Filosofia no ensino secundário: necessário ou dispensável?
Um grande debate ressurgente na atualidade portuguesa é o de saber se a Filosofia é mesmo essencial à formação intelectual dos jovens ou se só serve para preencher o horário. Será que tem mesmo vantagens? Será que é fundamental aos estudantes dos cursos científico-tecnológicos?
Vivemos numa época marcada por uma crescente iliteracia social. Reinam a desinformação, o aparente, o raso e o persuasivo. No meio do caos irreverente, a falta de espírito crítico e intelectual são fatores que enfatizam o declínio da profundidade estrutural dos membros da sociedade e das suas relações. Não entendem o motivo organizacional da sua envolvência, nem percebem a urgência da presença da razão no seu quotidiano.
Neste âmbito, a disciplina de Filosofia, que aborda as peculiaridades do saber e do pensar, é necessária à navegação pelos mares diários. Sem ela, a sociedade envolvida pelo imediato e pela futilidade afundaria cada vez mais.

Pela sua essência silogística, a lógica lecionada nas aulas de Filosofia proporciona as ferramentas necessárias à construção do pensamento devidamente estruturado. A deteção de falácias no discurso, a sua desconstrução e a busca pela racionalidade, honestidade e verdade constituem a base da vontade virtuosa da retórica, que ultrapassa as barreiras do universo das redes sociais.
A disciplina merece estar presente no currículo destes jovens contemporâneos, que vivem num mundo que nunca para, sem pausas para pensar e refletir. A Filosofia, portanto, abre portas à análise do mundo e à assimilação da chegada ao seu estado atual, procurando entender as correntes de pensamento que flutuam à sua volta.

As fake news, a polarização política e o discurso de ódio, que invadem a argumentação valorativa, são exemplos concretos de fenómenos que nos podem persuadir negativamente se não estivermos preparados para os enfrentar diretamente.
Mais do que resistir, devemos procurar desconstruir ativamente estes ataques ao pensamento. Descartar a literacia crítica seria como tirar a casca a um caracol e atirá-lo para uma jaula cheia de leões: ficaríamos expostos aos perigos da retórica danosa e, pior que isso, não teríamos sequer noção da sua natureza. Seria como se olhássemos para os leões e avistássemos alienígenas – como se olhássemos para as suas garras e víssemos uma ferramenta desconhecida.
Desta forma, penso que a Filosofia seja inerentemente imprescindível. Se a escola nos prepara para a vida, então não podemos dispensar a disciplina que ensina a pensar nela e nos apresenta várias visões que nos ajudam a perceber melhor o nosso papel enquanto partes essenciais ao sustento de um todo, nas diversas áreas da existência. Sem esta noção, todos os mastros que suportam esse sustento desabariam irremediavelmente. Não imagino um mundo que tolere a paralisia intelectual.
Fonte: Pixabay
Artigo revisto por Ariana Valido
AUTORIA
O António, de 18 anos, é um rapaz especialmente curioso, com interesse na envolvência da sociedade. Adora filosofia, e de pensar sobre aquelas camadas da existência que aparentam ser invisíveis à percepção. Pratica, no Substack, a articulação de postulações reflexivas, que representam a intriga inevitável do pensamento inquietante. Vibra com hip-hop melódico, e encontra na escrita e na criatividade uma forma de se expressar e crescer. Também procura aplicar o pensamento crítico no seu quotidiano, em busca da veracidade nas suas convicções. Parte desse quotidiano passa, portanto, por aziar no Fifa.

