O Espírito Natalício e o seu impacto na Literatura
Associada a valores como a união, a esperança e a renovação, a época natalícia tem sido um cenário fértil e simbólico na literatura ocidental.
Ao longo dos séculos, diferentes autores utilizaram o Natal não apenas como pano de fundo para as suas histórias, mas como um espírito capaz de influenciar temas, personagens e atmosferas narrativas.
A literatura recorre frequentemente ao Natal para simbolizar a esperança e o recomeço. Esta época do ano promove valores como a renovação interior, a superação emocional, o reencontro com valores morais e a restauração da esperança perdida ao longo do ano.
A Christmas Carol, Charles Dickens (1943)
Provavelmente esta é a história natalícia mais famosa do mundo. A famosa obra literária utiliza o espírito natalício como ponto de partida para a transformação moral de Ebenezer Scrooge. O regresso simbólico da “luz” à vida do protagonista acontece exatamente na noite de Natal, o que reforça a ideia do renascimento e da esperança. Scrooge passa de insensível a homem solidário, graças aos três espíritos natalícios: uma clara metáfora da capacidade que o Natal tem para despertar a consciência das pessoas.

O Natal, na literatura, funciona frequentemente como um período que desperta empatia e convida à reflexão sobre as relações humanas. Isto ocorre porque é tradicionalmente visto como um tempo de reconciliação, generosidade e bondade.
The Polar Express, Chris Van Allsburg (1985)
Um rapaz, que começa a duvidar da magia do Natal, reencontra a fé e a capacidade de voltar a acreditar quando decide embarcar numa viagem fantástica ao Polo Norte. A sua relação com Billy, um rapaz excluído, tímido e solitário, constitui um exemplo claro dos efeitos do espírito natalício, que promove a empatia e uma melhor relação com os outros.
Apesar de ser uma época ligada à alegria e à união, muitos autores utilizam o Natal para expor desigualdades sociais, denunciar injustiças ou criticar comportamentos hipócritas. A celebração intensa por parte de uns contrasta com a solidão e a miséria vivida por outros.
Fonte: Savoy

Little Women, Louisa May Alcott (1868)
Mesmo quando as irmãs March têm de viver um Natal simples devido à pobreza, decidem oferecer o pequeno-almoço a uma família mais necessitada. Este exemplo mostra como o espírito natalício pode revelar injustiças, mas também gerar empatia e compaixão.

Para além disto, o espírito natalício aparece como “guardião” das tradições, das memórias familiares e da identidade cultural. Muitas narrativas natalícias evocam sentimentos de nostalgia, pertença e união.
How the Grinch Stole Christmas!, (Dr. Seuss)
Nesta obra clássica da literatura infantojuvenil, o Grinch tenta destruir o Natal de Whoville ao roubar presentes, comida e decorações. Contudo, acaba por descobrir que o espírito natalício vai além dos objetos, e nada mais é do que a união da comunidade que dá sentido à festividade.
A história reforça valores como a solidariedade, a partilha e a comunhão: características centrais do imaginário natalício.

O espírito natalício exerce um impacto profundo e multifacetado na literatura. Enquanto símbolo de renascimento, força de mudança, veículo de crítica social ou celebração da comunidade, este tema continua a ser um dos mais ricos e universais para a literatura. Através destas histórias amplamente conhecidas, percebemos como é que o Natal se transforma num poderoso espelho da humanidade, refletindo tanto as nossas virtudes quanto os nossos desafios sociais.
Assim, é possível afirmar que a literatura tanto retrata o espírito natalício como também o ajuda a construí-lo, e preservá-lo e a renová-lo.
Imagem de Capa: Wallpapers.com
Artigo corrigido por Mariana Ranha
AUTORIA
Há 18 anos a alimentar a sua fome de aprender, Joana Santos inicia o seu percurso na ESCS no curso de Jornalismo. Desde pequena com enorme entusiasmo nas áreas de Literatura e Ciências, consegue perder-se durante horas num livro sem dar pelo tempo a passar. Curiosa e aventureira, está sempre pronta para descobrir o que o mundo tem para oferecer. Na ESCS Magazine, encontrou o espaço ideal para pôr em prática aquilo que mais a entusiasma no jornalismo: a escrita.

