Ciência

Pinguins: a elegância em extinção

Mais do que aves curiosas de um mundo distante ou pequenas criaturas cuja paixão é a dança (“Happy Feet”), os pinguins são o espelho de o que a irresponsabilidade humana está a causar ao nosso planeta e aos seus constituintes. Entender a sua história, dificuldades e comportamentos é essencial para a sua salvação.

Relativamente à sua origem, os pinguins descendem de aves marinhas que perderam gradualmente a capacidade de voar há cerca de 60 milhões de anos, logo após a extinção dos dinossauros. Em troca, aperfeiçoaram um corpo hidrodinâmico e ossos densos que lhes permitem mergulhar a profundidades superiores a 500 metros em busca de alimento. O seu corpo é coberto por milhares de pequenas penas impermeáveis, que criam uma camada de ar isolante, essencial para enfrentar as temperaturas geladas da Antártica. Contrariamente à maioria das aves cujas penas vão caindo aos poucos, os pinguins passam por uma “muda catastrófica” (processo). Durante esse período, os pinguins são impedidos de caçar, dado que não possuem a sua camada térmica protetora para enfrentar as águas que podem atingir os -60ºC.

Pinguins-de-barbicha
Fonte: National Geographic Portugal

Dividindo-se em 18 espécies diferentes, todos possuem uma característica comum: a estética do “fato” (corpos negros e barrigas brancas). O que a maioria não reconhece é que, para além do aspeto elegante que esta característica lhes atribui, esta particularidade permite que se escondam de predadores enquanto nadam.

Apesar de pertencerem ao reino das aves, os pinguins trocaram o céu pelo oceano. Utilizando as suas barbatanas rígidas, pés em forma de teia e postura elegante, estes animais percorrem a nado oceanos sem fim. Embora desfrutem da maior parte do seu tempo no mar, também usufruem da vida terrestre. Os pinguins têm uma posição vertical, pelo que se movem através de saltos ou da corrida, com os seus corpos angulados para a frente. Por vezes, para um transporte mais rápido, percorrem longas distâncias “de tobogã”, ou seja, deslizando de barriga sobre o gelo e empurrando para a frente com os pés. 

Tal como é enfatizado no filme “Happy Feet”, os pinguins possuem um sistema de comunidade invejável. Agrupando-se em colónias com milhares ou até milhões de pinguins, estes animais possuem sentidos de proteção e cooperação inimagináveis. Exemplificando, em casos de frio extremo, a colónia junta-se para se proteger dos predadores e para produzir calor.

“Happy Feet”, o filme
Fonte: “Happy Feet”/Rotten Tomatoes

Este sentimento de coletividade é também notório através do ritual de acasalamento. Contrariamente ao descrito no filme de animação anteriormente referido, os pinguins não iniciam o seu processo de reprodução através da “música do coração”. Contudo, emitem ruídos e reconhecem as chamadas de identificação dos parceiros ou membros das colónias às quais pertencem. Para além disto, são conhecidos por acasalarem com o mesmo parceiro durante um longo período de tempo – daí a noção de que os pinguins ficam “juntos para sempre”. Mais concretamente, o seu método de reprodução é relativamente simples: a fêmea coloca um ou dois ovos e, seguidamente, inicia-se o processo do seu aquecimento. Para contradizer as normas estereotipadas da nossa sociedade, o pinguim macho tende a ter a maior parte do trabalho relativamente à incubação do ovo, podendo ficar a aquecer o embrião durante aproximadamente 65 dias, sem alimento.

Reprodução dos pinguins
Fonte: iguiecologi

Embora estes animais possuam uma capacidade de adaptação inconcebível e um vasto número de qualidades, permanecem continuamente em perigo de extinção. As principais ameaças incluem: a perda de habitat, essencialmente ligada ao aquecimento global (com o aumento da temperatura, o gelo marinho derrete, pelo que estes animais perdem a sua casa terrestre, essencial para a sua reprodução); doenças e infeções espalhadas por turistas ou atividades humanas próximas; a falta de alimento relacionada com a pesca intensiva nas suas zonas de caça.

O filme “Happy Feet” desperta-nos a simpatia e empatia por estes animais. Através destas animações, encontramos uma porta direta para entender o funcionamento geral e dificuldades naturais passadas pelos pinguins. Contudo, é essencial manter em mente que os pinguins são seres reais, com desafios concretos que são gradualmente agravados e intensificados pela nossa falta de atenção e ação. A perda dos pinguins é mais do que uma tragédia isolada: é um sinal claro do colapso dos ecossistemas que sustentam toda a vida na Terra.

Fonte da capa: Paul Nicklen, National Geographic
Artigo revisto por Mariana Céu

AUTORIA

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Há 18 anos a alimentar a sua fome de aprender, Joana Santos inicia o seu percurso na ESCS no curso de Jornalismo. Desde pequena com enorme entusiasmo nas áreas de Literatura e Ciências, consegue perder-se durante horas num livro sem dar pelo tempo a passar. Curiosa e aventureira, está sempre pronta para descobrir o que o mundo tem para oferecer. Na ESCS Magazine, encontrou o espaço ideal para pôr em prática aquilo que mais a entusiasma no jornalismo: a escrita.