assassino são transmitidos graças aos monólogos usados para a exploração da personagem, uma vez que o killer (a quem o guião não atribui nome) vive um dia-a-dia solitário. É, também, através da execução das suas tarefas que conseguimos vislumbrar alguns traços de personalidade na interpretação deste homem, nomeadamente na interpretação de uma missão, sendo que este aplica um método de trabalho perfeccionista e com uma estética sensível, pois todo o seu trabalho é surpreendentemente limpo e objetivo.

A maior crítica que podemos apontar ao filme é, sem dúvida, a distância que é criada entre público e personagem, visto que toda a ação decorre com a finalidade de vingança sobre uma circunstância da qual temos pouquíssima informação. É difícil reconhecer uma real implicação emocional com as consequências e obstáculos que a personagem principal enfrenta e, acima de tudo, empatizar com a sua missão.

Seguindo o enredo típico de um filme de ação, The Killer destaca-se pela brilhante realização cinematográfica e, no geral, pela orientação criativa que apresenta.

Uma das características marcantes deste filme é o facto de estar dividido em capítulos não só por ter sido adaptado de uma novela gráfica, mas também para seguir a precisão da personagem na sua metodologia, como se fosse de tarefa em tarefa. O filme mantém sempre um ritmo e intriga interessante ao espectador, apesar de se focar numa única personagem.

A cinematografia não deixa dúvidas do talento de Fincher em enquadrar a sequência perfeita, quer seja esta focada numa personagem ou num cenário. A câmara é várias vezes posicionada no ponto de vista da personagem, isto é, de forma a termos uma noção da visão da personagem, dando-nos um plano objetivo, que se traduz em muitos momentos numa demonstração de paciência e precisão. Nos momentos em que o realizador pretende provocar uma certa análise da sua personagem principal, este enquadra um wide shot para que possamos não só observar o personagem, como o seu ambiente.

O cuidado visual é também algo a destacar, visto que este filme utiliza a luz como forma de contar a narrativa, sendo utilizados os cenários mais escuros quando o hitman se encontra num dos seus “espaços de trabalho”, aparecendo muitas vezes mais a sua silhueta. Em contraste, os espaços mais iluminados são usados durante momentos de transição, ou, então, na preparação de uma tarefa, criando e mostrando reais momentos de diferenciação no headspace do assassino.

Por fim, a utilização do som é particularmente bem conseguida em The Killer. Não só a música como todos os sons utilizados no filme são meticulosamente integrados na sua cadência. A título de exemplo, os sons de sequências de luta são aplicados de forma a garantir movimento ao filme, apesar de a ação decorrer num ambiente menos iluminado e menos favorável a termos uma boa visão do que está a acontecer. Já na música, marcada pela banda The Smiths, o filme conta com uma banda sonora solitária – assim como a sua personagem principal – e apenas é o foco central quando estamos a ver a ação do ponto de vista da personagem principal, fora isso é ouvida à distância, separando o espectador do assassino.

Ao contrário de outros filmes do mesmo realizador, The Killer destaca-se por fazer uma introspecção do espectador, ao invés de procurar que este se relacione com uma causa que aborda no filme. É por esta razão que o guião aceitou o risco de tornar a personagem central da narrativa subjetiva, deixando ao espectador o papel de apurar o seu senso de moralidade e julgar aquilo que vê.

Fonte: MovieWeb

Fonte da capa: The Ringer

Artigo por revisto por Maria Batalha

AUTORIA

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Atualmente no primeiro ano da licenciatura em Publicidade e Marketing, a Mariana é uma grande apreciadora de todas as formas de entretenimento, mas encontrou no cinema a sua grande paixão, que lhe permite reunir todos os seus gostos em um. Sempre soube que iria enveredar por uma área ligada à comunicação o que a levou até à ESCS, onde teve a oportunidade de ligar a curiosidade que sempre teve pela escrita ao hobbie que mais ocupa o seu tempo (ver filmes e séries).