Música

Taylor Swift comprou o seu trabalho antigo… e o que acontece agora?

A 30 de junho de 2019, Taylor Swift anunciou num tweet que os “master recordings” dos seus primeiros seis álbuns tinham sido vendidos sem o seu consentimento a alguém que lhe tinha feito “bullying incessante e manipulador […] durante anos”. Finalmente, após seis anos, no dia 30 de maio, Swift anunciou que os tinha conseguido comprar de volta.

A disputa inicial

Em 2005, a cantora, com apenas 16 anos na altura, assinou um contrato com a Big Machine Records, que dava à gravadora a propriedade dos “masters” dos seus primeiros seis álbuns de estúdio, que mais tarde se tornariam Taylor Swift (também conhecido por Debut; 2006), Fearless (2008) , Speak Now (2010), Red (2012), 1989 (2014) e reputation (2017).

Mas afinal o que são os “masters”?

Os “master recordings” de um artista são as gravações originais de uma música – ou seja, a versão final e oficial de uma canção a partir da qual todas as cópias (CDs, discos de vinil, streams, etc.) são feitas.

Em termos simples, o “master” é a fonte primária da música e, portanto, quem detém os direitos dele controla o uso comercial dessas gravações, decidindo se uma música pode ser usada em filmes, anúncios ou jogos, por exemplo.

É também o detentor do “master” quem lucra com essas licenças e, normalmente, os artistas que não têm posse dos seus recebem apenas uma pequena percentagem dos lucros dessas utilizações.

Fonte: X

No dia 30 de junho de 2019, foi anunciado que a empresa de Scooter Braun, Ithaca Holdings, tinha adquirido a Big Machine Label Group e o seu catálogo completo, que incluía as gravações originais de Swift. No mesmo dia, a cantora americana afirmou, através do Tumblr, que ficou a saber que o seu catálogo tinha sido vendido ao mesmo tempo que o público, através das notícias divulgadas pela imprensa.

Segundo Swift, ninguém a informou previamente e ela não teve a oportunidade de licitar ou comprar o seu catálogo:

“Durante anos, implorei para ser dona do meu trabalho. Em vez disso, deram-me a oportunidade de voltar a assinar com a Big Machine Records e ‘ganhar’ um álbum de cada vez, um por cada novo que entregasse. Desisti, porque sabia que, assim que assinasse o contrato, Scott Borchetta venderia a editora, vendendo-me a mim e ao meu futuro. Tive de fazer a escolha excruciante de deixar para trás o meu passado”.

Na publicação lê-se:

“Tudo o que conseguia pensar era no bullying incessante e manipulador que sofri nas mãos dele durante anos. Como quando Kim Kardashian orquestrou o leak de um excerto de uma chamada telefónica gravada ilegalmente e, em seguida, Scooter reuniu os seus dois clientes para me intimidar online. Ou quando o seu cliente, Kanye West, organizou um videoclipe de vingança pornográfica, no qual apareço nua. Essencialmente, o meu legado musical está prestes a cair nas mãos de alguém que tentou desmantelar [o trabalho da minha vida].”

Após Taylor Swift vir a público com a sua declaração, a Internet declarou também, parcialmente, o seu apoio. Artistas como Halsey, Iggy Azalea, Selena Gomez, Brendon Urie, Todrick Hall, Cher e Janet Jackson publicaram textos de apoio à artista, utilizando-os para criticarem o controlo das editoras sobre os artistas. Do outro lado, clientes de Scooter Braun, como Justin Bieber, Demi Lovato e Sia apoiaram o seu lado, defendendo que Braun era “um bom homem”.

Alguns meses se passaram e, em novembro, dez dias antes dos American Music Awards, onde a cantora seria homenageada com o prémio Artista da Década, a cantora regressa às redes sociais com uma publicação intitulada: “Não sei o que fazer mais”.

Swift explicou que estava a planear um medley com os seus maiores êxitos para os AMAs, como parte da celebração da sua carreira.

Fonte: Reddit

No entanto, Scooter Braun e Scott Borchetta teriam proibido a utilização das músicas dos seus primeiros seis álbuns. Segundo a própria, a justificação dada foi que a atuação seria considerada uma “regravação ilegal” das músicas, algo proibido contratualmente até, pelo menos, 2020. Além disso, alegou que os dois empresários estavam a impedir a utilização das músicas e imagens antigas num documentário da Netflix que estava a ser produzido sobre a sua vida:

“As minhas atuações e projetos estão a ser bloqueados e a única forma de os desbloquear seria concordar em não regravar a minha música […] e parar de falar sobre eles publicamente. Basicamente, seria calar-me para recuperar o controlo do que é meu.”

A publicação gerou uma enorme onda de apoio, tanto de fãs como de outros artistas. A hashtag #IStandWithTaylor dominou as redes sociais durante dias e, apesar do impedimento inicial, dias depois da publicação, a Big Machine publicou um comunicado em que afirmava  não estar a impedir a atuação e que a artista “podia cantar o que quisesse”. No entanto, fontes próximas de Swift confirmaram que foi a pressão pública que levou à resolução deste caso. Assim, no dia 24 de novembro de 2019, a cantora subiu ao palco com uma camisola onde se liam os nomes dos seus primeiros seis álbuns e interpretou o medley, que incluía Love Story, I Knew You Were Trouble, Shake It Off e muitos outros.

As Taylor’s Versions: uma ideia de recuperar o trabalho antigo

Após a cantora americana perder os direitos sobre os seus seis primeiros álbuns para Scooter Braun, Kelly Clarkson deu um conselho público a Swift, sugerindo que a artista gravasse tudo de novo para desvalorizar os “masters” vendidos sem o seu consentimento: “Uma ideia, devias regravar todas as músicas das quais não tens os masters, exatamente como fizeste, mas colocar arte nova e algum tipo de incentivo para que os fãs não comprem mais as versões antigas. Eu compraria todas as versões novas só para comprovar o ponto.”

Assim, nasceram as “Taylor’s Version”, novas versões totalmente sob o seu controlo, com arranjos fiéis aos originais, melhor produção e faixas inéditas (as From The Vault, ou “saídas do baú”). O sucesso foi catastrófico: 1989 (Taylor’s Version), por exemplo, recebeu mais de 176 milhões de streams no dia de estreia no Spotify e vendeu mais de 3.5 milhões de cópias na primeira semana, globalmente. Nos EUA, vendeu 1,359 milhões de cópias na primeira semana, ultrapassando as vendas iniciais da versão original de 2014. Até 30 de maio, Swift tinha regravado e re-lançado quatro dos seis primeiros álbuns, faltando apenas o primeiro e o último.

Fonte: Amazon

“You Belong With Me”

No dia 30 de maio de 2025, Taylor Swift anunciou oficialmente que havia recuperado o seu catálogo, encerrando a disputa que se arrastava desde 2019. A notícia foi partilhada através de uma carta emocionada publicada no seu website oficial, onde expressou: “Tenho estado a chorar de alegria em intervalos aleatórios desde que descobri que isto está realmente a acontecer. Todas as músicas que já fiz… agora pertencem-me… a mim. E todos os meus videoclipes. Todos os filmes de concertos. A arte do álbum e a fotografia. As músicas inéditas. As memórias. A magia. A loucura. Cada uma delas. O trabalho de toda a minha vida.”

Quanto ao futuro, a cantora declarou:

“Eu sei, eu sei. E quanto ao Rep TV? Transparência total: nem sequer cheguei a regravar um quarto dele. O Reputation foi tão específico para aquela altura da minha vida e eu chegava sempre a um ponto crítico quando tentava refazê-lo. Para ser perfeitamente honesta, é o único álbum entre os 6 primeiros que achei que não poderia ser melhorado se fosse refeito. Nem a música, nem as fotos, nem os vídeos. Então continuei a adiar. Haverá um momento (se gostarem da ideia) para as faixas inéditas do Vault desse álbum eclodirem. Já regravei completamente o meu álbum de estreia e adoro como soa agora. Estes dois álbuns podem ainda ter os seus momentos de ressurgir quando chegar a altura certa, se isso for algo que vos deixe entusiasmados. Mas, se acontecer, não será tristeza e saudade do que gostaria de ter. Será apenas uma celebração agora”.

Swift terá pago cerca de 360 milhões pelo seu catálogo e, segundo a própria, a venda só foi possível devido “à história de sucesso em que [os fãs] transformaram a The Eras Tour”, que se tornou a digressão mais bem-sucedida da história.

Então, por enquanto, os relançamentos dos álbuns Taylor Swift e reputation ficam adiados, mas parece que a cantora já começa a dar pistas que indicam o lançamento próximo do seu 12.º álbum de estúdio, ainda com o título desconhecido. Na sua carta aos fãs, a artista utilizou doze ‘i’s numa palavra, logo no início do texto, e estreou um novo símbolo para a imagem de marca do próximo projeto.

Fonte da Capa: X

Artigo revisto por Inga Carvalho

AUTORIA

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Duarte tem 20 anos e foi apenas no fim do primeiro ano no curso de Publicidade e Marketing na ESCS que decidiu que Jornalismo era o seu futuro. Desde sempre que a música foi a sua grande paixão, associando cada uma das memórias mais antigas com uma música diferente. Com um gosto especial por pop e pop alternativo, sonha um dia poder fazer parte da equipa de uma rádio.