Mundo Académico

Entre duas casas: a vida dos estudantes deslocados.

 “Olá, o meu nome é Éris e adorava abordar este tema pois sou uma aluna deslocada do ensino superior e nos dias de hoje lido diariamente com as dificuldades de estar distante de casa. O meu objetivo é tranquilizar- vos e mostrar que este, é um processo menos assustador do que parece.”

Queimar arroz e perder o autocarro

Entrar na universidade é, para muitos de nós, um verdadeiro marco. Algo como atravessar uma porta gigante para um lugar onde tudo é novo, mas com mais olheiras e menos certeza de onde estamos a ir. É o início de uma nova etapa cheia de descobertas, desafios e instruções para nos tornarmos novos chefes de culinária.

  Para quem, como eu, teve de sair da casa dos pais e mudar de cidade, este passo vem com um  “bónus”: ser oficialmente promovido a Estudante Deslocado. Isso significa viver longe da família, aprender a cozinhar sem incendiar nada, dominar transportes públicos e lidar com responsabilidades que, até então, estavam no departamento da mãe.

Antes de entrar na universidade, ouvi várias vezes que ia ser difícil gerir o tempo entre os estudos, a vida social e as tarefas domésticas, mas achei que estavam a exagerar e a preparar-nos para qualquer coisa. A verdade é que é a maior realidade do ensino superior e só nos conseguimos adaptar depois de errar inúmeras vezes.

Aquele jogo difícil sem tutorial

Viver longe de casa é aquele momento em que a vida te diz: “Pronto, agora desenrasca-te.”, no entanto, é o estar longe de casa que nos obriga a crescer depressa. A gestão do dia a dia, que antes era partilhada com os nossos pais, passa a ser da nossa inteira responsabilidade. E, inevitavelmente, cometemos erros: deixamos roupa por lavar, gastamos demasiado dinheiro nas primeiras semanas do mês, ou simplesmente deixamos de ter energia para cozinhar algo que seja saudável e acabamos por comer as tão famosas “porcarias”. Não julgo, adoro comer leite com cereais à hora de jantar, e está tudo bem.

Fonte: InfoEscola

Bora ser amigos?” – cringe, mas eficaz

Pensar que temos de fazer  amigos,  no  início, mete algum medo, mas é mais fácil do que aquilo que pensamos, até porque todos nós já ouvimos que as maiores amizades da vida são feitas na universidade e criá-las é um processo muito natural. A verdade é que todos aqueles que entram no ensino superior estão na mesma situação, com receio e sem conhecer ninguém, e é por esse mesmo motivo que é tão fácil criar relações e encontrar amizades para a vida.

Participem nas atividades extra-curriculares e marquem encontros com os vossos amigos. Para os alunos deslocados, essas oportunidades tornam-se ainda mais valiosas. Longe da família, é essencial construir uma rede de apoio que torne esta nova fase menos solitária. O segredo está em saber mostrar abertura, ser genuíno e lembrar-nos de que todos estão à procura do mesmo: conexão, partilha e pertença.

Mentalmente? Estou em obras.

A solidão, o stress dos exames, a pressão para ter boas notas, a dificuldade em fazer amigos ou adaptar-se a uma nova rotina… tudo isso parece um pacote de “desafios universais” que ninguém te avisou de que vinha incluído. Se te sentires perdido, ansioso ou em baixo mais vezes do que gostavas, fica tranquilo: não és o único a fazer esta viagem à loucura.

Por isso, cuidar de ti é obrigatório, tipo tarefa de casa. Coisas simples como dar uma caminhada, ouvir música, cozinhar, fazer um pouco de exercício ou simplesmente desligar o telemóvel por uns minutos tornam-se mais importantes do que aquilo que imaginas. É clichê, eu sei, mas é a pura verdade.

Ter momentos para descomprimir é tão importante quanto estudar até porque ninguém rende nada de cabeça cheia. Cuidar da saúde mental não é só um conselho bonitinho, é mesmo uma parte essencial da experiência universitária.

GPS, salva-me outra vez!

Chegar a uma nova cidade é como entrar num jogo, mas sem mapa, nem instruções. Os transportes públicos, que supostamente nos deveriam facilitar a vida, tornam-se um enigma diário. Nos primeiros tempos, o GPS é o nosso melhor amigo e o nosso salvador.

Um conselho? Aprender a gerir o tempo conforme os horários dos autocarros. Eu sei que acordar às 6h da manhã para uma aula que começa às 8h (o meu caso) parece um pouco exagerado, mas só o é até o autocarro não aparecer… e o próximo só aparecer passados 40 minutos.

Fonte: Pinterest

Tenho a dizer-vos…

Com isto, queria passar-vos a mensagem de que tudo é uma fase e que mesmo que às vezes pareça que estamos prestes a explodir e a achar que não somos capazes, é passageiro.

Lembra-te: quase toda a gente à tua volta está a passar pelo mesmo. Uns disfarçam melhor, outros falam disso abertamente, mas ninguém chega à universidade já com tudo sob controlo. A adaptação não acontece de um dia para o outro. Vais falhar, vais rir, vais aprender e, aos poucos, tudo começa a fazer mais sentido. Dá tempo ao tempo. E não te esqueças: a universidade é mais do que aulas e trabalhos, é também crescimento, descoberta e muitas primeiras vezes. 

Imagem de destaque: Pexels

Artigo revisto por: Diogo Bértola

AUTORIA

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Éris é aluna do 1.º ano em RPCE e sempre foi apaixonada pela escrita. Natural de Portimão, no Algarve, teve de se mudar sozinha para Lisboa para prosseguir os estudos, o que lhe trouxe inúmeros desafios. O ambiente académico sempre a intimidou e, agora, vivendo-o de forma tão intensa e longe de casa, sentiu a necessidade de escrever sobre essa experiência, com o objetivo de inspirar e motivar futuros estudantes.
A sua vida também foi marcada pela arte: toca piano há oito anos e dedicou quinze anos à dança, paixão interrompida devido a uma cirurgia à coluna que a afastou dos palcos, mas nunca do amor pela expressão artística.