O poder das primeiras frases
“Ouço o estalar do crânio antes de ser atingida pelo jorro de sangue.” — Verity, Colleen Hoover.
Não é preciso dizer mais nada para prender o leitor e, com uma pequena frase, já estamos imersos no livro. É assim que começa Verity, de Colleen Hoover e é assim que vários autores escolhem iniciar os seus livros — com impacto e desconforto, sendo algo que simplesmente não se consegue ignorar.
A primeira frase de um livro é, por vezes, considerada uma armadilha. Pode ou não resultar, mas quando resulta… Já não há volta a dar. A partir daquele momento, o leitor está preso, mesmo que ainda não o saiba.
Há inícios mais lentos, em que a tensão se constrói página a página e há outros em que o leitor é puxado desde o primeiro parágrafo. Ao escrever “Hoje a mãe morreu. Ou talvez tenha sido ontem, não sei bem.”, Albert Camus apresentou uma abertura ainda hoje lembrada por quem leu O Estrangeiro
Mas não é só o choque que causa impacto. Uma boa primeira frase pode ser subtil e mesmo assim cativar o leitor. Pode conter pequenas filosofias, indícios de tragédia ou um toque de mistério. Há começos que são declarações. Outros são enigmas… Um bom exemplo deste último está presente em As intermitências da Morte, de José Saramago: “Era uma vez uma cidade onde ninguém morria”, o que desperta imediatamente a curiosidade do leitor e o faz perguntar: “e depois?”.
Existem várias formas de começar o livro, dependendo de autor para autor. No entanto, não há uma fórmula mágica para prender o leitor. Se existe algo perto dessa fórmula é a primeira frase.
A primeira linha tornou-se a fronteira entre o ficar e o partir — há sempre outro livro, outra situação. O primeiro parágrafo deixou de ser literário para se tornar funcional. Tem de agarrar, prometer e surpreender (tudo isto, idealmente, em 10 palavras). Embora este conceito seja explorado há várias décadas, há agora uma necessidade de o fazer. Antigamente, o leitor comprava o livro e lia-o com tempo. Atualmente, isto já não acontece. Agora é muito mais fácil e rápido decidir online. Numa questão de segundos decide-se. Se a primeira linha não desperta interesse, passa-se ao próximo.
O ritmo acelerado da vida atual exige que os escritores acompanhem essa velocidade. É nesse sentido que a abertura do livro é uma promessa. Seja qual for a intenção do autor, há sempre uma magia nesse momento. É onde se instala a dúvida ou a certeza, e é onde se diz ao leitor que “eu valho a pena”.
Assim, a primeira frase é o início de uma viagem. Tem características únicas, como o poder de decidir se o leitor segue caminho ou abandona o livro. É o convite silencioso que, quando aceite, leva à virada de página e com um pouco de sorte — ou talento — transforma também o leitor em parte da história, mostrando-lhe todo um novo mundo.
Artigo corrigido por: Carolina O. Ferreira
Imagem de Capa: Pinterest
AUTORIA
A Sofia é estudante do 2ºano de Publicidade e Marketing. Não se lembra de um tempo em que não gostasse de ler e escrever, e é nas palavras escritas que encontra a melhor forma de se expressar. Estar com as pessoas de quem gosta é a sua forma favorita de passar o tempo, seja uma tarde no café ou a fazerem uma atividade que encontraram nas redes sociais. O desporto e a música têm também um lugar especial no seu coração. Encontrou na Magazine o sítio perfeito para explorar a sua criatividade e escrever sobre algo pelo que é apaixonada.

