Shawn: o segundo álbum homónimo de Shawn Mendes
Shawn é o quinto álbum de estúdio do cantor canadiano Shawn Mendes, lançado quatro anos após uma pausa de carreira.
Shawn Mendes tem uma carreira longa bem-sucedida desde 2014, quando lançou o seu primeiro single Something Big. Cinco projetos depois, parece que o mundo da música pop já não lhe pertence – mas porquê?
Depois de se ter apresentado ao mundo com covers no Youtube — particularmente de músicas de Justin Bieber, a quem começa a ser comparado desde o início — o cantor canadiano publica, em 2015, os êxitos mundiais Stitches e I Know What You Did Last Summer, colaboração com Camila Cabello. Handwritten, o álbum que os acompanha, é publicado também no início desse ano.
A Handwritten segue-se Illuminate (2016), do qual fazem parte outros êxitos que marcaram o ano, como Mercy, Treat You Better e There’s Nothing Holding Me Back. Estes dois primeiros álbuns consolidaram a base para uma carreira estável durante cerca de quatro anos: oito singles a alcançarem o top 15, uma estreia em #1 na Billboard Hot 100 e três álbuns consecutivos a atingirem o topo da Billboard 200, cerca de dois milhões de bilhetes vendidos para as suas duas primeiras digressões, conquista de prémios em cerimónias como o American Music Awards, Billboard Music Awards e MTV e aclamação pelas críticas em todo o mundo.
É em 2019, depois do seu primeiro álbum homónimo, Shawn Mendes (2018), que o reconhecimento do até-então-popstar começa a desvanecer.
In My Blood é a primeira música na qual fala sobre os seus problemas mentais: “Deitado no chão da casa de banho / Não sinto nada / Sinto-me sobrecarregado e inseguro / Dá-me algo / Que eu possa tomar para aliviar a minha mente aos poucos.”.
Señorita (2019), segunda colaboração com Camila Cabello, torna-se uma das músicas mais ouvidas do ano e é republicada na edição deluxe do seu terceiro álbum, que se encontra, agora, entre os 50 projetos mais ouvidos de sempre no Spotify, com cerca de sete mil milhões de streams.
Em 2020, Wonder é lançado e é recebido com muito pouco carinho pelos fãs e pela opinião pública. Apesar de os últimos anos lhe terem concedido inúmeras conquistas, Wonder não acompanha este sucesso. Muitos fatores servem para o justificar: uma digressão cancelada por motivos pessoais, pouca atenção aos fãs, à publicidade e à divulgação do disco, desaparecimento completo, mas, especialmente, pareceu que o público se cansou simplesmente das mesmas músicas.
Shawn: o álbum
Até 2024, Shawn Mendes esteve desaparecido naquilo que pareceu um retiro espiritual, marcado por terapia e restabelecimento pessoal, como tem dito em entrevistas recentes — alguns referem, ainda, a passagem por um culto, rumor que aborda na faixa The Mountain.
Shawn foi lançado no dia 15 de novembro, um mês depois da primeira data anunciada no fim de julho, o que revela mais um caso na série de eventos que mostram desorganização da sua parte e da equipa da Island Records.
Este é o seu primeiro projeto com influências de folk e country, mas ainda com muitas das suas origens pop, e reflete um período introspetivo e vulnerável, tratando como temas principais a ansiedade, a solidão, a sua identidade e sexualidade, mas também toca no triângulo amoroso entre si, Camila Cabello e Sabrina Carpenter, que ficou conhecido nos álbuns mais recentes das cantoras (C,XOXO e Short ‘n Sweet, respetivamente).
Why Why Why mostra a capacidade de Mendes para storytelling, enquanto Heavy introduz backing vocals, sob influência do gospel, que dão uma maior profundidade emocional à faixa. Who I Am dá início ao álbum e aborda a crise de identidade que sentiu, mas também o impacto do cancelamento da Wonder: The World Tour (2022).
The Mountain aborda a especulação da sua sexualidade desde o início da carreira no mundo da música: “Podem dizer que sou muito jovem / Podem dizer que estou muito velho / Podem dizer que gosto de raparigas ou rapazes / O que for que se encaixe no vosso molde”. Já Heart Of Gold é uma homenagem a um amigo que faleceu de overdose quando Mendes tinha 18 anos, durante o boom da sua fama.
O disco é coeso na sua produção e narrativa direta e honesta, mas, com apenas 30 minutos, torna-se algo incompleto, deixando pouco espaço para explorar os temas mais profundamente. E depois de quatro anos não era o que se esperava de Shawn Mendes. Além disso, a escolha do título não foi a mais apropriada. Se o cantor já tem um álbum homónimo, outros títulos poderiam ser considerados, do ponto de vista estratégico de marketing… Who I Am, Why Why Why, Rollin’ Right Along são títulos de faixas do disco que poderiam ser usados facilmente para marcar esta sua nova era.
No seu todo, Shawn revela ser um álbum de introspeção e emocionalmente maduro, que reflete uma nova direção na carreira do mesmo. Embora em alguns projetos a simplicidade seja uma força, este novo estilo de Mendes é uma volta de 360 graus daquele que era um dos símbolos mais marcantes no mundo pop masculino. E o que podia ser uma força, com a devida aposta na divulgação do projeto e do seu novo som, tornou-se numa fraqueza. É de notar que, em 2018, Shawn Mendes vendeu cerca de 182 mil cópias na semana de estreia e atingiu o seu penúltimo #1 nas tabelas de vendas. Já Shawn não conseguiu atingir as 30 mil cópias e prevê-se que atinja apenas o top 30 da Billboard 200 (tabela de discos mais vendidos nos Estados Unidos).
Fonte da Capa: Spotify
Artigo revisto por: Sofia Santos
AUTORIA
Duarte tem 20 anos e foi apenas no fim do primeiro ano no curso de Publicidade e Marketing na ESCS que decidiu que Jornalismo era o seu futuro. Desde sempre que a música foi a sua grande paixão, associando cada uma das memórias mais antigas com uma música diferente. Com um gosto especial por pop e pop alternativo, sonha um dia poder fazer parte da equipa de uma rádio.