A Arte que “até eu fazia!”
“Agora um ponto azul numa tela branca é arte? Se fosse assim, então até eu seria artista!”. Uma afirmação proferida por muitos que muitas vezes não conseguem expandir a sua mente para abraçar novos conceitos de arte. Se é tão fácil, porque é que não o fazem?
Antes de dizermos se algo é ou não arte, é necessário investigar as motivações do artista para fazer tal obra, o conceito por detrás, as técnicas usadas e tudo o que envolve as concretizações precisas para satisfazer as necessidades do autor. Não custa nada fazer uma pequena pesquisa sobre o que estamos a “analisar” em vez de lançarmos as nossas ditas opiniões sem nexo sobre a arte apresentada.
Porque será que as mesmas pessoas que consideram as estátuas gregas, em que mal se percebe o que está a ser retratado, arte são, normalmente, as mesmas que invalidam a arte não convencional de hoje em dia? Talvez por serem artefactos, pela história do período em que foram produzidas e o que simbolizavam? Por ser algo tão antigo que se torna intocável? Se fôssemos seguir estes critérios que acabei de mencionar, porque não seria a tal pintura do ponto azul localizada no meio de um museu com um vidro a protegê-la considerada arte? Por ser “fácil de fazer”? Porque “até uma criança faria aquilo”? Porque “demora pouco tempo a ser realizado”?
É triste pensar no que as emoções podem fazer às pessoas, neste caso podemos pegar como exemplo a inveja conjugada com a raiva. O indivíduo desvaloriza o trabalho de um artista porque, segundo ele, não tem nada de especial e qualquer um poderia ter feito a mesma coisa. Inveja, portanto. No caso da raiva, o sujeito fica chateado devido à quantidade de dinheiro que a obra está a render. O mesmo vai achar injusto, porque pensa que a quantidade de trabalho que ele tem não chega nem aos calcanhares da obra produzida.
Podemos considerar como características para definirmos algo como arte o tipo de experiência sensorial que é despertada no espetador, as informações estéticas, se é ou não produzida manualmente, as características da época e do movimento artístico da obra, a atração da atenção do público, a narrativa, o tempo que a mesma demorou para ser feita, entre outras. Digamos que o tema, a forma e o conteúdo são as mais importantes e o ponto, a linha, a forma e a cor são os principais elementos visuais de uma obra de arte.
Kazimir Malevich é um dos artistas que tem como algumas obras pinturas que muitos não consideram ser dignas de tal atenção. Observemos a obra abaixo.
Fonte: Black Square and Red Square, 1915 (Kazimir Malevich) – Wikiart.org
Fonte: Black Square, 1915 (Kazimir Malevich) – Wikiart.org
Ao observarmos, pensamos: “UAU, formas geométricas num fundo esbranquiçado. Muito original, porque raios é isto arte, a valer tanto?”. O que muitos não sabem ou não querem ter o trabalho de saber é que Malevich foi um artista que causou uma rutura na arte figurativa e diversos artistas foram influenciados por esta ação de “afronta”. Kazimir, no seu livro O mundo sem objeto, descreve a principal motivação para realizar a pintura apresentada acima à direita: “Eu sentia apenas noite dentro de mim, e foi então que concebi a nova arte, que chamei suprematismo.”.
O artista recusava-se a acreditar na arte como uma fantasia e as suas pinturas são o reflexo disso, o uso radical das formas geométricas e cores planas. A sua arte é considerada uma precursora do minimalismo e Kazimir é considerado o criador do Suprematismo. A partir deste movimento artístico (minimalismo) foi expandida a ideia minimalista de uma maneira mais filosófica, o que, por sua vez, teve efeito no estilo de vida das pessoas, no vestuário e na decoração, onde os “produtos” eram sintetizados de forma a focar apenas no seu essencial, no sentimento puro e na espiritualidade, numa pura visualidade plástica. Resumindo isto, um dos critérios que também pode ser considerado é a existência de uma revolução por detrás da história da respetiva arte.
Outro exemplo de ignorância da população é a sua primeira reação ao surgimento do dadaísmo, uma corrente artística que retirava objetos do quotidiano e os transformava em arte.
Fonte: Fountain, 1917/1964 (Marcel Duchamp) – SFMOMA
Marcel Duchamp foi duramente criticado pela sua forma de arte que provocava os conceitos de arte da época. Os dadaístas tinham como principal objetivo alterar o conceito tradicional de arte e defender a imperfeição e o caos. Esta obra é um exemplo claro disso.
A arte é o mundo dos pensamentos concretizado numa forma material, seja através de música, filmes, esculturas, entre outras, e para entendermos o seu conceito é preciso sair da caixa e entender a história por detrás, sem julgar com base na ignorância.
Foto de destaque: Piet Mondrian
Artigo corrigido por: Beatriz Morgado
AUTORIA
A Inga está no primeiro ano de licenciatura em Audiovisual e Multimédia. É uma amante de todas as formas de arte, desde música, cinema e televisão até exposições, teatro e artes plásticas. O seu envolvimento com a escrita sempre foi uma constante na sua vida, e ela sempre adorou dar a sua opinião sobre os diversos assuntos que rondam o mundo. Sempre que tem uma ideia, não hesita em anotá-la, esteja onde estiver. O enriquecimento cultural e o contributo para o seu desenvolvimento pessoal são algumas das razões pelas quais compartilhará as suas ideias na ESCS Magazine, juntamente com a sua habilidade para organizar seja o que for.