Literatura

Todas as mulheres devem ler literatura feminista

Desde o nascimento da ideologia feminista tem-se verificado o seu impacto significativo na literatura, percetível nos temas que as autoras costumam abordar nas suas obras.

Algo que tomamos por tão banal hoje em dia — como as mulheres escreverem o seu ponto de vista sobre as suas próprias vidas —, é, na verdade, algo relativamente recente. A ideia de serem elas próprias a escreverem sobre si mesmas era vista como ridícula, acabando por serem os homens a compor o seu ponto de vista sobre a vida das mulheres. Assim, este novo tipo de  literatura permitiu às mulheres posicionarem-se em relação às suas vidas e experiências cotidianas. 

As vontades e os interesses das próprias mulheres foram temas bastante destacados pela literatura feminista. Em vários livros, as mulheres expressam o seu desejo de independência, de fugir aos papéis convencionais de casamento e da maternidade. Poderem focar-se nas habilidades criativas, serem capazes de sobressair, de questionar ou de lutar contra os obstáculos que a sociedade lhes impõe, serem capazes de viver em virtude dos seus próprios termos. Por exemplo, a autobiografia “Eu, Malala” relata uma história de luta por direitos à educação feminina. O livro retrata a infância de Malala, que não aceitava que a sociedade paquistanesa valorizasse mais os rapazes do que as raparigas. Assim, Malala lutou ferozmente para que os talibãs não lhe ditassem a vida, chegando inclusive a ser atingida por três tiros.

As relações interpessoais das mulheres também foram bastante contabilizadas. O tema, além explorar o típico romance, destaca o poder das relações femininas, os sistemas de suporte que têm e como as amizades impactam a sua vida. Também explora as dinâmicas familiares, de mãe para filha, rivalidade entre irmãos e conflitos geracionais. As temáticas da comunidade, da vontade de pertença da mulher, do inesperado dos sentimentos e da reconexão com as suas raízes são também muito exploradas neste tipo de literatura. Mulherzinhas, de Louisa May Alcott, conta a história de quatro irmãs que têm algumas dificuldades após a partida do pai e que, no entanto, são capazes de as enfrentar pelo seu espírito de união, enquanto aprendem o valor da amizade nas suas vidas.

Começar a vida de novo também é um tema comum na literatura feminista, seja  depois de um casamento falhado, uma carreira fracassada ou uma tragédia pessoal. Estas histórias destacam resiliência, esperança e a ideia de que nunca é tarde demais para reescrever a própria história. Por exemplo, o romance “Ana dos Cabelos Ruivos” relata a história da menina que, por engano, acaba adotada por dois irmãos de meia idade. Apesar das adversidades que a protagonista passou no orfanato, Ana é capaz de se destacar na escola, fazer amigas e dar-se bem com os irmãos, que ainda estavam incertos sobre não terem adotado um rapaz, como inicialmente tinham planeado. 

A literatura feminista também permitiu dar-nos a conhecer a maneira como diversas mulheres fazem frente aos seus desafios mais difíceis, como a morte de alguém que era querido à protagonista e a dificuldade em lidar com o luto. Muitas obras também exploram problemas mentais, como ansiedade ou depressão. Já outras focam-se em como as mulheres sobrevivem e são resilientes em casos de violência doméstica, doença ou problemas financeiros. A obra Isto Acaba Aqui, de Colleen Hoover, explora temas como violência doméstica e a resiliência que as mulheres têm ao enfrentar situações complicadas. A protagonista navega nas complexidades das suas passadas e atuais relações, enquanto tenta acabar com o ciclo de abuso, para assim construir um futuro melhor para ela mesma. 

Porém, também há livros mais retóricos que fazem questões como “O que é ser uma mulher com sucesso no mundo moderno?”, “Como é que as expectativas culturais impactam as personalidades e escolhas das mulheres?” ou “Que sacrifícios as mulheres deveriam fazer pela família, carreira ou amor?”, como é o caso de Pequenos Fogos em Todo o Lado. Este livro mostra como as vidas e escolhas das mulheres são impactadas pelo processo de ser mãe e pelas expectativas que a sociedade tem sobre elas. 

Na cultura ocidental há um certo consenso sobre as principais obras a conhecer obrigatoriamente e, como se pode esperar, a maioria foi escrita por homens brancos. Isto deve-se ao facto de a literatura ser consistentemente julgada por homens que vivenciam experiências similares. Assim, o feminismo também combate estas suposições impostas e encoraja o interesse das mulheres pela literatura. Como resultado, a literatura feminista critica a universalidade da visão do homem.

Então, porque razão todas mulheres devem ler literatura feminista? Não só para se conhecerem melhor ou conhecerem protagonistas com problemas parecidos aos que experienciam, mas também para dar relevância a autoras que se preocupam com as mulheres como um todo e garantem que não são só os homens quem escreve sobre as nossas próprias experiências. 

Imagem de Capa: The Uproar

Artigo revisto por André Nunes

AUTORIA

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Desde sempre que a Maria sente gosto em escrever, mesmo quando era bastante pequena tinha um caderninho onde punha-se a escrever as matrículas que via nos carros ou a escrever nomes que via fora de casa aleatoriamente. Viu na ESCS Magazine uma oportunidade de ouro de reviver este gosto e da mesma forma de falar sobre outro assunto que lhe interessa (literatura). Sempre gostou de ler e até chegou a “gabar-se” aos seus amigos o quão rápido lia os livros do Geronimo Stilton. Já gastou mais dinheiro em livros do que gostava de admitir, no entanto é bastante provável “investir” mais dinheiro no seu hobbie.