Todos nós temos o desejo de viver dentro de um filme da Disney, em que tudo é perfeito e nada é impossível. Um deles é Peter Pan, um filme intemporal em que três crianças são levadas pelo herói das suas histórias para a Terra do Nunca.

As Aventuras de Peter Pan é um filme de animação lançado no ano de 1953 pela Walt Disney. O filme foi dirigido por Clyde Geronimi, Wilfred Jackson e Hamilton Luske, e é baseado na peça teatral Peter and Wendy, da autoria de James Matthew Barrie. A história gira em torno de um menino, Peter Pan, que se recusa a crescer. Mora na Terra do Nunca, uma terra imaginária onde vive também a fada Sininho e o temido Capitão Gancho.

Neste Natal, foi possível voltar a sentir a magia de Peter Pan no musical O Peter Pan no Gelo, no anfiteatro da AM Arena, no Alegro Alfragide. O espetáculo contou com nomes bem conhecidos do público: o cantor Miguel Cristovinho, a youtuber Mafalda Creative e a atriz e cantora Irma. O espetáculo parte de uma história conhecida pelo público e adapta-se aos tempos modernos. “A ideia é exatamente criar um universo à volta daquela história, mas que seja uma história original e que te leve por um caminho específico. Neste caso, a nossa prioridade era dar voz aos direitos das crianças”, clarifica Ana Queirós, escritora da peça. O musical conta ainda com a direção artística e encenação de João Artur Guimarães, música de Artur Guimarães e coreografia de Joana Quelhas.

A escrever também se aprende

Ana Queirós começou por estudar teatro e fazer os seus primeiros trabalhos no ramo da representação, sem nunca pensar que se iria cruzar com a escrita. Foi no fim do curso que o diretor musical lhe sugeriu que fosse a própria a escrever o texto do seu projeto final, que viria a ser apresentado no Teatro Rivoli, no Porto. Além de ser bem-sucedida enquanto atriz, Ana Queirós tem colaborado com algumas empresas responsáveis pelos musicais no gelo, nomeadamente o AM Arena. Escrever uma peça é uma tarefa árdua e exigente. Um dos desafios que os autores enfrentam passa por encontrar a melhor maneira de cativar o público. “Primeiro, nós devemos saber para quem estamos a escrever. Eu escrevo às vezes peças para um universo escolar, portanto sei que escrevo para uma pré-primária ou um primeiro ciclo. Nos musicais no gelo, sei que são espetáculos que vendem para todas as faixas etárias. Sei que construo um espetáculo que as crianças têm de gostar, porque é feito para eles, mas devo cativar também os pais, para que também eles sintam a magia do espetáculo”, esclarece a autora d’O Peter Pan no Gelo. Ana Queirós foi crescendo como atriz, a par com o crescimento enquanto escritora. “Enquanto atriz, a escrita ajudou-me a encontrar soluções em cima do palco e a respeitar a escrita do outro”, remata.

A simbologia da Terra do Nunca

O Peter Pan no Gelo propõe-se a marcar pela diferença, num espetáculo em que a magia da história permanece, mas outros aspetos são diferentes do filme original. Enquanto n’As Aventuras do Peter Pan o Capitão Gancho é o homem que tem o poder no navio, no musical da AM Arena existe uma avó, que acaba por ser a cabecilha de toda a rede. A verdade é que o Capitão Gancho (Miguel Cristovinho), acaba por ser desautorizado muitas vezes pela própria avó, estando esta sempre a ameaçar bater-lhe com um bacalhau (chegando, algumas vezes, a vias de facto). Este adereço acaba por ser responsável pelas maiores gargalhadas durante o espetáculo.

Os tempos mudam, mas a verdade é que a Fada Sininho (Irma) não perdeu os ciúmes do seu Peter Pan (Samuel de Albuquerque), algo que se assemelha ao filme, o que vai deteriorando a relação entre as duas personagens ao longo da peça. Peter Pan aproxima-se de Wendy (Mafalda Creative), ignorando a Fada, que tudo faz por ele. Ainda assim, Sininho protege Peter do perigo, colocando-se entre a vida e a morte. É um momento que começa por ser triste, mas que se torna um momento de união entre os espetadores e faz as crianças sentirem a força do acreditar. “De repente, vês uma plateia de 1000 pessoas a gritar que acredita em fadas para acordar uma fada. Isto é completamente mágico e emocionante”, destaca Ana Queirós.

O espetador é convidado a abrir as portas da Terra do Nunca, mas o objetivo da autora não passa apenas por retratar o local onde vivia o Peter Pan: “A Terra do Nunca é muito mais do que um sítio onde vive o Peter Pan. Todos nós temos a nossa Terra do Nunca, para onde queremos ir, em vários momentos da nossa vida. Quando vemos um musical infantil, permitimo-nos sonhar”. A verdade é que, tanto este como outros musicais apresentados na época natalícia, acabam por carregar consigo uma mensagem em comum: de esperança, de magia e, acima de tudo, de sonhar.

Voar passa por acreditar 

Anos depois do lançamento do filme, assistir a O Peter Pan no Gelo faz-nos recuar no tempo e rever os ensinamentos importantes que a história original contém. Tendo como base os direitos das crianças, Ana Queirós começou por escolher alguns deles para serem trabalhados de uma forma mais específica, nomeadamente o direito de ser criança e o direito de não trabalhar.

O musical pretende transmitir a ideia de que, para “voar”, basta confiarmos em nós próprios e acreditar. Não se trata apenas de voar nos sonhos, trata-se de voar nos pensamentos. Aliás, O Peter Pan no Gelo termina com um momento musical, em que são recapitulados todos os ensinamentos que a história carrega consigo. Mais do que isso, os atores têm uma interação com o público, para que estes sintam verdadeiramente que a mensagem lhe é transmitida.

“Sinto-me feliz e realizada com este projeto. Os atores fizeram um excelente trabalho em pegar nas minhas palavras. São só palavras, estão escritas numa folha e são eles que tornam o espetáculo enorme”, remata Ana Queirós.

O AM Arena é responsável por lançar dois musicais anualmente: no ano de 2023, Lisboa recebeu O Peter Pan no Gelo, enquanto o Porto recebeu O Aladino no Gelo. Resta saber quais serão as próximas histórias da Disney escolhidas, de que forma serão recriadas e quais os ensinamentos que carregam consigo.

Fonte da capa: Instagram peterpannogelo

Escrito por: André Meireles

Artigo revisto por: Inês Gomes