Por ti, Portugal, eu juro! – documentário que retrata vidas da guerra
Por ti, Portugal, eu juro! foi um dos filmes portugueses apresentados na 22.ª edição do Festival Internacional de Cinema Doclisboa, que decorreu de 17 a 27 de outubro de 2024, criado com inspiração de uma reportagem da revista Divergente. Esta obra, que está dividida em quatro capítulos, tem como base uma investigação que ocorreu entre 2016 e 2021 e, segundo os autores, reflete a paixão de uma equipa pelo seu trabalho.
Mesmo antes de começar, o filme atraiu muita atenção: dezenas de pessoas reuniram-se com entusiasmo e vontade de ver este resultado nas salas do Culturgest. Os realizadores, Sofia de Palma Rodrigues e Diogo Cardoso, partilharam uma pequena apresentação, em que referiram que a ideia surgiu inicialmente a partir de uma tese feita por um deles e que, oito anos depois, construíram uma longa-metragem que estreou mundialmente. Pelo facto de ser internacional, no decorrer do filme existem legendas em inglês, para garantir a acessibilidade às pessoas que não falam ou entendem português.
Esta longa-metragem documental retrata a história de abandono e traição dos Comandos Africanos da Guiné que foram recrutados e combateram na Guerra Colonial por Portugal. Segundo a página oficial do filme na Divergente, Portugal tirou proveito dos militares africanos que assumiram a dianteira da guerra, prometendo-lhes uma vida melhor. Dos entrevistados neste filme, destacam-se “João” Séco Mané, “Joaquim” Boquindi Mané, “Mário” Umarú Sani e “Luís” Hernâni Quecói Turé, todos eles soldados que foram forçados a adquirir um primeiro nome português, visto que era uma regra obrigatória na altura. Os chefes das Forças Armadas conquistaram-nos através da persuasão, das promessas, da transmissão de coragem, e não através da coação física. Um dos ex-soldados refere que apenas fez o juramento a uma bandeira, a de Portugal.
Após a Revolução dos Cravos, em 1974, os Capitães de Abril foram recompensados com a liberdade e foi esperado o mesmo para os militares africanos. Em resposta a isto, o Estado Português respondeu com silêncio. Em agosto de 1974, foi assinado o Acordo de Argel, que garantia a reintegração destas forças militares na nova vida civil da Guiné-Bissau e conferiu ao Estado português a responsabilidade do pagamento de pensões e reforma dos que combateram no seu exército, tendo sido oficializada a transferência de poderes do governo português para o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde). Depois da vitória contra o seu país, os Comandos abandonados em Bissau por Portugal receberam críticas pelo PAIGC, que viu neles uma ameaça que merecia ser punida: muitos foram fuzilados e os restantes maltratados de forma desumana na prisão, por estarem precisamente a lutar contra o seu próprio país.
A independência de Guiné-Bissau só foi reconhecida internacionalmente a 10 de setembro de 1974, após a Revolução de Abril. Moçambique e Angola só conseguiram alcançar a sua independência mais de um ano após a Revolução, a 25 de junho de 1975 e 11 de novembro de 1975, respetivamente.
Uma obra emocionante que apresenta a história de corajosos combatentes que ainda hoje não desistem de lutar pelos seus direitos, entres eles a devolução da nacionalidade portuguesa, pois o estado implementou a lei n.º 308 – A75, que só declarava português aquele que completasse pelo menos o 3.º grau do artigo – “Portugueses nascidos no estrangeiro de pai ou mãe nascidos em Portugal ou naturalizados” – e pagamentos de pensões de sangue, fome e invalidez.
É muito importante este tipo de entretenimento, especialmente para dar a conhecer a história aos mais novos e espalhar compaixão pelas pessoas que perderam quase tudo, mesmo que não estejamos à frente delas. Este tipo de histórias deve ser passado às gerações futuras, juntamente com o conhecimento a elas associado.
Fonte da capa: CES – Universidade de Coimbra
Artigo revisto por Inês Gomes
AUTORIA
A Inga está no primeiro ano de licenciatura em Audiovisual e Multimédia. É uma amante de todas as formas de arte, desde música, cinema e televisão até exposições, teatro e artes plásticas. O seu envolvimento com a escrita sempre foi uma constante na sua vida, e ela sempre adorou dar a sua opinião sobre os diversos assuntos que rondam o mundo. Sempre que tem uma ideia, não hesita em anotá-la, esteja onde estiver. O enriquecimento cultural e o contributo para o seu desenvolvimento pessoal são algumas das razões pelas quais compartilhará as suas ideias na ESCS Magazine, juntamente com a sua habilidade para organizar seja o que for.