Regresso às aulas: Quando o entusiasmo dá lugar ao stress académico.
O início do ano letivo costuma ser um momento cheio de expectativas: reencontros, novas metas, esperança e energia. Para muitos estudantes, significa reencontrar colegas, definir objetivos e começar um novo ciclo. Porém, por trás deste entusiasmo pode esconder-se uma ansiedade crescente.
No caso dos estudantes universitários, o regresso às aulas pode marcar também uma fase de sobrecarga. Este artigo pretende compreender essa transição entre o entusiasmo e stress acumulado, através de:
- uma análise dos fatores que a provocam;
- o impacto que tem na saúde mental e no rendimento académico;
- estratégias de prevenção.
Stress e Burnout Académicos
É fundamental distinguir estes dois conceitos: O stress académico é a resposta natural às exigências da vida universitária, como avaliações, podendo ser pontual ou prolongado. Já o burnout académico representa um estado mais grave, resultante de stress acumulado e mal gerido, marcado por exaustão física e emocional, perda de motivação e sensação de incapacidade. Quando o regresso às aulas envolve prazos curtos, sobrecarga e falta de apoio, o entusiasmo inicial pode facilmente transformar-se neste ciclo de desgaste.
Porque é que o entusiasmo inicial desaparece?
A passagem de um sentimento de entusiasmo para um estado de stress ou de burnout não acontece por acaso. Quando as múltiplas avaliações se acumulam em pouco tempo, o cansaço instala-se depressa. A esse desgaste junta-se a pressão das expectativas, (próprias e externas), bem como a comparação entre colegas. A adaptação a novas rotinas pesa: mudança de cidade, afastamento da família, dificuldades logísticas e financeiras. Horários irregulares, falta de sono, má alimentação e ausência de lazer agravam o processo.
A insuficiência dos serviços de saúde mental nas universidades é outro fator crítico. Situações económicas desfavoráveis, a incerteza do futuro profissional e sequelas da pandemia são igualmente fatores que acrescem ao desgaste. O resultado é um desgaste que substitui a motivação inicial por exaustão e perda de controlo.
O cenário em Portugal: dados preocupantes
Em Portugal, a preocupação com o burnout académico tem vindo a ganhar destaque nos últimos anos. Um dos estudos mais abrangentes foi conduzido pela Universidade Lusófona, no âmbito do projeto Ecossistemas de Aprendizagem Saudáveis nas Instituições de Ensino Superior em Portugal. Esta investigação envolveu 2.306 estudantes universitários, com idades entre os 17 e os 35 anos, provenientes de várias instituições do país.
Os resultados são alarmantes. Mais de 60% dos estudantes apresentaram sinais claros de burnout, sobretudo sintomas de exaustão física e emocional. Quase metade dos inquiridos afirmou sentir-se frequentemente irritada, e mais de 40% relatou sentimentos de tristeza. Estes indicadores revelam que o burnout não é uma realidade restrita a determinados cursos ou contextos, mas sim um problema transversal a todas as faculdades e cursos.
Outro fator preocupante é a perceção de incapacidade que muitos estudantes revelaram: cerca de dois terços afirmaram não ter controlo sobre aspetos importantes da sua vida, e mais de 60% afirma não confiar na sua própria capacidade para enfrentar os problemas. Estes números demonstram que o stress prolongado mina não só o desempenho escolar, mas também a autoestima e a motivação.
Este estudo deve, portanto, funcionar como um alerta para as instituições de ensino superior: o regresso às aulas, em vez de ser uma fase de renascimento e integração, está a ser vivido por muitos como uma etapa de vulnerabilidade emocional e de desgaste progressivo. Reconhecer e intervir nesta realidade deve tornar-se prioridade.

Fonte: Euronews
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Consequências do stress e estratégias de prevenção
O stress não gerido dá origem ao burnout, bem como à exaustão, desmotivação e baixo rendimento, e impacto físico (fadiga, insónias, imunidade fragilizada) e mental (ansiedade, tristeza, risco de desistência). Em alguns casos, este estado físico e mental culmina no uso de substâncias, isolamento e negligência do autocuidado.
Para o prevenir, os estudantes devem organizar o tempo, manter rotinas de sono, praticar exercício, cuidar da alimentação, usar técnicas de relaxamento e apoiar-se em redes sociais e familiares. Já as instituições podem atuar através de sensibilização, acesso facilitado a apoio psicológico, políticas académicas flexíveis e iniciativas de integração que promovam uma cultura de aprendizagem saudável.
O que a ESCS oferece?
Na Escola Superior de Comunicação Social (ESCS), do Politécnico de Lisboa, existem medidas de apoio como os Serviços de Apoio Psicológico e Educativo (SAPE), com acompanhamento individual e em grupo, além de ações preventivas. Há também um programa de mentoria, onde estudantes experientes apoiam colegas em início de percurso.
A ESCS assegura apoio a estudantes com necessidades educativas especiais, cooperando com os Serviços de Ação Social para garantir bolsas, alimentação, alojamento, aconselhamento e inclusão. Estas iniciativas mostram o esforço da instituição para criar um ambiente académico mais saudável.

Fonte: Freepik
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Conclusão
O regresso às aulas tem duas vertentes opostas, mas que se complementam: oportunidade e desafio. O entusiasmo com que muitos estudantes começam o semestre é legítimo e saudável, mas, sem estratégias de gestão e sem apoio institucional, esse entusiasmo pode transformar-se em stress crónico e burnout.
Para evitar isso, é preciso um esforço conjunto: estudantes a cuidar de si mesmos, docentes a reconhecerem os sinais, e instituições a providenciarem estruturas de apoio. Só assim se poderá ter um ambiente académico em que o regresso às aulas é mais um renascer de energia e menos uma pressão crescente.
Imagem de destaque: Welcome to ESCS
Revisto por: Miguel Costa
AUTORIA
A Bia tem 20 anos, vem de Sintra e está no terceiro round da aventura chamada Relações Públicas e Comunicação Empresarial. Desde pequena que troca brinquedos por cadernos e adora escrever tudo o que lhe passa pela cabeça. Quando não está a transformar pensamentos em palavras, está atrás da lente de uma câmara ou a fazer playlist que daria um ótimo filme indie. Acredita que tudo fica melhor com um toque de energia positiva… e, claro, acompanhada de torradas e um galão.

