DocLisboa! – O processo do maior festival de cinema de Portugal
O DocLisboa – Festival Internacional de Cinema é um dos mais importantes e consistentes espaços de exibição, reflexão e criação cinematográfica em Portugal e na Europa. Desde a sua fundação, em 2002, o festival tornou-se uma referência incontornável no panorama do cinema documental contemporâneo, acolhendo obras de todas as geografias e linguagens, destacando-se pela sua abordagem crítica, política e artística do real. Organizado pela Apordoc – Associação pelo Documentário, o DocLisboa vai muito além da mera exposição de filmes: é visto como um lugar de pensamento e um território onde o cinema é entendido como instrumento de transformação, de memória e de resistência.
A cada outono, Lisboa transforma-se num grande palco cinematográfico, com projeções distribuídas por várias salas emblemáticas da cidade — como a Cinemateca Portuguesa, o Cinema São Jorge e a Culturgest— que acolhem centenas de filmes, cineastas, investigadores, jornalistas e espectadores vindos de todo o mundo. O festival é, ao mesmo tempo, um laboratório e um fórum de discussão, promovendo retrospetivas, masterclasses, debates, encontros e residências artísticas que questionam as fronteiras do documentário e as suas múltiplas interseções com o cinema de ficção, o ensaio e as artes visuais.
Entre as várias secções competitivas e paralelas, destacam-se a Competição Internacional, a Competição Portuguesa, os Verdes Anos (dedicada a primeiros filmes), Da Terra à Lua (para obras que dialogam com as realidades contemporâneas), Heart Beat (centrada em música e cultura pop), e Riscos, onde o festival permite que se explore o cinema mais experimental e radical. Além das exibições, o ARCHÉ, laboratório de desenvolvimento de projetos autorais, e o Nebulae, plataforma de coprodução e networking profissional, são pilares fundamentais do festival, impulsionando novas gerações de realizadores e facilitando pontes entre diferentes contextos de produção.

Fonte: Universidade Católica
Em 2021, a 19.ª edição, já em pleno regresso após as restrições pandémicas, apresentou 918 Nights, de Arantza Santesteban, como vencedor da Competição Internacional, e Distopia, de Tiago Afonso, como melhor filme nacional. Essa edição ficou marcada pela forte presença de filmes que refletiam sobre memória, território e resistência política, bem como pela homenagem às cineastas Cecilia Mangini e Ulrike Ottinger, duas vozes fundamentais do cinema europeu.
A 20.ª edição, em 2022, foi um marco simbólico, que comemorou as duas décadas de existência do festival. Contou com 281 filmes de 59 países e um forte destaque à questão colonial, tema central de debates e ciclos, em sintonia com as urgências da contemporaneidade portuguesa e mundial. O DocLisboa de 2022 demonstrou a sua capacidade de revisitar criticamente o passado — sobretudo o colonialismo português — e de questionar as suas continuidades e silêncios no presente.
Já nas edições de 2023 e 2024, o festival consolidou o seu formato e reforçou a internacionalização. A 22.ª edição, em 2024, decorreu entre 17 e 27 de outubro, mantendo a pluralidade de olhares e linguagens que caracteriza o evento. A programação incluiu estreias mundiais e europeias, com filmes de autores consagrados e novos realizadores, além de retrospetivas dedicadas a figuras esquecidas ou marginalizadas da história do cinema. A ligação entre o documentário e a prática artística, a reflexão sobre o Antropoceno e as transformações sociais e a dimensão política da imagem permaneceram como eixos centrais.

Fonte: Sapo
O DocLisboa 2025, que se realizou entre 16 e 26 de outubro de 2025, surge como a 23.ª edição do festival e prometia prolongar esta tradição de diálogo entre arte, política e realidade. As inscrições estiveram abertas entre fevereiro e maio de 2025, destinadas a filmes produzidos após setembro de 2024, o que garante uma programação atual e diversa.
Outro ponto de relevo foi a presença do Benelux (Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo) como região convidada na secção Nebulae, dedicada à coprodução internacional. Esta parceria reforça o compromisso do festival com a criação de redes transnacionais e com a valorização de cinematografias que, embora próximas, mantêm fortes especificidades culturais e artísticas.
O DocLisboa 2025 preparou uma série de debates, residências, encontros e masterclasses, dando continuidade à ideia de festival como espaço de pensamento coletivo. A convocatória para voluntários, aberta até 12 de outubro, reflete a dimensão comunitária do evento, que se constrói com a participação ativa de estudantes, investigadores, técnicos e cinéfilos.
O DocLisboa 2025 reafirmou a sua vitalidade e a pertinência do documentário enquanto forma de conhecimento e de transformação social. Entre filmes, debates e encontros, o festival continuará a ser um espaço de liberdade e descoberta, onde a imagem e a palavra se encontram para pensar o mundo — e onde, a cada outubro, Lisboa se torna o centro do cinema que questiona, emociona e faz pensar.
Fonte da capa: DocLisboa
Artigo revisto por: Madalena Monteiro
AUTORIA
Com 18 anos e vinda do Alentejo, a Marta está no segundo ano da licenciatura em Jornalismo na ESCS. Sempre de olhar curioso e mente inquieta, encontrou na ESCS Magazine um espaço onde pode explorar e partilhar o que mais a inspira. Começou como redatora nas secções de Cinema e Televisão e Música, e foi aí que descobriu o prazer de escrever sobre o que se vê e se ouve — e tudo o que isso pode provocar. Agora, como Editora de Artes Visuais e Performativas, continua a desafiar-se, procurando novas formas de olhar e comunicar o mundo artístico. Escrever é mais do que informar — é traduzir emoções.

