Opinião

Quem brinca com o fogo queima-se!

O homicídio de Charlie Kirk, no dia 10 de setembro, revela o estado de violência que se vive pelo mundo atualmente. Durante um evento público que organizara numa universidade do vale de Utah, nos EUA, onde apresentava as suas ideologias e princípios conservadores, Charlie Kirk acabou vítima de um ataque fatal. O que começou como um simples debate público transformou-se num palco de medo e agressão. Sendo uma figura pública, a sua morte atraiu atenção nacional e internacional.

Ninguém deveria pagar com a própria vida por exercer a liberdade de expressão, mas, inevitavelmente, quem semeia ódio acaba por colher desgraça. É essa dualidade, entre não merecer o desfecho que teve e, simultaneamente, ser produto do ambiente que ajudou a moldar, que quero abordar neste artigo.

Os ideais que Charlie Kirk seguiu ao longo da vida estão muito longe daqueles que eu alguma vez irei partilhar; porém, não apoio a sua morte. A meu ver, independentemente do que defende, ninguém merece morrer. Mesmo não apoiando tudo o que defendia, acredito que apenas fazia o que todos os seres humanos têm por direito: expressar-se livremente. Ao organizar estes eventos em campus universitários, Kirk tinha obviamente o intuito de divulgar e promover os seus princípios, mas também de falar e debater com cidadãos com quem, muitas vezes, concordava em discordar.

No entanto, acabou por se deitar na cama que fez. Não concordo que a sua morte deva ser celebrada — de todo —, mas é difícil sentir pesar por alguém que tantas vezes alimentou o ódio. Lamento, sim, pela mulher e pelas filhas, que foram privadas de uma vida ao lado do marido e pai, mas por ele não.

Charlie Kirk, nos seus discursos e intervenções públicas, defendia uma perspetiva marcadamente conservadora e espalhava, de certa forma, o ódio: fazia comentários racistas e machistas, era contra o aborto – nas suas palavras, “pior do que o Holocausto” -, era apoiante de Trump e defendia o porte de armas — ironicamente, acabou por ser morto a tiro por um homem branco enquanto participava num debate sobre tiroteios em massa. Segundo as palavras do próprio: “I think it’s worth it to have a cost of, unfortunately, some gun deaths, every single year, so that we can have the second amendment to protect our god-given rights”. Ora, mantenho a opinião de que ele não merecia ser assassinado, uma forma violenta e selvagem de pôr fim à vida de alguém; contudo, sofreu o destino que acreditava ser aceitável para outros.

Fonte: G1 Globo – foto do dia em que foi assasinado

A morte de Charlie Kirk, de forma perturbadora, acaba por expor uma realidade inquietante: vivemos num tempo em que a violência se normaliza, e há quem morra apenas por expressar aquilo em que acredita. Este caso não se trata apenas de um crime isolado; na verdade, retrata a violência e o constante perigo vivido nos Estados Unidos da América.

Eu diria que, quando se fala nos EUA, muitos pensam logo no ideal de “American Dream”, na Times Square, na estátua da liberdade, nas mansões gigantes e na vida aesthetic que alguns americanos vivem. Porém, a realidade está muito longe disso.

Numa perspetiva ampla, podemos observar uma realidade mundial ainda marcada pela opressão, pela violência e pela manipulação, em que o ódio continua, muitas vezes, a prevalecer. A morte de Charlie Kirk é, de facto, apenas um episódio na constante violência que se repete diariamente à volta do mundo.

Fonte: O globo: foto de palestinianos nos arredores da cidade de Gaza

Fonte: The New York Times

Artigo revisto por Inês Gomes

AUTORIA

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A Matilde é uma estudante do 1º ano de Jornalismo que sempre teve muito apego pela escrita. Desde escrever no seu diário até às suas primeiras tentativas de escrever livros em pequena, agora procura partilhar a sua paixão com os outros.
Apaixonada por viajar e conhecer o mundo, sonha viver no estrangeiro mas, acima de tudo, quer aproveitar tudo o que a vida lhe dará, cheia de aventuras e histórias para contar aos filhos.
É muitas vezes descrita como competitiva, adora desporto e esforça-se por dar o melhor de si em cada coisa que faz. Assim, a Magazine surgiu como uma oportunidade para fazer aquilo de que gosta, demonstrar a sua dedicação, e aprender e arriscar sem receios.