Opinião

A epidemia silenciosa do século XXI

É na sombra da vida quotidiana que uma epidemia se vai alastrando silenciosamente, afetando milhões de pessoas sem que elas se apercebam. O sedentarismo tornou-se parte da rotina de uma sociedade cada vez mais tecnológica e conectada, mas, ao mesmo tempo, paradoxalmente, mais distante. Se antes o movimento era uma necessidade para a sobrevivência, hoje o comodismo é o novo padrão. Mais do que um problema de saúde pública, a inatividade física e mental têm-se vindo a tornar num mecanismo eficaz de passividade social, tornando as pessoas mais conformadas e menos inclinadas a  questionar o sistema. 

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Nunca foi tão fácil evitar o esforço. Se tivesse de escolher um nome para dar à nossa era, seria a era da praticidade. Onde tudo está ao nosso alcance. Desde a entrega de comida ao domicílio até ao consumo desenfreado de entretenimento digital, vivemos numa era onde a conveniência nos impede de sair da zona de conforto. No entanto, essa facilidade também gera uma população mais suscetível à manipulação. Afinal, quando o esforço se torna desnecessário, o pensamento crítico e a procura por mudanças também ficam em segundo plano.

Uma população pouco preocupada é o cenário ideal para os líderes políticos, que preferem governar sem resistência. O sedentarismo e a manipulação andam de mãos dadas. Quando a maioria das pessoas está mais preocupada com distrações do que com o rumo do seu próprio país, abre-se espaço para decisões políticas que passam despercebidas ou são aceites sem questionamento.

O aumento da dependência de sistemas automatizados e o enfraquecimento da vida comunitária reforçam essa dinâmica. Com menos interação e debate real, as pessoas deixam de se envolver ativamente nas questões que afetam as suas vidas, tornando-se espectadores de um jogo político no qual já não se sentem participantes.

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É preciso remar contra a corrente.

Não se muda o mundo com pessoas que se acomodam e deixam de procurar saber mais, estudar mais e informar-se mais. A informação fidedigna é a base para um sistema democrático e equilibrado, mas é preciso saber procurá-la e, sobretudo, não ter preguiça de o fazer. Sem ela, seremos cada vez mais marionetas num sistema cíclico criado por quem tem cargos superiores. O sedentarismo é uma epidemia como tantas outras que surgiram nos últimos anos, é preciso tomar uma atitude em relação a ela, e essa atitude começa em cada um de nós. Se cada pessoa tomar a responsabilidade de todos os dias contornar um pouco mais o sistema, por estar informada sobre os assuntos e não se deixar levar por “lenga-lengas”, viveremos numa sociedade mais equilibrada, mais preparada e muito menos controlada e manipulada. 

É preciso mudança, e ela só existirá se cada um de nós se comprometer a isso.

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Revisto por Liliana Braz