Literatura

A imortalidade da Literatura Gótica

A Literatura Gótica é um género de ficção que surgiu para explorar o lado mais sombrio da imaginação humana, e durante séculos conquistou milhares de fãs com a sua atmosfera sombria, personagens horripilantes e histórias relacionadas com o sobrenatural. Desde o século XVIII, quando nasceram as primeiras narrativas de terror ambientadas em tempos medievais, até aos dias atuais, em que o gótico se reinventa em filmes, séries e jogos, continua a provocar emoções intensas e reflexões profundas sobre a natureza humana.

O termo “gótico” foi inicialmente usado para se referir apenas à arquitetura medieval, caracterizada pelas catedrais imponentes, arcos pontiagudos e uma atmosfera quase sobrenatural. O género literário gótico surgiu na segunda metade do século XVIII, quando as grandes mudanças na racionalidade e na ciência permitiram que os escritores passassem a explorar temas como o medo, o mistério e a irracionalidade. A obra inaugural deste género foi O Castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole. Nesta obra, estão presentes os elementos medievais e a atmosfera de terror psicológico, características que se tornaram importantes para o género.

Já no século seguinte, a literatura gótica desabrochou com autores que ampliaram os seus limites e deram uma dimensão psicológica às histórias, como é o caso de Mary Shelley, com Frankenstein (1818), que criou uma das histórias mais memoráveis e icónicas deste género, juntando a ciência e o horror existencial à tragédia. Edgar Allan Poe, por sua vez,utilizao terror psicológico, mostrando que o verdadeiro terror nasce dentro da mente.

Fonte: Pinterest

Em contos como O Gato Preto e O Coração Delator, o medo é introspetivo, revelando a culpa, a obsessão e a loucura. Outro autor muito conhecido e lembrado por este género é Bram Stoker, autor de Drácula (1897), que ajudou a estabelecer a figura do Vampiro Moderno, símbolo de desejo, sedução e medo reprimido. Outras obras que também marcaram este estilo literário foram: O Monge (1796), de Matthew Lewis, Rebecca, de Daphne du Maurier, e O Monte dos Vendavais, de Emily Brontë.

O género reinventa-se de várias maneiras no período contemporâneo. Obras como Coraline, de Neil Gaiman, Entrevista com um Vampiro, de Anne Rice, e Assombração da Casa da Colina, de Shirley Jackson, continuam a explorar o terror psicológico e o sobrenatural. Há também um renascimento do gótico feminino, em que as escritoras passam a abordar temas como opressão, traumas e identidade dentro de atmosferas sombrias, revelando a luta contra as estruturas patriarcais dentro de ambientes claustrofóbicos, mostrando que o terror social é tão sufocante quanto o sobrenatural.

O gótico também se expandiu para outras formas de entretenimento. No cinema, filmes como Nosferatu (1922), A noiva cadáver (2005) e Elvira, Senhora das trevas (1988) deram mais força e visibilidade a este género. Ainda neste campo, realizadores como Guillermo del Toro e Tim Burton também perpetuam o estilo visual gótico em obras como A Colina Escarlate ou Edward Mãos de Tesoura, combinando melancolia, romance e horror. Nas séries, produções como Penny Dreadful, A Maldição de Hill House e Wednesday resgatam a Estética Vitoriana e o clima de mistério para o público contemporâneo. Já nos videojogos, o gótico ganhou forma interativa em títulos como Bloodborne, Castlevania e Dark Souls, que abordam a atmosfera decadente e a luta contra o medo em experiências imersivas.

Em relação ao Halloween, as tradições celebram o contacto com o desconhecido, o prazer estético do medo e a beleza do macabro. Os ícones mais reconhecidos da data, como Vampiros, Fantasmas e Bruxas, nascem diretamente da imaginação gótica. No Halloween, a literatura gótica ganha nova vida: os leitores revisitam Drácula, Frankenstein e O Coração Delator para redescobrir o poder simbólico do medo. A data transforma-se num tributo moderno ao gótico, onde o riso e o horror coexistem e o sombrio se torna celebração.

A Literatura Gótica é um espelho das emoções humanas mais intensas. Revela que o medo não é apenas algo a ser evitado, mas também algo a ser compreendido. É uma força estética que nos confronta com os nossos próprios temores. Desde o castelo do Conde Drácula até às séries da Netflix, o gótico continua vivo, reinventando-se sem perder a sua essência: a de transformar o horror em arte, a escuridão em beleza e o medo em reflexão.

Quando chega o Halloween e as luzes diminuem, é o espírito gótico que desperta, lembrando-nos de que há poesia até nas sombras.

Imagem de Capa: O Futuro das Coisas

Artigo revisto por Mariana Ranha e Eva Guedes

AUTORIA

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Ana Luiza, 19 anos, é estudante de Relações Públicas e Comunicação Empresarial do Pós-laboral. Apaixonada por literatura, moda e história, encontra na escrita uma forma de expressar sua curiosidade e sensibilidade. Entre livros, doces e massas, busca inspiração nas pequenas coisas que tornam a vida mais leve e significativa.