Da emoção à decisão: o papel do cérebro na performance desportiva
No mundo dos atletas de alta competição, ouvimos constantemente falar sobre táticas, alimentação, treinos e força física, mas e o verdadeiro “impostor” do desempenho, aquele que comanda o psicológico – o cérebro?
No desporto de competição não basta ter força: é preciso ter foco, gerir emoções, tomar decisões em segundos e reagir ao imprevisto. Este artigo explora como a psicologia do desporto e a neurociência se ligam para explicar como o cérebro molda a performance dos atletas de elite, entrando no cérebro para perceber como a ciência explica a “força mental” e de que forma é a ferramenta principal para a vitória.
“Coloco a saúde mental em primeiro lugar, porque se não o fizer, não vou aproveitar o meu desporto nem ter o sucesso que desejo”.
Simone Biles, atleta de alta competição de ginástica artística.

Fonte: Christian Petersen/Getty Images
A psicologia do Desporto deixou de ser algo insignificante e passou a ser uma componente essencial tanto em treino como em prova.
Treinadores, atletas e equipas técnicas reconhecem que o valor do equilíbrio a nível psicológico é tão importante quanto o treino físico e as respostas cerebrais que podem ser a diferença entre a vitória e a derrota.
Para entender como a mente gere esta pressão, temos de conhecer o nosso cérebro, perceber como as emoções são processadas e como lidamos com elas.
O cérebro de um atleta está em constante confronto interno, onde o Córtex pré-Frontal (CPF) luta pelo controlo, enquanto o sistema límbico gere as emoções, e é dessa coesão que surge cada performance, e que permite a um atleta:
1. Tomar decisões racionais em tempo recorde;
2. Manter a atenção no essencial e ignorar distrações externas;
3. Controlar a frustração e os impulsos de desistir.
Durante a competição, diversas regiões cerebrais trabalham em conjunto.
O córtex pré-frontal (CPF), é considerado a base de processos cognitivos complexos: desempenha o papel de planeamento, tomada de decisões, controla os impulsos, o foco e as emoções, e situa-se na parte da frente do cérebro. É designada como “maestro”, uma vez que se trata da região da “inteligência”, do raciocínio lógico e da interação com outras regiões do cérebro.
O sistema límbico processa comportamentos e emoções, como o medo, a frustração e a adrenalina. Está situado na zona central e profunda do cérebro, e tem uma função crucial na aprendizagem e na memória. Nele encontramos a amígdala (fundamental no processamento de emoções), o hipocampo (memória) e o hipotálamo (que gere as respostas fisiológicas, como a libertação de cortisol e adrenalina).
Por último, o cerebelo tem como principal função a coordenação motora. Assegura precisão dos movimentos e ajusta o corpo a cada estímulo externo. Este localiza-se na parte posterior e inferior do crânio, atrás do tronco cerebral.
O cerebelo contém mais de metade dos neurónios de todo o cérebro, sendo assim o principal responsável pela coordenação e equilíbrio.
É exatamente com o desempenho harmonioso destas regiões que o atleta aprende a lidar e a reconhecer o medo, e também a saber dominá-lo, em vez de ser dominado.
Tal como o corpo, o cérebro também se treina. A isto, dá-se o nome de neuroplasticidade, que é a capacidade para reorganizar, criar e reforçar as ligações neuronais ao longo do tempo e construir novos circuitos, mais rápidos e eficientes, que se adaptam a alterações causadas por mudanças comportamentais e sociais.
Esta função é fundamental nos atletas de alta competição, pois cada repetição de um gesto e cada decisão em tempo recorde reforça as sinapses – os pontos de onde os neurónios comunicam entre si e que são o alicerce da aprendizagem e da memória -, tornando assim as respostas mais rápidas.
Em desporto, chamamos a isto memória motora, fundamental para a precisão e o tempo de reação de um atleta, pois cada um tem o cérebro moldado pelo treino.
“O fator mental é crucial, sobretudo na preparação prévia para as mudanças que poderão acontecer. (…) Se eu me preparar através da visualização, se aumentar o conhecimento dos meus adversários, se calhar não preciso de treinar alguns movimentos porque já os imaginei, trabalhei, sem passar pelo lado físico”.
Dr. Jorge Silvério, psicólogo de desporto da FPF.
Nos atletas de elite, surge a eficiência neural, que é a capacidade de o cérebro de um indivíduo realizar uma tarefa complexa, com menor ativação cerebral e menor gasto de energia atingindo o seu desempenho máximo. Isto não significa que o cérebro “deixa de trabalhar”, mas sim que as ligações neurais que controlam a ação se tornaram automáticas (processo impulsionado pela Neuroplasticidade).
Resumindo, a revolução da eficiência neural é basicamente a automatização, permitindo, assim, que os atletas não tenham de se concentrar em “como” rematar, nadar, patinar, mas sim no “quando” o fazer, focando-se na tática e na tomada de decisão.
O cérebro é o verdadeiro responsável pela performance. É muito mais do que um órgão que só comanda o corpo: é um sistema que está em constante adaptação e evolução. Treinar o corpo é importante, mas treinar o cérebro é essencial – é nele que se controlam as decisões que definem o resultado.
Fonte da capa: Neuroscience News
Artigo revisto por Beatriz Mendonça
AUTORIA
A Marta é estudante do 1.º ano da licenciatura em Publicidade e Marketing e tem 17 anos. Sempre gostou de comunicar com as pessoas das mais variadas formas. É curiosa e de mente aberta a novas experiências e, acima de tudo, gosta de fazer a diferença! Apaixonada por desporto, musicais e história, valoriza tudo o que lhe permita ganhar novas perspetivas sobre a vida. A Magazine da ESCS surgiu como a oportunidade perfeita para explorar novas ideias, enfrentar desafios e deixar a sua marca.


