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Carlos Mané: Um exemplo de superação, esforço e dedicação

Carlos Mané é um jogador de futebol luso-guineense, que atualmente joga no Kayserispor (Turquia) e representa a seleção da Guiné-Bissau. Iniciou a sua carreira no Sporting, deu-se a conhecer aos relvados alemães, passou pelo Norte de Portugal, jogando no Rio Ave, e, atualmente, continua a mostrar o seu potencial no extremo sudoeste da Europa.

Fonte: Carlos Mané via Instragram (@official_carlosmane)

Quando é que soubeste que o futebol era o teu sonho e, potencialmente, o teu futuro? Fala-nos um bocado sobre a tua trajetória inicial. 

Carlos Mané (CM): Desde pequeno, sempre gostei da bola e era uma coisa que me chamava muito à atenção. Quando jogava à bola com os meus amigos, entre os quatro e os seis anos, eu destacava-me. E foi aí que, no meu bairro, viram-me e disseram-me logo que eu tinha que me inscrever em um clube e foi aí que eu comecei no Sporting. 

O futebol sempre foi a minha paixão, o que eu mais queria fazer e graças a Deus deu certo. Sempre foi a minha principal vocação, a minha primeira e única escolha. Eu decidi que queria ser um jogador de futebol e por isso deixei muitas coisas para trás, várias coisas que podia fazer e não fiz, para poder estar focado no futebol e poder dar uma vida estável à minha família. 

Que dificuldades tiveste de enfrentar e em que medida sentes que isso te tornou quem tu és hoje?

CM: Eu passei por muitas dificuldades, mas essas dificuldades tornaram-me um bom homem e uma boa pessoa. No meu primeiro ano, no princípio a minha mãe levava-me aos treinos. Mas nos últimos meses dos meus sete anos comecei a ir sozinho, um miúdo de apenas sete anos em busca do sonho, não é? Agora poucos miúdos com apenas sete anos têm essa liberdade e essa confiança de irem sozinhos para os treinos. Eu já tinha, o que me ajudou a crescer bastante. 

Já fui assaltado no autocarro, por jovens mais velhos que eu, maiores que eu. Mas isso fez-me crescer, ganhar mais maturidade e fazer as minhas coisas sozinho. Com apenas sete ou oito anos já me sentia muito maior para a idade que tinha, porque já fazia coisas que crianças mais velhas que eu faziam. Comecei a focar-me muito cedo e isso tornou-me o homem que eu sou hoje, fazendo com que até agora eu esteja focado na minha vida profissional e familiar.

Fonte: Mais Futebol

Se pudesses voltar atrás, achas que terias feito algo diferente?

CM: Não, não tinha feito nada diferente. Teria feito tudo igual para que pudesse dar certo como está a dar, porque eu acho que sou um rapaz abençoado por Deus.

Ainda me lembro quando fui fazer testes no Sporting e estavam para aí 50-54 crianças, e só ficaram três… desses três eu fui o único que se tornou jogador profissional de futebol e jogador do Sporting. Portanto não, eu não mudaria nada… voltaria a fazer tudo do mesmo jeito e sei que iria conseguir alcançar os meus objetivos. 

Como é lidar com as expectativas e a pressão?

CM: No início não é fácil para quem não está habituado a pressão. Mas eu sempre joguei no sporting, nunca estive em um clube pequeno, então a pressão já é algo que se aprendia automaticamente, porque sempre que se entrava em um jogo era para ganhar, então automaticamente já havia pressão. Isso ajuda quando já somos adultos, para que a pressão já não seja algo tão importante, porque é algo que aprendemos desde novos. 

Não só a pressão a jogar futebol, mas também a pressão em ajudar a família. Porque nós sabemos que muitos jogadores de futebol vêm de famílias pobres, o que já exige muita pressão em casa, para que a criança se torne um jogador de futebol ou tenha uma boa profissão… e desde cedo eu já tinha pressão, mas essa pressão ajudou-me a ser mais homem e ensinou-me a conquistar os meus objetivos pessoais e familiares. 

Até hoje, qual dirias que foi o melhor momento da tua carreira?

CM: O meu melhor momento foi o meu primeiro golo na liga dos campeões, que é a maior competição entre clubes de futebol. Foi em 2014, em casa, no estádio José Alvalade, contra o Maribor, em frente a milhares de espectadores. 

Há algo que ainda desejas atingir?

CM: No futebol nós queremos sempre atingir mais e mais, tanto desportivamente como financeiramente. O que eu desejo mesmo agora neste momento é pensar jogo a jogo, dar o meu melhor para poder ajudar a minha equipa e para que a minha família esteja orgulhosa de mim. É isso que eu quero atingir. 

Fonte: Carlos Mané via Instagram (@official_carlosmane)

A tua família com certeza sente-se muito orgulhosa dos valores que aplicas para a tua vida, dentro e fora dos relvados. Quais são os melhores valores que o futebol te ensinou?

CM: Muitos valores. Por exemplo, na derrota e na vitória, é muito importante que a equipa esteja sempre junta. Ou que quanto mais difícil, maior é o sabor da vitória, isso foi outro valor que o futebol me ensinou. Por último, só o talento não basta. Eu tive vários colegas que jogaram comigo, e tinham muita qualidade, se calhar mais qualidade que eu. Tinham mesmo muito talento, mas só o talento não basta. Isso quer dizer que, se tiveres muito talento, mas não estiveres focado e não trabalhares, o teu talento vai por água abaixo e não conseguirás chegar a um patamar alto no futebol. 

Que conselhos darias aos jovens que estão agora a iniciar as suas carreiras profissionais, não só relacionadas ao desporto?

CM: Que nunca desistam dos seus sonhos. Muitas vezes parece que estamos muito longe do nosso sonho, mas estamos muito perto e se desistirmos, deitamos tudo por água abaixo. Portanto, nunca desistam dos vossos sonhos, estejam sempre focados, só o talento não basta. Eu posso ser muito talentoso a desenhar, mas se não me esforçar para desenhar cada vez melhor, a outra pessoa que não desenha tão bem mas esforça-se, vai continuar a evoluir até um dia desenhar melhor que eu.  Isto é só um exemplo e também aplica-se no futebol. Eu posso ter muitas qualidades, posso fintar muito bem, mas se não trabalhar no ginásio, se não comer bem e se não estiver bem fisicamente, não adianta de nada, não vou conseguir chegar a um nível alto.

 Então, esse é o conselho que eu dou, nunca desistam e foquem-se ao máximo no que vocês querem para que consigam concretizar os vossos sonhos. 

Fonte da capa: Mais Futebol

Artigo revisto por Beatriz Mendonça

AUTORIA

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A Núria é uma jovem de 19 anos que acabou de entrar no curso de Relações públicas e comunicação empresarial na ESCS.
É muito ambiciosa e sonha em ter uma profissão que possa desafiá-la intelectualmente, mas que também a permita explorar a sua personalidade e o seu lado extremamente comunicativo, que é uma das suas principais características desde muito nova.
A Núria sempre adorou ler e escrever. Com apenas 7 anos escrevia pequenas histórias no seu computador, mas com 10 anos teve o seu primeiro diário e foi a partir daí que passou a ver a escrita como uma forma de expressar aquilo que muitas vezes não conseguia dizer.
É uma menina/mulher de muitas ideias, muitas opiniões e mal pode esperar por partilhar tudo isso na ESCS Magazine!