The Tortured Poets Department – mágoa transformada em arte
THE TORTURED POETS DEPARTMENT é um álbum duplo, do qual fazem parte 31 músicas inéditas, incluindo duas colaborações com Post Malone e Florence + The Machine.
O ano começou em grande para Taylor Swift. No dia 4 de fevereiro, depois de vencer o seu 13.º GRAMMY com o álbum Midnights, a cantora aproveitou o momento para anunciar o seu próximo disco, no qual trabalhou durante dois anos.
Na madrugada de 19 de abril, THE TORTURED POETS DEPARTMENT foi lançado nas plataformas de streaming, mas o que os fãs não sabiam é que este disco, do qual inicialmente pertenciam apenas 16 músicas, afinal era um álbum duplo.
Pelas sete da manhã foram lançadas, de surpresa, mais 15 canções, completando as 31 que formam o projeto intitulado THE TORTURED POETS DEPARTMENT: THE ANTHOLOGY. No Instagram, a cantora escreveu: “Escrevi tanta poesia torturada nos últimos 2 anos e queria partilhar tudo convosco, então esta é a segunda parte de TTPD: The Anthology. 15 músicas extras. E, agora, a história já não é apenas minha… é toda vossa.”
THE TORTURED POETS DEPARTAMENT
Fortnight com Post Malone dá o pontapé inicial e serviu como primeiro single do projeto. Com uma produção sombria, mas simultaneamente animada e sensual, a faixa indica aos ouvintes o tom do álbum. “Eu devia ter sido mandada embora / Mas esqueceram-se de me vir buscar / Eu era uma alcoólatra funcional / Até ninguém ter reparado na minha nova estética”, ouve-se logo nos primeiros segundos. Tal como é habitual nas colaborações de Swift, Post Malone não teve direito a um verso apenas seu, mas a sua presença é marcante.
A faixa-título tem um tom exagerado e propositadamente irónico – tal como em But Daddy I Love Him, na qual é interpelada a famosa fala de Ariel em A Pequena Sereia e a cantora brinca com os ouvintes: “Vou ter um filho dele / Não, não vou, mas deviam ver as vossas caras”. É pressuposto que a faixa seja acerca do recente caso da cantora com Matty Healy, integrante da banda The 1975, com referências a amigos e colaboradores de Swift e a figuras icónicas da poesia: “Tu não és o Dylan Thomas, eu não sou a Patti Smith / Este não é o Chelsea Hotel, somos idiotas modernos (…) / Mas disseste à Lucy que te matarias se eu me fosse embora / E eu disse isso ao Jack, então, senti-me vista”.
My Boy Only Breaks His Favorite Toys explora as complexidades do mesmo caso, com recurso a metáforas sobre brinquedos partidos. A canção explora o caos emocional de uma relação turbulenta que terminou — novamente, já que é possível que os dois cantores tenham estado juntos em 2014 —, apesar de uma “série de razões pelas quais poderíamos ter jogado até ao fim, desta vez”.
Down Bad é possivelmente a mais animada do projeto, relembrando a produção dos seus álbuns pop como 1989, especialmente da faixa “Slut!”. Esta aborda como tema a separação recente com Joe Alwyn, parceiro de Swift entre 2017 e 2023. É também em So Long, London que ficamos a conhecer o lado da história da relação entre os dois pela voz da mesma. Com quatro minutos e meio, So Long, London não tem aquilo que é necessário para ser digna do lugar de quinta faixa do projeto, uma vez que, segundo Swift, as quintas faixas são as mais vulneráveis de cada um dos seus discos. Florida!!! possui um lirismo rico e um som nunca ouvido pela parte de Swift, estando a presença de Florence + The Machine evidente em toda a produção – e talvez seja isto que a torna um dos momentos altos do projeto.
Who’s Afraid Of Little Old Me? e I Can Do It With A Broken Heart são também dignas de atenção. A primeira, composta unicamente por Swift, é, sim, a mais vulnerável do disco e discute temas sobre os quais a mesma decidiu não se pronunciar nos últimos anos, como a alegada discussão com Olivia Rodrigo, o caso breve e controverso com Matty Healy, as acusações de que a sua relação com o atual namorado Travis Kelce seria uma estratégia de marketing e as invasões por parte de fãs à antiga casa: “Para que as crianças possam invadir a minha casa com teias de aranha / Estou sempre bêbada nas minhas próprias lágrimas, não foi isso que disseram? / Que eu processar-te-ei se pisares o meu relvado”.
Em I Can Do It With A Broken Heart, a artista discute a forma como conciliou a digressão The Eras Tour — que passará por Portugal a 24 e 25 de maio — com a separação com o ex-parceiro Joe Alwyn. Mais uma vez, utilizando um tom irónico, canta: “Porque eu sou mesmo forte / Consigo lidar com as minhas m*****s / Eles disseram: “Querida, tens que fingir até conseguires” e eu fi-lo / Luzes, câmara, cabra, sorri / Mesmo quando queres morrer (…) Todos os meus bocados se despedaçaram enquanto a multidão gritava: “Mais” / Eu sorria como se vencesse (…) Porque eu consigo fazê-lo com o coração partido”.
Travis Kelce não foi esquecido, dispondo também de uma música dedicada a si. The Alchemy retrata as vitórias do jogador e possui diversas referências a futebol americano e à recente vitória no Super Bowl.
O disco “standard” termina com Clara Bow, uma canção que traça uma semelhança à estrela de cinema com o mesmo nome. Clara Bow ficou conhecida por ter uma vida amorosa atribulada e por sofrer de vários problemas mentais relacionados com a fama. A faixa termina com as linhas: “Pareces a Taylor Swift / Sob esta luz, nós adoramos / Tu tens a vantagem, ela nunca teve / O futuro é brilhante e deslumbrante”
THE TORTURED POETS DEPARTMENT: THE ANTHOLOGY
A segunda parte deste disco admirável sofre uma mudança de tom, com influências indie e folk, do mesmo modo que folklore e evermore (2020). The Black Dog, The Albatross, The Bolter e The Manuscript eram nomes já conhecidos por quem segue a artista, fazendo parte das edições exclusivas do disco, que se encontrava em pré-venda há alguns meses.
Em thanK you aIMee — propositadamente capitalizada para soletrar “KIM” — e Cassandra, Kim Kardashian (e aqueles que a defenderam) sofrem também uma crítica por parte de Swift, relembrando o drama de 2016: “Eu não acho que tenhas mudado muito / Então, mudei o teu nome e quaisquer pistas óbvias / E, um dia, a tua filha chegará a casa a cantar / Uma música que apenas nós as duas saberemos que é sobre ti”.
Se há algo a apontar a esta segunda parte do disco é que I Look In People’s Windows, com bastante potencial para ser uma das maiores do projeto, é, infelizmente, a canção mais curta da discografia de Taylor Swift.
O 11.º álbum da cantora americana começou a quebrar recordes ainda antes do lançamento, tornando-se o disco mais “pré-guardado” no Spotify. Nas primeiras 24 horas, o projeto recebeu mais de 313 milhões de streams, tornando-se a maior estreia da história da plataforma (ultrapassando o seu próprio recorde de Midnights com uma margem de +100 milhões de streams). Este número deu à artista, ainda no primeiro dia, a maior estreia semanal do ano.
Com uma vulnerabilidade, produção e escrita impecáveis, TTPD merece, sem dúvida, o título de álbum do ano e da carreira de Swift. Tal como é dito no prólogo do disco, “tudo é justo no amor e na poesia” e quem melhor para os descrever se não Taylor Swift?
Artigo revisto por Beatriz Mendonça
Fonte da capa: Instagram (@taylorswift)
AUTORIA
Duarte tem 20 anos e foi apenas no fim do primeiro ano no curso de Publicidade e Marketing na ESCS que decidiu que Jornalismo era o seu futuro. Desde sempre que a música foi a sua grande paixão, associando cada uma das memórias mais antigas com uma música diferente. Com um gosto especial por pop e pop alternativo, sonha um dia poder fazer parte da equipa de uma rádio.